Umas & Outras

Arte, Cultura, Informação & Humor
  • rss
  • Início
  • Quem sou?
  • #DiretoDaBolha
  • Livraria
  • FotoComTexto

Moda e geografia

Clotilde Tavares | 31 de maio de 2014

 

Ela pode!

Ela pode!

Eu tenho birra e impaciência com o atendimento em lojas. Não gosto que perguntem meu nome, porque não estou ali para fazer amizade e sim para fazer uma compra, Também me sinto estranha quando uma mocinha que eu nunca vi e provavelmente não vou ver de novo fica me tratando pelo meu primeiro nome, Clotilde-pra-lá, Clotilde-pra-cá. Algumas me chamam até de “Matilde”. Fazer o quê? Trato todo mundo com delicadeza, de Senhor e Senhora, até que a pessoa me dê cabimento. Se não dá, continuo na cerimônia. E gosto de ser tratada do mesmo modo. Mas agora, comprar qualquer coisa numa loja é iniciar um processo de relacionamento com o vendedor, um processo às vezes inusitado. Já falei sobre isto neste blog, aqui e aqui.

Terça feira que passou fui comprar uma sandália. Entro numa dessas franquias de calçados do shopping e a vendedora, por não ter em estoque sandália no meu número, me ofereceu uma bota. Cano longo, segundo ela, ficaria ótima para mim. 

Isso me lançou numa dúvida estética terrível, porque sempre achei que eu, com um metro e cinquenta e sessenta e nove quilos, pernas curtas e grossas, não fico muito bem com uma bota de cano longo. Como recusei, e ela insistiu, aleguei que queria mesmo uma sandália. A gentil vendedora usou então outro argumento. Você já sabe qual: o argumento de que a bota é o calçado mais apropriado para o inverno.

– Mas inverno aqui em Natal? –  pergunto eu.

E ela, didática:

– Bem, “Clotilde”, nós trabalhamos com as coleções de inverno porque nos baseamos nos lançamentos da última moda na Europa, e lá agora é inverno.

Então pirei de vez, caro leitor. Sempre pensei que nessa época fosse primavera na Europa, preparando um verão para o mês de julho, agosto, mais ou menos. Como já cheguei à conclusão de que não entendo de moda, devo estar desatualizada também quanto ao clima e à geografia.

Preciso com urgência me atualizar. Para os assuntos de moda, tenho a minha amiga Gladis Vivane e seu maravilhoso blog Salto Agulha. Mas para Geografia, ainda não sei a quem recorrer. Quem se habilita?

Comentários
1 Comentários »
Categorias
Comportamento, Curiosidades, Humor, Sem categoria
Tags
atendimento em lojas, Moda, padrão de atendimento, vendedor
Comentários RSS Comentários RSS
Trackback Trackback

Leio, logo existo.

Clotilde Tavares | 28 de maio de 2014

Passei a tarde de ontem espalhada no sofá, na companhia de “Como e por que ler”, do crítico Harold Bloom.

O bom deste livro, pelo menos para mim, é que ele me remeteu a leituras que nunca mais eu tinha feito, como Jorge Luís Borges. Reli com extremo prazer “Tlön, Uqbar, Orbis Tertius”, recomendado por Bloom, e de quebra li outras coisas das quais gosto muito, como “Funes, o Memorioso” e “Aproximação a Almotásim”. Também dei por falta na estante dos meus exemplares de “O Aleph” e “História Universal da Infâmia”. Emprestados não foram, pois tomo nota de todos. Devem estar perdidos em outras estantes, quem sabe entre os livros de teatro ou de folclore.

Falando sobre o hábito da leitura, Bloom diz que crianças criadas em frente da TV e que passam a adolescência na frente do computador realmente não formam esse hábito, e chegam à Universidade completamente refratárias a esse estranho objeto chamado livro.

