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A festa perpétua

Clotilde Tavares | 17 de dezembro de 2009

Hoje em dia, para onde a gente se vira tem festa. Só de carnaval fora de época há dezenas pelo Brasil afora, coordenados de tal jeito que a data de um não coincide com a do outro, para que toda a estrutura que põe esse moinho para funcionar, e que é a mesma – cantores, produtores, bandas, montadores de arquibancada, comerciantes – possam ir se mudando de um lugar para o outro. Além dos festejos de um Momo extemporâneo, tudo hoje é motivo para festa, e essa festa parece que só tem graça se contar com a participação de milhares de pessoas, contabilizadas no outro dia pelos jornais e tomadas como parâmetro para o sucesso do evento, ou melhor, mega-evento.

Toda festa hoje, qualquer que seja ela, aspira a ser “mega”. A cada semana repetem-se as comemorações onde é obrigatório o apelo às multidões, embaladas pela música amplificada a limites insuportáveis. É o aniversário do bar, o dia da padroeira, a confraternização da empresa tal, a caminhada contra a hipertensão, o passeio da terceira idade, a procissão da paz.

Mas qual é a função da festa? Nas sociedades arcaicas, a festa constituía um momento único de subversão da ordem, um espaço salutar onde se podia fazer tudo aquilo que normalmente não era permitido, atuando como válvula de escape das tensões sociais. As festas eram ritualizadas, obedecendo a procedimentos, a regras, a ações e a comportamentos repletos de significado e encerravam tanto o aspecto de serenidade cerimonial como tinham espaços próprios para a liberação da violência e do imaginário. Algumas comemorações atuais ainda conservam esses traços, como a Semana Santa, por exemplo, onde há todo o culto ao mito da Morte e Ressurreição, cheio de unção e reverência, ao lado da morte do Judas, da queima do Mal, onde a violência e o deboche correm soltos.

Nestes tempos atuais do mega-evento e da indústria da festa esse sentido ritual da celebração se perdeu e vivemos numa festa contínua, perpétua, “cheia de som e fúria”, talvez para não termos tempo de encarar os nossos problemas, que vão desde a violência e a intolerância coletivas até a solidão e a infelicidade individuais.

Como participar de uma festa que deveria ser uma ruptura, um desvio da norma mas que se torna quase uma obrigação, uma imposição social? Tente ficar em casa e não participar dos mega-eventos propostos a cada semana: você suscitará a desconfiança e a preocupação do seu grupo, que imediatamente vai julgá-lo deprimido ou com algum problema.

Vivemos nesse cotidiano onde vale tudo, onde tudo é permitido, onde não há limites; quando a festa chega, e chega a intervalos cada vez menores, nada mais temos para liberar, e sobra muito pouco para transgredir. Nessa festa contínua, na qual somos impelidos pela mídia a participar, ficamos tão ansiosos pela diversão que precisamos do ruído atordoante dos trios elétricos para abafar o grito desesperado do nosso coração, solitário e faminto de amor. Nessa festa perpétua, o riso está à beira da morte, a alegria senta-se na cadeira elétrica dos decibéis e a espontaneidade falece no limite dos abadás.

(Esse texto foi escrito há alguns anos, quando amigos preocupados sugeriram que eu estivesse deprimida por não estar afim de participar de um fuzuê desses).

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festa, mega-evento, rave
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Formosa és

Clotilde Tavares | 15 de dezembro de 2009

Quando a gente vai chegando na meia-idade, e começa a se aproximar daquilo que supomos ser a viagem derradeira – digo supomos porque quem sabe se depois dessa ainda não haverá outras viagens, outras passagens? – começa a haver uma necessidade de passar as coisas a limpo, de pegar o rascunho da vida e dar-lhe forma e essência, conteúdo e continente, aparar os excessos, enxertar sentido naquilo que ficou vago, preencher as lacunas. Isso, penso eu, é uma tarefa feita mais para nós mesmos do que para os outros.

Então nesta semana, concluí e lancei – lançar no sentido de publicar, entregar ao público – mais um livro, disponível para download gratuito pela Internet.

Desta vez é o “Formosa és: memórias do internato”, texto que venho escrevendo desde junho deste ano, para que não se perca na memória essa fase da minha vida. Fiquei interna por dois anos, entrando com oito anos e saindo ao completar dez, no Colégio Nossa Senhora do Bom Conselho, na cidade de Bom Conselho, no Agreste pernambucano.

