Vergonha e medo
Clotilde Tavares | 11 de novembro de 2009Nunca falo em assuntos locais, ou seja, assuntos que têm a ver somente com a cidade em que moro, Natal-RN. É uma pena, pois é uma cidade pródiga em fatos e notícias interessantes, acontecimentos surreais – a maioria deles protagonizados pelos homens e mulheres que estão no Poder – e tudo aquilo que os ceresumanos vivem aprontando nas calçadas à beira-mar ou nas alamedas dos shoppings. Fiz essa opção porque o meu objetivo é ter leitores de todas as partes do Brasil e quiçá do planeta Mundo. Aí, opto por temas mais gerais.
Mas hoje há uma assunto que extrapola o nível do local porque mostra como as pessoas se relacionam com o meio eletrônico. O tema é exemplar e se aplica a muito do que acontece por aí. Vejamos. Os políticos, como todo mundo, estão usando o twitter. A Governadora do Rio Grande do Norte @wilmadefaria e a Prefeita de Natal @micarladesousa têm twitter, no qual postam com regularidade, informando sobre reuniões, providências, eventos, solenidades e respondendo a pessoas. Eu acho isso muito legal, embora alguns twitteiros duvidem de que sejam elas mesmas a escrever. E daí? Eu não acho nada demais elas terem assessores para fazer isso. Não acredito que a Governadora do meu estado ou a Prefeita da minha cidade tenham tanto tempo ocioso assim para ficar twittando de instante em instante. E como o twitter é uma ferramenta de comunicação muito ágil, penso que é preciso ter uma pessoa bem especializada para fazer isso, principalmente para não comprometer a imagem pública de um governante com alguma tirada fora do contexto.
Mas há alguns políticos que, por terem egos desmesurados ou por serem estúpidos mesmos twittam eles próprios. E não sabem como o twitter funciona, ou parece que não sabem. Pensam que é uma espécie de MSN, onde as conversas ficam restritas somente a quem escreve e quem lê. Você acredita, meu caro leitor do planeta Mundo, que um vereador da minha cidade, indo para o velório de um radialista morto em cidade vizinha, twittou a seguinte pérola: “Tou indo pra Mossoró enterrar uma bicha q morreu era antiga no rádio virou purpurina”.
Um jornalista atento, que segue o dito vereador no twitter, leu a aberração e publicou no seu blog. O cara soube e no mesmo twitter respondeu ao jornalista em termos desrespeitosos de tal forma que não vou reproduzir aqui. Aí foi o que se vê: Deus-e-o-mundo leu e repassou, ou “retuitou” uns para os outros e o caso ficou notório. O tal vereador se desculpou com o jornalista aqui. Mas a presepada já estava feita.
Eu não identifiquei as pessoas porque não me interessa a questão pessoal, embora a nível local ela seja pertinente, pois o vereador foi simplesmente o mais votado da última eleição e é candidato a senador – pra vocês verem como andam as coisas na política desta ensolarada capital do Rio Grande do Norte. Você, querendo saber, é só seguir os links do parágrafo anterior.
O que é exemplar nesse episódio é o despreparo das pessoas em todos os níveis, incluindo as pessoas públicas – algumas – inclusive para lidar com mídias eletrônicas como o twitter. E o pior é que pessoas assim estão ocupando cargos, e ameaçam subir cada vez mais, tendo nas mãos decisões importantes que afetam a sua e a minha vida, meu caro leitor. Escrevo isso para o planeta Mundo tomar conhecimento, e sei, infelizmente, que isso não acontece só neste meu estado, mas em muitos lugares desse nosso tão combalido país, quando se trata de Ética e de Humanidade. Tenho duas sensações num episódio desse: Vergonha. E Medo.
Sobre o tema, leia mais essa aqui, do jornalista Patricio Jr.