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Provocação aceita

Clotilde Tavares | 31 de janeiro de 2010

Minha gente! Há uma moça chamada Luna que me segue no twitter. Pois hoje ela postou: “Eu estava mal acostumada a todo dia ler um artigo da @ClotildeTavares. Agora falta um ritual no meu dia.”

Eu dei uma explicação meio fajuta, meio malamanhada: que estou em crise de criatividade. Os 140 caracateres do twitter nao permitiam maiores detalhes, mas continuei dando desculpas para mim mesma: que estou sem vontade de escrever, que o blog é meu, fui eu quem inventou e que isso não me obriga a escrever todo dia, que todo mundo tem direito de estar numa fase preguiçosa da vida, que estou com preguiça também em outros setores da minha vida, que minha carteira de motorista venceu dia 10 e eu ainda não fui renovar, que meu passaporte ficou pronto dia 23 e eu ainda não fui buscar, que isso, que aquilo.

Mas não interessa.

Qualquer motivo é tão bom quanto outro. Momentos de inércia e paralisação acontecem na vida de todo mundo.

Talvez seja a falta de exrecício físico, que faço três vezes por semana sob o olhar vigilante e exigente de Fernando, a quem chamo de “personal-trainer das estrelas e celebridas”, no caso, eu mesma.

Mas Fernando ligou hoje e prometeu que volta quarta-feira para me repaginar fisicamente, melhorar meu lay-out e despertar as minhas endorfinas através de halteres, caneleiras e muito alongamento. Como conseqüência, espero que essa atividade física desperte a atividade mental que está faltando por aqui.

Então, Luna, querida: você me provocou, moça! E aqui estou respondendo à provocação.

A todos que lêem, essa moça Luna tem um blog maravilhoso, cheio de comida gostosa: o Quiche de Macaxeira.

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O inferno feminino

Clotilde Tavares | 27 de janeiro de 2010

Ivana Arruda Leite

Ontem, um dos links que publiquei foi o do blog da escritora Ivana Arruda Leite. Como eu gosto dos livros dela, meu caro leitor! O que mais gosto nela é a forma como aborda os temas ligados ao universo feminino, completamente alheio aos edulcorantes artificiais que geralmente cercam as chamadas “coisas de mulher”.

Como está escrito sobre as portas do inferno, ao entrar nos seus livros o leitor precisa abandonar toda a esperança, e nutrir-se de coragem para encarar a profunda tragédia que muitas vezes permeia o cotidiano feminino, aqui exposto sem dó nem piedade. No seu livro “Falo de mulher”, o aparente paradoxo do título, repleto de duplos entendimentos, se derrama pelos contos, como “Receita para comer o homem amado”, “A puta seletiva”, “Mulher é tudo igual” e outros, onde a mulher, eviscerada e nua em seus desejos e impulsos mais secretos, fala sempre a verdade.

Mas Ivana é também lírica e memorialista , no seu livro “Eu te darei o céu”, recuperando para nós, mulheres nascidas no inícios dos anos 1950, a infância e adolescência perdidas, com as músicas de Celly Campelo e Roberto Carlos, vestidos rodados e cabelos armados nos assustados da adolescência, seguidos pela fase “caia na real”, onde os anos de chumbo vieram, descendo com seu punho selvagem, esmagando e escurecendo o céu da nossa geração.

Fã de seus livros desde alguns anos atrás, conheci-a pessoalmente em São Paulo no final de 2008, na “Balada Literária”, evento organizado pelo escritor Marcelino Freire nas quebradas da Vila Madalena. Bom papo, boa conversa, alegre, divertida, ficamos horas falando das nossas séries preferidas na TV por assinatura. Tentei olhar para aquela mulher morena, miúda, sentada ao lado de sua filha Bebel e tomando um café, com a bolsa no colo, e fiquei a imaginar o violento pulsão criativo escondido por trás de pessoa tão amável e simples. Pulsão este que faz com que Ivana consiga desvendar o mais grotesco do universo existencial feminino e expor suas chagas ocultas, seus sonhos inconfessáveis, seus amores maníacos, seus ideais inúteis, com um toque profundo de humor, mas humor negro, é bom que se diga.