Os acontecimentos narrados no livro se passaram há 55 anos, tendo sido já depurados pelo filtro do tempo e da maturidade. Foi ruim? Foi bom? Digo somente que foi uma experiência, que deixou marcas. Mas é bom quando a gente pode se debruçar sobre o passado e ajustar contas com ele, fechando arquivos que estavam abertos e “desfragmentando” esse imenso HD a que chamamos memória.

Não tenho planos de fazer o livro em papel. Nem ele, nem os que pretendo ir lançando pelo mesmo método, à medida em que os for preparando. Afinal, o desejo do escritor é ser lido; se você mandar imprimir as cerca de 150 páginas do volume, terá gasto praticamente os mesmos 30 reais que pagaria  pelo livro impresso – ou menos. De quebra, eu me livro da noite de autógrafos, na qual estou sempre tão aterrorizada que mal sei o que estou dizendo a cada uma daquelas pessoas tão gentis que compram o livro e querem minha assinatura.

Então, aí vai o endereço: http://www.clotildetavares.com.br/formosaes.pdf

E para quem está curioso, o “Formosa és” do título é de um belíssimo hino a Nossa Senhora, tema musical daqueles dois anos que passei interna: “Formosa és, Rainha Imaculada,/ Fragrante lis, aurora divinal./ Se os olhos meus um dia te olvidarem, / Ó Mãe, então, recorda-te de mim.// Quero morrer cantando os teus louvores, / Qual rouxinol que expira ao pôr-do-sol. / Quando partida a minha pobre lira,/ Te cantará meu triste coração.”

Sou uma pessoa religiosa que não tem religião, e esse hino sempre consegue me transportar para as altas esferas, onde cantam os anjos e ainda ecoa a minha voz de menina.

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Comportamento, Cultura, Memória
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Bom Conselho-PE, Colégio Bom Conselho, Formosa és, internato, memorias do internato
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A protetora dos olhos

Clotilde Tavares | 14 de dezembro de 2009

Hoje, meu caro leitor, 14 de dezembro, é meu aniversário. A data me dá muita alegria, uma vez que estou viva, com saúde, em boa forma física, escrevendo e produzindo idéias no meu ritmo costumeiro, ou seja, a todo vapor. Mas como vivo falando de mim e todo mundo já sabe quem eu sou, hoje quero falar mesmo de outra pessoa, vizinha de data, e de quem por pouco não recebi o nome se tivesse nascido no dia 13. Refiro-me a Santa Luzia, a santinha de Siracusa, cruelmente martirizada pelo imperador Diocleciano.

A história está toda lá, na “Legenda Aúrea”, esta maravilhosa obra medieval editada em português pela Companhia das Letras. O livro conta a história de mais de 170 santos e foi escrita no século XIII pelo monge Jacopo de Varazze, chegando a ter mais edições do que a Bíblia e servindo de fonte de inspiração para milhares de sermões ao longo de séculos. Outra fonte de informações sobre Santa Luzia, no aspecto da tradição popular, é Câmara Cascudo, no seu Dicionário do Folclore Brasileiro.

Luzia, ou Lúcia, nasceu em Siracusa, Sicília. sendo de origem nobre, tornou-se cristã e resolveu consagrar sua vida a Deus, fazendo voto de  castidade e distribuindo seus bens aos pobres. O noivo, ofendido e irritado pela dilapidação da fortuna que um dia seria sua, levou-a à Justiça. O cônsul Pascácio foi o seu algoz, tentando fazer com que ela renegasse sua fé e oferecesse sacrifícios aos deuses pagãos, ameaçando-a com suplícios inenarráveis, queimando-a com fogo e óleo fervente e por fim degolando-a a fio de espada.

A tradição retarata a  jovem com vestes vermelhas, um manto verde, a palma do martírio e uma salva onde estão seus dois olhos, que ela própria teria arrancado para enviá-los a um homem que os elogiara, sacrificando sua vaidade pessoal e buscando com isso afastar os homens que pretendiam o troféu da sua virgindade. É a defensora dos olhos e invocada na doença desses órgãos. Tira qualquer tipo de argueiro e aos seus devotos promete uma boa visão até mesmo em idade avançada.

Curioso é que uma santa tão boazinha dê nome à terrível palmatória de castigo escolar e doméstico, denominada “Santa Luzia dos Cinco Olhos”, em alusão aos cinco furos da palma. Essa denominação é de origem portuguesa como explica Conceição Barros, na sua tese de mestrado em História da Educação, realizada na Faculdade de Letras da Universidade do Porto: ‘Este objecto de madeira era constituído por um cabo que terminava numa forma circular com cinco pequenos furos dispostos em cruz. A cruz fará alusão à cruz de Cristo e os cinco buraquinhos parecem representar os cincos sentidos corporais’.