Eu que o diga. Quando ensinava na UFRN, todo ano passava pelo mesmo tormento de explicar aos meus alunos que um curso universitário implica em leitura, sim; e que não podemos ler apenas um livro por semestre. Muitos achavam “absurda” a “exigência” que eu fazia para que eles lessem de três a quatro livros sobre os temas estudados.

Quem não tem hábito de ler, não sabe o que está perdendo. A leitura nos livra da solidão, nos faz viajar sem gastar dinheiro e ajuda a gente a se entender melhor, e a compreender os outros.

Numa entrevista de Bloom, lembro que ele dizia que “uma democracia depende de pessoas capazes de pensar por si próprias. E ninguém faz isso sem ler.”

Passo sem computador e sem Internet. Mas sem livros, não me atrevo sequer a pensar.

(A foto é da minha estante.)

Comentários
Sem Comentários »
Categorias
Arte, Cultura
Tags
Borges, Como e por que ler, hábito de leitura, Harold Bloom, literatura. Jorge Luís Borges
Comentários RSS Comentários RSS
Trackback Trackback

Fome

Clotilde Tavares | 27 de maio de 2014

 

Dormia sossegada debaixo de uma pedra. O sol me aquecia e eu estava tão profundamente mergulhada no sono que não percebi quando o escravo se aproximou e jogou sobre mim um cesto, onde fiquei presa. Cobriram-me com um pano e me levaram para longe. Fui ficando irritada, impaciente e com fome. Adormeci outra vez.

Quando acordei estava escuro ao meu redor, e pela trama do tecido que cobria o cesto não passava mais nenhuma luz. Devia ser noite. O cheiro de essências e de perfumes era forte. Pessoas cruzavam o aposento, que era grande, pois eu ouvia o eco de suas vozes nas paredes. Havia agitação e ansiedade no ar. Eu estava morta de fome, e comecei a me agitar, e a silvar. Minha língua estava seca.

De repente, tudo ficou calmo. Alguém pegou o cesto, tirou o pano de cima, e eu vi, pelas frestas da palha, a luz das tochas tremeluzindo nas colunas e iluminando as pinturas das altas paredes. Ah! Como eu gostava do lápis-lazúli, tão diferente do ocre monótono que sempre me cercava.

Uma mão fina de unhas negras e longas penetrou no cesto e me tomou com delicadeza, quase com carinho. A mulher bateu de leve as pestanas e me aninhou entre os seios. Senti o calor, o latejar da artéria e, inebriada com o almíscar daquela pele, cravei ali as presas e misturei minha saliva com o sangue doce da rainha.

 

Comentários
Sem Comentários »
Categorias
Arte, Cultura
Tags
ficçãi, fome
Comentários RSS Comentários RSS
Trackback Trackback

Joaninha

Clotilde Tavares | 23 de maio de 2014

joaninha

Joaninha sofre todo dia com o marido. Baixinho, magrinho, só tem nervo, tendão e osso. Come feito um bicho, doido por carne gorda, mas tanta gordura ninguém sabe o que o corpo faz dela, deve ser para alimentar a ruindade. O dia todo dentro de casa, na cizânia, na intriga, tecendo, reclamando, ciumando, desconfiando, aborrecendo Joaninha, mexendo nas coisas, abrindo as gavetas, destampando as panelas, botando defeito em tudo, uma praga. De noite, na hora da cama, quer sempre, quer toda noite e demora fazendo. Joaninha, nada. Os filhos dizem: “Mãe, ninguém sabe como você aguenta o pai.” E é porque eles nem sabem da cama.

Um dia ele vai dormir e acorda morto. Vem o padre, olha, benze, deve ter sido derrame, está morto mesmo, foi derrame, diz o padre. Naquelas lonjuras, sem médico sem nada, é o padre quem atesta. E fazem o enterro. Aí, Joaninha vive sossegada e feliz. Até casa de novo, com um bem mais novo do que ela – e gordo.