Ivana Arruda Leite é uma escritora que é preciso conhecer, sem perda de tempo, pelo muito de Humanidade que expõe nas histórias e personagens.

Eu recomendo. Leia alguns dos seus contos aqui.

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Recebi pelo Twitter

Clotilde Tavares | 26 de janeiro de 2010

Na impossibilidade absoluta de escrever, em plena crise de criatividade, só me resta repassar o melhor dos links que recebi pelo Twitter nos últimos dias.

A maior palavra cruzada do mundo

Lindos cases para seus objetos

Ivana Arruda Leite, escritora maravilhosa

Começaram a prender as blogueiras!

Turistas retidos em Machu Pichu

Artigo de Chico Guedes na Revista Catorze

Filmes com claque e sem claque

Bairro chique no Haiti escapa da destruição

e finalmente esse video do YouTube que mostra uma linha do tempo com a decadência dos grandes impérios.

http://www.youtube.com/watch?v=EwOA8AfeHM4

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Antes mal-acompanhada do que só

Clotilde Tavares | 22 de janeiro de 2010

Nos dias em que estou assim à toa, sem fazer nada, uma coisa que me distrai muito é ler os classificados. O meu caro leitor não imagina o potencial de diversão que há nesses anúncios, ou como é instigante exercitar a imaginação inventando histórias a partir daquelas poucas palavras que ali estão.

Todas as pequenas – e às vezes grandes – necessidades humanas estão presentes, explícitas ou latentes nos classificados. São pessoas que estão “vendendo todos os móveis” por motivo de viagem ou transferência e eu logo imagino a dor que a gente sente quando tem que se separar de um objeto querido, que pode ser o armário antigo e cheio de recordações ou a fofa poltrona que já se acostumou com nosso corpo.

E o que pensar quando o anúncio diz: “Vende-se vestido de noiva, cor branca, em renda francesa, todo rebordado em pérolas. Nunca foi usado.” Pobre noiva, que com tanto carinho escolheu modelo e tecido e quem sabe até ajudou a fazer o trabalhoso bordado, mas não chegou a vesti-lo e subir ao altar! Que tragédia ou desilusão se esconderá por trás deste anúncio? Uma traição? Morte prematura do noivo?

  Quando o assunto é ortografia, as coisas se tornam muito engraçadas. É curioso observar a forma como certas palavras são escritas e aí o crédito por essas aberrações ortográficas tanto pode ir para quem redige o anúncio e o entrega no balcão como para a atendente do jornal, a quem o anunciante dita o texto pelo telefone. Alguém quer vender um título do “Walter Park”, em vez de “Water Park”, um salão de beleza oferece “coiffus” em vez de “coiffeurs” (cabelereiros) e outro quer vender um computador com estabilizador de “um caviar”, quando o correto é 1 KVa.

Descobri também que é um bom negócio trabalhar com recarga de cartuchos para impressora, tal a quantidade de anúncios dessa atividade. Um deles oferece a própria máquina que faz o trabalho e afirma que esta é “a profissão do novo milênio”. Acrescenta ainda que “Deus é fiel”, mas nessa eu passei batida e não consegui estabelecer qual seria a relação entre a fidelidade divina e a tinta dos cartuchos.

Mas o melhor de tudo é a criatividade das pessoas na hora de oferecerem seus serviços. Descobri um “motorista/locutor”, um “massagista profissional” que adverte de maneira taxativa que não massageia “partes íntimas” e um “caligrafista”, que se oferece para endereçar convites de casamento, formatura e outros eventos. Encontrei também um “sargento do exército, 30 anos, comunicação fácil, experiência em planejar, sobrepor limitações, mudanças de paradigma e táticas racionais…”, que acrescenta outras habilidades e conclui o anúncio dizendo que “… não é fumante, flamenguista ou corintiano e muito menos simpatizante do futebol”.