No dia dedicado à Santa Luzia, 13 de dezembro, não se caça nem se pesca. Ainda segundo Cascudo, em história que lhe foi contada pelo pescador Chico Preto, um outro pescador irreverente , sem respeitar a tradição, resolveu pescar nesse dia: ao recolher a rede, achou-a cheia de peixes cegos que foram lançados de volta ao mar pelos pescadores aterrorizados. Ao chegar à agua, os peixes recobraram a visão, nadando para longe.

Durante muito tempo, na minha infãncia, a imagem da santinha era a última coisa que eu via antes de adormecer, em um quadro colocado de frente para a minha cama. Não recebi o nome, mas recebi a tradição e quem sabe por intercessão de Santa Luzia , a quem dediquei minhas rezas inocentes de criança é que eu tenho hoje esses olhos tão ativos, tão curiosos, tão videntes das coisas desse mundo e de quantos outros mundos existam por aí.

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palmatória, Santa Luzia
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A solidão e sua porta

Clotilde Tavares | 13 de dezembro de 2009

A SOLIDÃO E SUA PORTA

Poema de Carlos Penna Filho

Quando mais nada resistir que valha
a pena de viver e a dor de amar
e quando nada mais interessar
(nem o torpor do sono que se espalha),

quando, pelo desuso da navalha
a barba livremente caminhar
e até Deus em silêncio se afastar
deixando-te sozinho na batalha

a arquitetar na sombra a despedida
do mundo que te foi contraditório,
lembra-te que afinal te resta a vida

com tudo que é insolvente e provisório
e de que ainda tens uma saída:
entrar no acaso e amar o transitório.

Achei a imagem aqui.

O poema, achei no livro “Os melhores Poemas” – Global Editora – 1983

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A solidão e sua porta, Carlos Penna Filho
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Nós podemos

Clotilde Tavares | 12 de dezembro de 2009

Tenho uma amiga, Denize Barros, designer gráfica pernambucana radicada em São Paulo, cheia de ideias bacanas e que faz bolsas tão lindas que você nem imagina, só indo lá no site dela olhar. Pois bem, eu mandei uma foto para ela, numa promoção do site, e olha o que ela fez! Não ficou bacana?

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Denize Barros, La Reina Madre, yes we can
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A energia de Sagitário!

Clotilde Tavares | 11 de dezembro de 2009

Quando chega o mês de dezembro, começa a agitação. Como se um vento poderoso varresse o ar, o planeta é avassalado pela energia sagitariana, uma energia vigorosa e entusiasmada, que faz com que as pessoas se lancem ao trabalho ou à diversão com alegria e inspiração.

Acredite ou não em Astrologia – eu mesma não acredito nem um pouco – você há de concordar comigo em que o mês de dezembro é uma das épocas mais interessantes e bonitas do ano. Praticamente estamos no final de nossas tarefas, e começamos a planejar as festas de fim de ano. O comércio, animado pela perspectiva das vendas de Natal, se enfeita todo, as vitrines mostram tudo o que é de coisa bonita e secretamente começamos a pensar em todas as extravagâncias que vamos fazer, tanto em compras como em violações da dieta, com a desculpa do Natal.

Nessa época, a cidade fica mais bonita, com suas luzes coloridas, e há muitos lançamentos de livros, exposições, festas, espetáculos quase todo dia e as confraternizações de final de ano acontecem, aumentando a cota de diversão e prazer. É também nesse mês que quem está longe volta, para rever família e amigos, e matar as saudades.

O meu caro leitor já deve ter adivinhado que nasci sob esse maravilhoso signo de Sagitário, responsável talvez pelo meu otimismo e despreocupação mas também por uma certa excentricidade e extravagância que estão permanentemente me metendo em confusão.

Exatamente no dia 14, segunda-feira, “colho mais uma rosa no jardim da existência”, como se dizia antigamente. As rosas já são muitas, e formam um enorme e perfumado ramalhete, que às vezes fica meio pesado de carregar, embora eu continue fazendo isso com grande prazer.

Espero que você, meu caríssimo leitor, deseje-me muitas felicidades e muitos anos de vida. Como toda legítima sagitariana, eu tenho certeza de que mereço.

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Flores do meu Cariri

Clotilde Tavares | 10 de dezembro de 2009

No mês de fevereiro deste ano, Inês Tavares e Cristina Evelise (minha irmã e minha cunhada) fizeram uma viagem ao Cariri paraibano. Ficaram hospedadas numa fazenda, na região de Sumé; mas andaram, viraram, mexeram, fizeram uma ruma de fotos que, quando voltaram, descarregaram no meu computador. São fotos de gente, de natureza, de plantas e de bichos. Fotos que eu não sei, das duas, quem fez, se uma ou a outra.

