Um milagre no Corcovado
Clotilde Tavares | 20 de maio de 2009Uma amiga me contou um dia desses uma história espantosa e, mais do que espantosa: verdadeira. Foi assim: um espanhol veio muito jovem para o Brasil, no início da década de 1930, para tentar uma vida nova. Aos vinte anos, chegado a este país, radicou-se no Rio Grande do Sul. Digamos que se chamasse Juan Rodriguez, nome que aportuguesou logo para João Rodrigues, para facilitar sua vida e se adaptar melhor ao novo país.
Sentia saudades dos pais, e dos irmãos que havia deixado pequeninos, mas era jovem, e logo se envolveu na vida do trabalho, arrumou namorada, casou e perdeu o contato com a família que havia ficado na distante terra espanhola.
Aí, um belo dia, depois de uns vinte anos no Brasil, já com dinheiro sobrando para viajar e fazer turismo, empreendeu a realização de um velho sonho, que era conhecer o Rio de Janeiro, cidade que ele achava a mais bela do mundo. Viajou com a família, hospedou-se na casa de um compadre e num dia em que a mulher foi fazer compras e as filhas foram ao cinema, ele resolveu ir ver de perto o Cristo Redentor. Lá em cima, deslumbrou-se com a paisagem espetacular, tomou um sorvete e veio voltando, descendo a escadaria. Cansado, sentou-se em um banco no meio da descida, onde duas jovens senhoras também estavam tomando um fôlego antes de continuar a subida. E começaram a conversar.
Elas disseram que eram turistas espanholas que ali estavam, e ele imediatamente começou a gabar as belezas do Rio e a indicar-lhe locais turísticos para visitar. Elas disseram que não, que não iram demorar no Rio, porque estavam de viagem para Porto Alegre. Ele ficou espantado. Fazer o quê em Porto Alegre, quando poderiam demorar no Rio, uma cidade tão mais bela? Ele mesmo morava em Porto Alegre e sabia do que estava falando: não havia melhor lugar do que o Rio de Janeiro para passear e ver coisas bonitas. Nós vamos procurar uma pessoa, disse uma delas. Um irmão nosso, que deixou a Espanha há tempos, e que se chamava Juan Rodríguez. Só temos o nome dele mas temos fé em Nossa Senhora que vamos encontrá-lo. Nossa mãe, que já é velhinha, nunca deixou de ter esperanças de vê-lo outra vez.
O resto, meu caro leitor, você já adivinhou. Nossa Senhora, para poupar trabalho e dar prazer a todos, reuniu a família depois de vinte anos a meio caminho do lugar onde seu santo filho toma conta do Rio. Ali, sob os braços abertos do Cristo, as doces menininhas que havia ficado na Espanha há vinte anos, agora adultas, abraçaram o irmão mais velho, reconhecendo no homem vivido, de meia-idade, o jovem que havia deixado a casa paterna há tanto tempo.
Uma história bonita, pra gente ficar feliz e não perder a fé nos milagres.