Finalmente, entre todo esse cortejo de profissionais, gostei muito de dois rapazes que se oferecem para “acompanhantes”: “Lindo, gaúcho, olhos azuis” e “Novato, 22 anos, prazeiroso”.  Com um pequeno esforço de imaginação, consegui me ver sendo acompanhada por um deles ou, quem sabe, pelos dois ao mesmo tempo. Mas temo, meu caro leitor, que isso não seja assunto para este blog e vou ficando por aqui, profundamente inclinada a subverter o provérbio e afirmar que, vez por outra, é melhor estar mal-acompanhada do que só.

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Monga, e o monossílabo

Clotilde Tavares | 20 de janeiro de 2010

Fui criada no meio de eufemismos. Em casa, e na vizinhança.

Quando se ia mandar um dinheiro para alguém, o dinheiro se transformava em uma palavra misteriosa: a “encomenda”. Mamãe dizia: “Neusa recebeu a encomenda?”

Não se falava em tuberculose: era “a fina”, ou “a magra”. Fulano está com “a fina”. E câncer, nem pensar. Dizia-se “aquela doença”. “Fulano está com aquela doença”.

Não se dizia parir, ter menino, dar à luz: o termo era “descansar”. Menstruar era palavrão. Naquele tempo, as mulheres ficavam “incomodadas”; e quando uma das moças da vizinhança “se perdia” não era porque a criatura não encontrasse o caminho de casa: era porque havia perdido a virgindade.

Papai chegou ao ponto de inventar palavras de xingação, como “leqüera”, assim mesmo, com trema no “u”, para quando queríamos insultar uns aos outros; e inventou também a palavra “lunfa”, que queria dizer uma mulher de vida mais livre sem chegar realmente a ser prostituta.

É bem verdade que vez por outra, no calor das discussões, as muralhas da boa educação caíam por terra e saíam todos os deliciosos palavrões que hoje se diz com tanta frequência e tão abertamente. “Sua puta sem-vergonha, chifreira, eu sei que seu marido é corno, viu, sua rapariga?” Nós, crianças, ouvíamos entre assustados e deliciados as brigas, até que alguém notava e baixava o volume da voz.

Lembrei disso tudo vendo a TV, onde, depois do anúncio de um medicamento, aparece o letreiro: “Ao persistirem os sintomas, o médico deverá ser consultado”, frase complexa e pedante, que faz você pensar umas três vezes antes de entender direito o que ela quer dizer.

Isso me levou de volta no tempo, a uma placa que havia na porta do Restaurante Maré Mansa, em Macau-RN, famosíssimo pelo seu camarão divino. Hoje essa placa não existe mais – o camarão continua divino – mas na década de 1980 eu fiz uma foto dela – que obviamente nunca consigo achar quando preciso. A placa diz: “Se acompanhado, não se aproxime com mulher de vida livre”. É o cúmulo do arrodeio para dizer: “Proibido entrar com puta”.

Mas o exagero do eufemismo eu ouvi dizer numa história contada pelo poeta e contador de causos Jessier Quirino. Ele conta que estava num parque de diversões e foi entrando para ver Monga, a mulher Gorila. Naquela sala escura, lotada de gente de pé, ele entra com uma das mãos atrás, protegendo “o monossílabo”. Quem já entrou para ver Monga – eu já – sabe que é de suma importância fazer isso, porque há cem por cento de risco de se levar uma, como direi, “dedada” no “monossílabo”, é claro…

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eufemismo, Jessier Quirino, Macau-RN, Maré Mansa, Monga
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Encerrando um ciclo

Clotilde Tavares | 19 de janeiro de 2010

Se você é meu leitor constante, deve ter notado que ando sumida deste blog. Não sei o que se passa comigo ultimamente que ando num daqueles bloqueios que é o terror de toda pessoa que vive do que cria: na literatura, no teatro, na música. Uma dificuldade de escrever, uma inquietude, uma coisa estranha, um estresse que não me deixa ficar parada num canto e juntar duas idéias uma na outra e mais uma terceira e assim dar seguimento a um escrito qualquer.