Portanto, com crédito duplo, eu trouxe para vocês essas flores do meu Cariri, floreszinhas bestas, sem nome, sem a sofisticação ou a majestade das orquídeas ou rosas mas tão caprichosas na minúcia e na beleza que parecem jóias coloridas brotando daquele chão seco e áspero, assim que dá a primeira chuva.

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O Orquilouco

Clotilde Tavares | 9 de dezembro de 2009

Eu tenho um amigo que é maluco. Mas isso todo mundo também tem. Todo mundo conhece gente que tem um parafuso frouxo. Mas a maluquice desse meu amigo é saudável porque ele a usa integralmente para defender seus pontos de vista e as coisas em que acredita. Aí, o chamam de doido porque ele não tem medo de ir até às últimas consequências. Ele mora em Natal, tem cerca de 60 anos, curso superior, bonitão e criador de orquídeas. Por isso gosto de chamá-lo de Orquilouco.

Pois uma vez o Orquilouco foi levar a filha a um dos shoppings de Natal e viu duas motocicletas paradas na vaga destinada a portadores de deficiência. Chamou o segurança e reclamou daquele absurdo. O segurança disse que não tinha visto, não sabia quem era, e ele começou a se irritar. E disse: “Olha, eu venho pegar minha filha daqui a meia-hora. Se essas motos ainda estiverem aqui, você vai ver uma coisa”.

E assim disse, assim o fez. Ao voltar, como as motos ainda estavam estacionadas no mesmo lugar, ele entrou com o carro no corredor principal do shopping e estacionou entre as lojas. Criou-se então um grande tumulto. Vieram os seguranças, mas se intimidaram diante do Orquilouco, que, em alto e bom som, expunha aos curiosos – que já eram muitos – os motivos da sua atitude. Muita gente ficou do lado dele e a pressão sobre os seguranças e a administração do shopping ficou cada vez mais forte. Decidiu-se então procurar os donos das motos, que não foram encontrados. Para acabar com a confusão, os seguranças se reuniram e tiraram “no braço” as duas motos da vaga de deficiente. Só então o Orquilouco tirou o carro de dentro do shopping. A multidão aplaudiu, enquanto a filha dele, morta de vergonha dos escândalos do pai, procurava passar despercebida e entrava no carro.

É louco, diria você, meu caro e sensato leitor. É louco, digo eu também. É louco porque é capaz de se arriscar, de dar a cara para o tapa quando vê uma coisa errada acontecendo, mesmo que essa coisa errada nada tenha a ver com ele. Quantos de nós temos essa mesma disposição diante da vida? Quantos de nós estamos dispostos a nos arriscar em busca daquilo em que acreditamos? Quantas coisas erradas e tortas acontecem neste mundo somente porque nos omitimos, viramos o rosto para o outro lado, fechamos os olhos, nos negamos a ver a agressão, a dor, o erro, porque nos incomoda mas pensamos que não temos nada com isso?

Fica então aqui o exemplo do Orquilouco, para nos servir de inspiração nestes dias.

Eu já havia publicado essa crônica no jornal há tempos. Mas na próxima segunda-feira, o meu querido Orquilouco, o  agrônomo e orquidófilo Cassiano Lamartine, vai se submeter a uma cirurgia delicada. Com votos de que corra tudo bem, peço a todos que, junto comigo, torçam por ele.

Esta orquídea, híbrida, foi batizada com o nome dele.

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É bom casar!

Clotilde Tavares | 8 de dezembro de 2009

Talvez o meu caro leitor não saiba que já fui casada algumas vezes. Casamento é isso mesmo, não é bom nem é ruim, é apenas uma situação como outra qualquer, que tem coisa boa e coisa ruim e que você vai fazendo a relação custo/benefício o tempo todo: quando o custo supera o benefício, está na hora dos parceiros caírem na real e ver se compensa continuar com a relação.

Se não dá, é partir para outra, mesmo que a separação seja dolorosa – e geralmente é, mais pelo hábito e pelas dependências que criamos um do outro do que propriamente pelo amor que, a essa altura, já deve ter acabado também. Aliás essa discussão do amor merece um post só pra isso e não vou enveredar por ela agora sob pena de me desviar completamente do assunto.

O curioso da separação é que vemos com surpresa que, de par com a tristeza e a saudade vem um certo alívio, e a descoberta de uma inusitada liberdade, de possibilidades até então não suspeitadas, sequer consideradas antes, porque quando a gente vive junto há coisas que geralmente a gente sequer imagina que possa fazer.