Trinta anos depois, Joaninha morre. Os filhos vão abrir o túmulo para enterrar a mãe e encontram os ossos do pai, já limpinhos.  No crânio sem olhos, há uma saliência no alto da cabeça. O filho mais novo, curioso, passa o dedo, enfia a unha entre aquela coisa e o crânio, e puxa, devagar, o prego caibral de doze centímetros, batido por mão segura e determinada, há 30 anos.

______________

(A imagem que ilustra este texto é um quadro do pintor peruano Albert Lynch (1851–1912).

Comentários
1 Comentários »
Categorias
Arte, Cultura
Tags
ficção
Comentários RSS Comentários RSS
Trackback Trackback

Tópicos Recentes

  • GERÚNDIOS
  • ROMANCEIRO VIVO
  • Estranhas iguarias
  • Adiza Santa Cruz Quirino, “Tia Adiza” (1916-1990)
  • Como escolher um texto para encenar na escola?

Tags

barulho barulho urbano biblioteca blog blogosfera Braulio Tavares cabelos brancos Campina Grande Cariri Cariri Paraibano Carnatal cinema comportamento humano corrupção Coxixola cultura popular Design escrever escritor Fotografia e design gatos Gerúndios Hamlet Harold Bloom hoax idade Internet leitura Literatura literatura de cordel livros meio ambiente Memória Moda mundo blog Natal Nilo Tavares padrão de atendimento Paraíba poesia sertão Shakespeare teatro turismo Viagem

Categorias

  • Arte (57)
  • Comportamento (202)
  • Cultura (103)
  • Curiosidades (62)
  • Fotografia e design (20)
  • Humor (44)
  • Memória (45)
  • Pop-filosofia (12)
  • Qualidade de vida (30)
  • Sem categoria (39)
  • Tecnologia e Internet (26)
  • Uncategorized (65)
  • Viagens e turismo (27)

Páginas

  • #DiretoDaBolha
  • Livraria
  • Quem sou?

Arquivos

  • julho 2024 (4)
  • julho 2023 (7)
  • março 2023 (1)
  • abril 2022 (1)
  • novembro 2021 (1)
  • junho 2021 (2)
  • abril 2021 (6)
  • agosto 2020 (1)
  • julho 2020 (1)
  • junho 2020 (1)
  • outubro 2019 (2)
  • abril 2018 (1)
  • janeiro 2018 (5)
  • novembro 2017 (1)
  • agosto 2017 (2)
  • junho 2017 (1)
  • maio 2017 (2)
  • março 2015 (1)
  • fevereiro 2015 (4)
  • janeiro 2015 (9)
  • julho 2014 (2)
  • maio 2014 (4)
  • dezembro 2013 (1)
  • setembro 2013 (6)
  • junho 2013 (1)
  • março 2013 (1)
  • setembro 2012 (3)
  • agosto 2012 (1)
  • maio 2012 (1)
  • fevereiro 2012 (1)
  • janeiro 2012 (1)
  • dezembro 2011 (5)
  • novembro 2011 (2)
  • outubro 2011 (3)
  • junho 2011 (1)
  • maio 2011 (2)
  • abril 2011 (3)
  • janeiro 2011 (14)
  • outubro 2010 (3)
  • setembro 2010 (11)
  • agosto 2010 (3)
  • julho 2010 (5)
  • junho 2010 (2)
  • maio 2010 (5)
  • abril 2010 (13)
  • março 2010 (19)
  • fevereiro 2010 (18)
  • janeiro 2010 (17)
  • dezembro 2009 (25)
  • novembro 2009 (28)
  • outubro 2009 (31)
  • setembro 2009 (29)
  • agosto 2009 (28)
  • julho 2009 (30)
  • junho 2009 (27)
  • maio 2009 (29)
  • abril 2009 (29)
  • março 2009 (6)

Agenda

maio 2014
D S T Q Q S S
 123
45678910
11121314151617
18192021222324
25262728293031
« dez   jul »

Meta

  • Acessar
  • Feed de posts
  • Feed de comentários
  • WordPress.org
rss Comentários RSS valid xhtml 1.1 design by jide powered by Wordpress get firefox