Fazer o que? Penso que todo mundo tem essas fases, e como eu não tenho nenhum produtor no meu pé me apressando por texto – o que aconteceria se eu estivesse escrevendo a novela das oito, por exemplo – tenho mais é que não forçar muito a Natureza e esperar que você, meu pacientíssimo leitor, compreenda e releve.

Teve também essa história toda do Haiti, que me deixou triste e abalada, como há muito não me sentia frente a uma catástrofe como essa. Vejo os noticiários, fico arrasada, perco a graça e a alegria. Vejo as aberrações que são ditas por políticos e pessoas sem noção e fico irada. Nesse tumulto de emoções, minha capacidade de escrever escorre pelo ralo.

Clicando aqui, você vai ler, se tiver paciência, um belo texto de uma mulher haitiana, escrito antes do terremoto. Ela diz:

Minha avó acreditava que se uma vida é perdida, outra vida brota em algum outro lugar, sendo essa nova vida ainda mais forte que a outra. Ela acreditava que uma pessoa não morre, realmente, desde que alguém se lembre dela, alguém que reconheça que esta pessoa, apesar de tudo, estava aqui. Nós somos parte de um círculo sem fim, somo as filhas de Anacaona. Nós envergamos, mas não quebramos. Não somos atraentes, mas ainda assim resistimos. De vez em quando devemos gritar isso o mais distante que o vento puder levar nossas vozes. Nou lèd, nou la! Somos feias, mas estamos aqui.

A gente vê que esse terremoto já vem acontecendo há muito tempo. O tremor que botou os prédios no chão foi apenas a cereja do bolo. A sensação que eu tenho é como se o Haiti precisasse ser “reformatado” para seu povo poder conseguir se reerguer de uma forma mais humana, mesmo ao sangrento custo de tantas vidas perdidas. Como se o Universo tivesse resolvido “passar a régua” para começar tudo de novo.

E fica a minha pergunta: quandos lugares mais nesse planeta não estão precisando de uma boa passada de régua? É isso.

Amanhã tentarei voltar com a diversão e a irresponsabilidade de sempre.

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O Haiti no meu coração

Clotilde Tavares | 15 de janeiro de 2010

Não consigo tirar da minha cabeça o que está acontecendo no Haiti. Ontem à noite, depois que vi os noticiários na TV, meu coração ficou pesado, meus olhos túmidos e a garganta grossa: como ter apetite para encarar o jantarzinho caseiro que estava pronto quando as imagens da TV me mostravam o indescritível: crianças famintas e feridas vagando pelas ruas, mortos abandonados à putrefação na margem das avenidas, pessoas disputando um copo de água na tapa, e o sofrimento, a miséria, a sensação de perda, de desenraizamento, de completa e total incapacidade de superar o caos ao redor.

O problema atual do Haiti é puramente de logística: como organizar o socorro, a alimentação, a segurança, a volta do fornecimento de serviços básicos, se toda a estrutura que havia foi arrasada? E ainda é preciso aturar insanos como um pastor evangélico norte-americano, Pat Robertson, que diz que o que aconteceu ali foi porque o país fez um pacto com o Diabo!

Ou então o cônsul do Haiti no Brasil, George Samuel Antoine que, sem saber que estava sendo gravado, afirmou ao que a tragédia causada pelo terremoto que atingiu o Haiti está sendo boa, pois traz visibilidade ao consulado.