Fui casada quatro vezes. Tenho dois filhos, do primeiro e do terceiro. Uns duraram mais, outros menos. Dois me deixaram, e dois eu deixei. De dois eu ainda sou muito amiga, muito amiga mesmo – e sou amiga de um que deixei e de um que me deixou. Os outros dois um eu não quero ver (um que eu deixei) e outro não tem interesse em me ver (um que me deixou).

Então, somando e dividindo, penso que tive sorte pois os pratos da balança da minha vida de casada se equilibraram de tal forma que não lamento nada que houve, mas também não quero repetir um dia que seja. E confesso que me considero feliz no casamento porque todos os meus maridos eram – são – bonitos, inteligentes, talentosos, bons-de-cama e companheiros. Não deu certo? Deu, sim! Enquanto durou, deu certo.

Hoje, integro aquilo que se chama a “comunidade single”: pessoas que optaram por viver sozinhas, sem companheiro para dividir a casa embora uma vez ou outra coisas diferentes possam acontecer – e acontecem.

Não me sinto solitária. Como poderia, com o mundo ao meu alcance pela via presencial, pois é só pegar o meu Fiat Modelo Velho e ir para onde quiser ou, se for mais longe, pegar um avião? E pela via virtual posso penetrar em lugares onde jamais imaginei ir, pois a Internet me proporciona todas as viagens com que já sonhei?

Como me sentir solitária com esse mundo de gente que me lê, envia emails, troca idéias, reclama, critica, elogia, diz que não gostou, faz perguntas, numa balbúrdia e num tumulto virtual que chega a me cansar, e eu corro para longe do computador com um livro, e vou para a varanda fiscalizar a natureza somente para me livrar um pouco de vocês?

Pois é, meu caro leitor. Posso até viver sozinha, mas solitária, nunca!

Vocês estão sempre comigo, e estou feliz por isso.

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Firulas textuais

Clotilde Tavares | 7 de dezembro de 2009

Numa Lista que assino, um dos membros postou um texto todo escrito sem usar a letra “A”, do qual reproduzo um pequeno trecho abaixo.

Sem nenhum tropeço posso escrever o que quiser sem ele, pois rico é o português e fértil em recursos diversos, tudo isso permitindo mesmo o que de início, e somente de início, se pode ter como impossível. Pode-se dizer tudo, com sentido completo, mesmo sendo como se isto fosse mero ovo de Colombo.

Desde que se tente sem se pôr inibido pode muito bem o leitor empreender este belo exercício, dentro do nosso fecundo e peregrino dizer português, puríssimo instrumento dos nossos melhores escritores e mestres do verso, instrumento que nos legou monumentos dignos de eterno e honroso reconhecimento.

Trechos difíceis se resolvem com sinônimos. Observe-se bem: é certo que, em se querendo esgrime-se sem limites com este divertimento instrutivo. Brinque-se mesmo com tudo. É um belíssimo esporte do intelecto, pois escrevemos o que quisermos sem o “E” ou sem o “I” ou sem o “O” e, conforme meu exclusivo desejo, escolherei outro, discorrendo livremente, por exemplo sem o “P”, “R” ou “F”, o que quiser escolher, podemos, em corrente estilo, repetir um som sempre ou mesmo escrever sem verbos.

(…)

E o texto continua por mais alguns parágrafos e lamento não ter aqui a autoria para lhe informar. Quem postou não colocou o autor.

Mas textos sem “A”, sem “E” ou textos onde a única vogal é “A”, por exemplo, são exercícios corriqueiros para quem escreve. Não é nada incrível, é somente um exercício. Faz-se quase como desafio, como brincadeira. Cada um de vocês, se tentar, consegue fazer.

Eu gosto de me divertir escrevendo textos como esse. Não servem para nada, apenas para exercitar a capacidade de brincar com as palavras, do mesmo jeito que o jogador de futebol faz embaixadas, para desenvolver a habilidade com a bola.

Outro exercício legal é escrever uma história curta, de umas duas páginas, por exemplo. Depois, tentar reduzi-la a 200 palavras, depois a 100, a 50…

Veja essa décima do poeta Dedé Monteiro:

“Ô casa velha do cão,

A de vovó Januária!

Caverna bicentenária,

Sem um sinal de cristão.

Morcegos sobre o fogão,

Na sala somente pó,

No muro, uma planta só,

No jardim, rato e mosquito:

Eis o retrato esquisito,

Da casa da minha avó.

O detalhe? Não notou? Não tem um só VERBO…

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