Umas & Outras

Arte, Cultura, Informação & Humor
  • rss
  • Início
  • Quem sou?
  • #DiretoDaBolha
  • Currículo
  • Livraria
  • FotoComTexto

Eu e meu duplo

Clotilde Tavares | 27 de outubro de 2009

No tempo em que eu ainda estava na ativa como professora da UFRN, tirei três meses de licença prêmio, à qual eu tinha direito. Os colegas perguntavam: “E então, Clotilde, vai fazer o que com esses três meses de folga? Vai viajar? Vai aproveitar para escrever um livro?” e ficavam chocados quando eu respondia que não ia fazer nada, que ia ficar à toa, que tinha tirado a licença exatamente para isso. “Mas fazer nada como?” perguntavam, como se tivessem esquecido do supremo deleite que é ficar estirada na rede branca armada na varanda, empurrando de leve o pé na parede para desfrutar do balanço suave e do rangido do armador.

Essa incapacidade de relaxar, de entregar-se ao ócio, é uma constante nesses tempos turbulentos e apressados em que vivemos. O cotidiano assume uma velocidade, uma intensidade, uma concentração tal que fica difícil desligar-se disso nos momentos de lazer. Então, para acompanhar o ritmo, busca-se também diversões agitadas, velozes, barulhentas e concentradas. Não se admite mais um lazer onde não haja barulho, agitação e movimento.

Além disso, é importante mostrar-se ativo, sociável, extrovertido. Olha-se com desconfiança as pessoas contemplativas, que amam a solidão, o sossego, o silêncio. Um sujeito que passa o fim de semana lendo em vez de sair para a balada, principalmente se é jovem, é olhado com estranheza pelo grupo, e os amigos dizem: “Precisamos arrancar Fulano de casa, do meio desses livros, e levá-lo para se divertir”, como se os livros não fossem uma diversão tão aceitável como qualquer outra.

Na verdade, as diversões desses dias de hoje são cada vez mais desgastantes pelo tempo que perdemos tentando nos divertir, ou lutando para chegar no local da diversão. São horas perdidas em filas para comprar ingressos, em congestionamentos no caminho para a praia ou enquanto aguardamos uma mesa no nosso restaurante predileto. A diversão termina sendo mais cansativa do que o trabalho, mas é preciso se divertir, é preciso freqüentar, é preciso aparecer nos lugares, é preciso dançar a noite inteira, é preciso ir ao restaurante da moda, à buate do momento. É preciso manter a fama de ativo, participante, sociável.

Ah, meu caro leitor, ficar sozinho exige competência. Dedicar o fim-de-semana a arrumar os armários exige coragem. Entregar-se à leitura, à contemplação, enquanto todos estão na praia ou na balada, exige um espírito forte, disposto a enfrentar críticas de todo tipo. Finalmente, ficar à toa, sem fazer nada, simplesmente, é um suicídio social.

Esquecem-se os baladeiros de que é nos momentos de solidão que pensamos, criamos, questionamos. É nesses momentos que acontece o encontro mais importante, o encontro da gente com a gente mesmo, com o nosso duplo, que nos observa do fundo do espelho, que tem coisas para nos dizer mas precisa de silêncio e de calma para se expressar. Dessa conversa, sempre saímos mais fortes, mais calmos, mais vivos e criativos. Experimente. É um bom programa para qualquer fim de semana.

Comentários
8 Comentários »
Categorias
Comportamento
Tags
contemplação, leitura, meditação, solidão
Comentários RSS Comentários RSS
Trackback Trackback

Inventando histórias

Clotilde Tavares | 24 de outubro de 2009

Trabalhando com teatro, uma das coisas que tenho que fazer de vez em quando é escrever textos que depois serão encenados por atores. Escrever é muito bom, é uma coisa que me dá muito prazer e quando se trata de uma tarefa específica como é o caso dessa as dificuldades que podem aparecer servem apenas como estímulo para tentar alcançar um resultado melhor.