Braulio Tavares, na sua coluna de hoje no Jornal da Paraíba, fala sobre o lento terremoto de exploração e desmandos que afeta o Haiti há 200 anos; e muito outros profissionais- cientistas, filósfos, analistas políticos e econômicos, jornalistas – muitos outros discutem e buscam explicações.

Eu não. Eu simplesmente fico triste, choro, perco o apetite. Daqui, do meu canto, nada posso fazer. Já sou muito velha para pegar um avião e ir até lá ajudar. Não me sinto disposta fisicamente para tanto. E tenho medo, minha gente. Sou medrosa. Tenho medo de morrer longe de casa. Sou humana, sou frouxa, sou covarde. Sinto tudo isso quando vejo o medo, a tristeza e o sofrimento que pulsa no coração de parte da Humanidade, Humanidade essa que também é a minha Humanidade.

Nós somos um, e um de nós – um não, muitos – sofrem e sentem fome e medo.

Eu sinto também.

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Os sonhos da Onça-Parda

Clotilde Tavares | 14 de janeiro de 2010

Ainda estou horrorizada com as notícias do terremoto que aconteceu no Haiti. Um país já tão pobre, um povo já tão sofrido, e agora mais essa. As centenas de milhares de vidas perdidas são uma tragédia para a Humanidade, que soma a isso o sofrimento dos que ficaram e que terão agora que lidar com as perdas e a difícil reconstrução.

Quando houve o tsunami na Tailândia, escrevi o texto abaixo; hoje, repito-o aqui, por considerar adequado para a situação e porque eu mesma, ainda triste, não estou conseguindo comentar sobre a catástrofe.


Os sonhos da Onça-Parda (publicada na Tribuna do Norte-Natal/RN em dezembro de 2004)

No “Romance da Pedra do Reino” o escritor Ariano Suassuna, em um grande achado poético e metafórico, compara a Terra a “uma Fera estranha, uma Onça-Parda em cujo dorso habita a Raça piolhenta dos homens.”

A imagem me veio à mente depois dessa catástrofe que se abateu sobre a Ásia, em forma dos gigantescos “tsunamis” causados pelo terremoto de nove graus Richter ocorrido nas profundidades do Oceano Índico.

Tudo isso já foi visto e revisto pela televisão e os repórteres e comentaristas esgotaram o repertório de lugares comuns que se usa numa ocasião dessas. Mas uma coisa me chamou a atenção. Ao contrário dos desastres ecológicos causados pelo Homem, com sua ação predatória sobre o ambiente movido pelo lucro, pela cobiça e pela exploração, esse desastre foi uma fatalidade. Um acontecimento fortuito, devido ao Acaso e a fatores perfeitamente naturais.

A Onça-Parda, a Terra, até então sossegada e como que adormecida, contrai a musculatura do lombo, arrepia-se, treme, e por mais que a Raça piolhenta se agarre aos seus pelos é cuspida fora sem a menor contemplação, sem culpa, sem pena, sem pudor. É isso que somos: insetos microscópicos, aninhados no dorso desse gigantesco animal que, até dormindo, pode acabar conosco.

A Onça é democrática na sua coceira mortífera, atingindo desde o pescador na sua precária canoa até o iate principesco do milionário. Quando a onda vem, varre palhoças e hotéis de luxo com fúria igual. Para a Onça, somos todos ácaros desprezíveis, piolhos do nada, nenhum mais importante do que o outro. E depois de coçar-se, a Onça acomoda-se novamente para dormitar ao sol, não se sabendo quando vai remexer-se outra vez.

A Natureza deslumbrante daquela região banhada pelo Oceano Índico foi construída graças a essas convulsões violentas do planeta, rocha por rocha, laguna por laguna. A Beleza e o seu usufruto terminaram cobrando o seu preço em vidas e bens materiais.

