Encerrando um ciclo
Clotilde Tavares | 19 de janeiro de 2010Se você é meu leitor constante, deve ter notado que ando sumida deste blog. Não sei o que se passa comigo ultimamente que ando num daqueles bloqueios que é o terror de toda pessoa que vive do que cria: na literatura, no teatro, na música. Uma dificuldade de escrever, uma inquietude, uma coisa estranha, um estresse que não me deixa ficar parada num canto e juntar duas idéias uma na outra e mais uma terceira e assim dar seguimento a um escrito qualquer.
Fazer o que? Penso que todo mundo tem essas fases, e como eu não tenho nenhum produtor no meu pé me apressando por texto – o que aconteceria se eu estivesse escrevendo a novela das oito, por exemplo – tenho mais é que não forçar muito a Natureza e esperar que você, meu pacientíssimo leitor, compreenda e releve.
Teve também essa história toda do Haiti, que me deixou triste e abalada, como há muito não me sentia frente a uma catástrofe como essa. Vejo os noticiários, fico arrasada, perco a graça e a alegria. Vejo as aberrações que são ditas por políticos e pessoas sem noção e fico irada. Nesse tumulto de emoções, minha capacidade de escrever escorre pelo ralo.
Clicando aqui, você vai ler, se tiver paciência, um belo texto de uma mulher haitiana, escrito antes do terremoto. Ela diz:
Minha avó acreditava que se uma vida é perdida, outra vida brota em algum outro lugar, sendo essa nova vida ainda mais forte que a outra. Ela acreditava que uma pessoa não morre, realmente, desde que alguém se lembre dela, alguém que reconheça que esta pessoa, apesar de tudo, estava aqui. Nós somos parte de um círculo sem fim, somo as filhas de Anacaona. Nós envergamos, mas não quebramos. Não somos atraentes, mas ainda assim resistimos. De vez em quando devemos gritar isso o mais distante que o vento puder levar nossas vozes. Nou lèd, nou la! Somos feias, mas estamos aqui.
A gente vê que esse terremoto já vem acontecendo há muito tempo. O tremor que botou os prédios no chão foi apenas a cereja do bolo. A sensação que eu tenho é como se o Haiti precisasse ser “reformatado” para seu povo poder conseguir se reerguer de uma forma mais humana, mesmo ao sangrento custo de tantas vidas perdidas. Como se o Universo tivesse resolvido “passar a régua” para começar tudo de novo.
E fica a minha pergunta: quandos lugares mais nesse planeta não estão precisando de uma boa passada de régua? É isso.
Amanhã tentarei voltar com a diversão e a irresponsabilidade de sempre.
Compartilho dessa tristeza, Clotilde!
Puxa, é muita tragédia junta pra um só lugar, machucando esse povo. E isso gera uma angústia e uma sensação de impotência sem fim, ao vermos, impávidos, a miséria humana acontecendo lá longe sem poder fazer muito além de uma singela doação.
Mas eis que surge essa mulher haitiana, com um texto lindo falando de esperança! Comovente. Obrigada por compartilhar isso conosco.
Tome seu tempo e não se apresse a voltar a escrever se não for por necessidade de se comunicar ou por prazer. Nós, leitores, esperamos pacientes. 😉 Um beijo
Às vezes a mesma impressão que você tem, Clô, também me aflige, sabia?
A primeira vez que senti isso (e digo sem maldade alguma no coração) foi no acontecido de 11/SET.
Será, amiga?