Hoje é Lua Cheia!
Clotilde Tavares | 9 de maio de 2009Para quem tem 1/3 de natureza lobisomem como eu, a noite de Lua Cheia sempre é cheia de significados. A “natureza-lobisomem” é aquela vontade de virar uma coisa diferente e sair por aí, sozinha, enfrentando o desconhecido, atrás de gente, de agitação, de aventura, “lobisomando”, coisa que acontece mais nas noites de Lua Cheia.
Quando eu era mais jovem, a noite de Lua Cheia sempre era cheia de expectativa, de excitação, sempre havia uma festa boa para ir, gente para conhecer, música para dançar. Hoje ainda tem tudo isso mas a lobisoma aqui está na terceira idade e não tem mais tanta disposição para a caça.
Herdei essa natureza-lobisomem da minha mãe, como você pode ver no trecho abaixo, que pincei diretamente do texto que estou escrevendo sobre minhas recordações de infância. As ilustrações são todas com fotos de Lua Cheia, que recebi um dia desses pela Internet.
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” Uma das coisas que eu mais gostava no meu tempo de menina era de ouvir as histórias contadas sobre o tempo em que Mamãe era jovem, era criança, e morava na fazenda. A fazenda ora era a Broca, em Angelim, no Agreste de Pernambuco, ora era Boqueirão, em Caraúbas, no Cariri Paraíba. As histórias, as personagens, excitavam minha curiosidade e me lembro de que queria muito saber quem eram essas pessoas de quem Mamãe falava. Falava-se em tia Emília e eu perguntava:
– Tia por que?
– Porque era irmã de papai – ela respondia.
E eu ia compondo o quadro. Pepedro, pai de Mamãe, irmão de tia Emília, de tio Bebiano, de tio Azarias…
Aí Mamãe dizia:
– Não, tio Azarias não era irmão de papai, era irmão de meu avô Teotônio.
– E o irmão do avô também é tio, Mamãe?
– É – respondia ela. E explicava: – Tio-avô.
– E o que Madrinhadal é da senhora, Mamãe?
– É minha irmã mais velha. O nome dela é Adalgisa, mas a gente chama Adal. Madrinha Adal. Ela é sua tia. É minha irmã e é também minha madrinha porque como eu sou a sétima filha tive que ser afilhada da mais velha para não virar lobisomem.
– E as pessoas viram lobisomem? – perguntava eu.
– Viram sim!
E a voz de Mamãe ganhava um tom sério, dramático, quase religioso.
– Na noite de Lua cheia a pessoa vai dormir e no outro dia acorda todo suja de lama, de terra, cansada, não se lembra de nada. É que virou lobisomem de noite, e passou a noite correndo pelos matos. Mas só quem vira é o sétimo filho…
– E a senhora nunca virou?
– Não! Eu não já disse a você que sou afilhada de Madrinha Adal? Não tem o menor perigo.
– E eu vou virar lobisomem também?
– Oxente, menina! Não vai não. Você é a mais velha…
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Por aí você vê, meu caro leitor, que eu não poderia ser normal mesmo, criada nessa fina linha invisível entre o Mundo Real e o Mundo Imaginário, confundindo os dois de tal forma que até hoje me atrapalho sobre em qual dos mundos estou vivendo.
Amanhã estou de volta.