A nós, insetos humanos, só resta contabilizar as perdas, ajudarmo-nos uns aos outros, reerguer dos escombros o que foi destruído e torcer para que a Onça-Parda tenha bons sonhos e não volte a estremecer tão cedo.

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As igrejas do interior – VI

Clotilde Tavares | 13 de janeiro de 2010

Há tempos que eu não postava aqui as fotos das igrejas das pequenas cidades do interior, uma das minhas paixões. Você pode mandar a foto da igreja da sua cidade; mas precisa mandar também o crédito da foto, ou seja, o nome do fotógrafo. E veja os posts anteriores clicando na coluna de tags da direita, sob o nome igrejas. Com esta postagem, já são 60 igrejas.

Galante-PB. Foto Egberto Araújo.

Galante-PB. Foto Egberto Araújo.

Capela da Vila de Montemor, Rio Tinto-PB. Foto Guy Joseph.

Taipu-RN. Foto de Sandro Fortunato

Mulungu-PB. Foto Fábio Mozart.

Mogeiro de Baixo-PB. Foto de Fábio Mozart.

Goianinha-RN. Foto Cinara Andrade.

Santa Luzia-PB. Foto Egberto Araújo.

Jardim do Seridó-RN. Foto Joaquim Junior.

Iguatu-CE. Foto Manoel Bomfim.

Nísia Floresta-RN. Foto Sandro Fortunato.

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A vida é sonho

Clotilde Tavares | 11 de janeiro de 2010

Na obra A Vida é Sonho, de Calderón de la Barca (1600-1681) o príncipe Segismundo vive desde a infância numa prisão escura, acorrentado, tendo sido ali colocado por seus pais em virtude de uma profecia que vaticinava que ele, chegando à idade adulta, traria grandes desgraças ao reino.

Muitos anos depois, o rei arrepende-se e começa a pensar se havia procedido corretamente aprisionando o filho daquele modo. Manda então narcotizá-lo, retirá-lo da prisão e, ao acordar daquele sono estranho Segismundo se vê no palácio real, bem vestido e cheio de jóias. Dizem-lhe que ele é príncipe, e que tudo aquilo que lhe havia acontecido antes teria sido apenas um sonho.

Uma vez investido no seu novo papel, Segismundo, de acordo com a profecia, começa a cometer os desatinos que haviam sido anunciados quando do seu nascimento. Sem conseguir suportar seus desmandos e loucuras, o rei faz a operação inversa: narcotiza-o, despe-o das roupas caras e das jóias e encerra-o novamente no escuro calabouço, preso a grossas correntes.

Ao acordar, Segismundo se lamenta, preso entre o sonho e a realidade, numa das mais belas páginas poéticas já escritas.

1

É certo; então reprimamos

esta fera condição,

esta fúria, esta ambição,

pois pode ser que sonhemos;

e o faremos, pois estamos

em mundo tão singular

que o viver é só sonhar

e a vida ao fim nos imponha

que o homem que vive, sonha

o que é, até despertar.

2

– Sonha o rei que é rei, e segue

com esse engano mandando,

resolvendo e governando.

E os aplausos que recebe,

Vazios, no vento escreve;

e em cinzas a sua sorte

a morte talha de um corte.

E há quem queira reinar

vendo que há de despertar

no negro sonho da morte?

3

– Sonha o rico sua riqueza

que trabalhos lhe oferece;

sonha o pobre que padece

sua miséria e pobreza;

sonha o que o triunfo preza,

sonha o que luta e pretende,

sonha o que agrava e ofende

e no mundo, em conclusão,

todos sonham o que são,

no entanto ninguém entende.

4

– Eu sonho que estou aqui

de correntes carregado

e sonhei que em outro estado

mais lisonjeiro me vi.

Que é a vida? Um frenesi.

Que é a vida? Uma ilusão,

uma sombra, uma ficção;

o maior bem é tristonho,

porque toda a vida é sonho

e os sonhos, sonhos são.

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