Quando eu ainda ensinava teatro na UFRN muitas vezes inventava personagens a partir dos exercícios de trabalho de ator propostos aos alunos. E o engraçado é que esses personagens, criados pelos alunos/atores eram quase sempre reis, imperadores, sacerdotes, heróis, magos, princesas, governantes… Isso acontece, penso eu, porque projetamos nos personagens que criamos nosos sonhos, nossas expectativas, nossos desejos.

Uma coisa semelhante acontece no que se relaciona à chamada “terapia das vidas passadas”. Segundo alguns estudiosos, é possível acessar existências que já vivemos através de hipnose e outras técnicas. Eu não sei se isso é verdade ou não, e nem quero aqui discutir essa questão. O que quero dizer é, quando se trabalha com esse tipo de prática de uma forma que considero superficial, as pessoas sempre são, em vidas passadas, reis ou imperadores, nobres na corte francesa, sacerdotisas do templo de Ísis, guardiões do tesouro de Persépolis, altos dignatários, embaixadores, e por aí vai.

Aí eu pergunto: e as pessoas comuns? Nunca vi ninguém dizer que, numa vida passada, tenha sido servente de pedreiro ou lavrador. Nunca ouvi ninguém dizer que foi dona de casa ou uma simples costureira, apesar desse tipo de gente – as pessoas simples – representarem noventa e cinco por cento ou mais das pessoas existentes no mundo, em qualquer época que se considere.

Talvez se pense que a vida das pessoas comuns é destituída de atrativos, de aventura, de encanto, mas disso eu discordo. Eu, você, cada um de nós, por simples e comum que seja, tem suas histórias e aventuras para contar. Cada um de nós tem um repositório de histórias, emoções e vivências tão excitantes quanto a vida de qualquer rei, ou rainha. Concorda comigo?

Comentários
Sem Comentários »
Categorias
Comportamento
Tags
dramaturgia, personagem, teatro
Comentários RSS Comentários RSS
Trackback Trackback

Ouvindo a intuição

Clotilde Tavares | 23 de outubro de 2009
Cleuza Santa Cruz Tavares, minha mãe.

Cleuza Santa Cruz Tavares, minha mãe.

A minha mãe era uma mulher muito sábia. Ela possuía em alto grau essa sabedoria atávica, ancestral, intuitiva, que vem não se sabe de donde, e que não se aprende nas universidades. É uma espécie de dom, algo que parece trazermos inscrito no nosso DNA. Até os meus vinte e dois anos, tempo em que vivi em casa e convivi com Mamãe, aprendi muito, e hoje me considero também depositária dessa sabedoria, exercitada a cada dia, nas situações do cotidiano que me são apresentadas pelo fluir do rio da Vida.

Uma coisa curiosa em Mamãe era que, nos seus atos, obedecia sempre à voz da intuição, que ela chamava “a minha natureza”. Essa “natureza” dela a fazia ter comportamentos ou atitudes inesperadas, quando se recusava a participar de algo ou a gostar ou desgostar de alguém. Os parentes reconheciam esse seu dom e era chamada sempre para resolver conflitos familiares na grande família de dez irmãos da qual fazia parte, sendo a sétima filha. Qualquer problema, qualquer situação de estresse familiar, lá ia ela para Recife – onde morava boa parte dos meus tios e tias. Moças solteiras que engravidavam, rapazes que não queria seguir a carreira determinada pelos pais, casais que ameaçavam se separar, crises financeiras, Mamãe ia, com sua “natureza” a tiracolo, dar um jeito nas coisas.

É, meu caro leitor. A intuição é uma função cerebral tão importante quanto a razão, ou o raciocínio lógico, mas opera diferente, através de caminhos que não conseguimos entender bem. Além disso, a nossa educação, toda firmada em cima de funções lógicas, não dá muito status de saber ao conhecimento intuitivo. No entanto, ele está aí a nosso serviço. É só saber como utilizá-lo, e não reprimi-lo quando ele se manifestar. E, antes que me perguntem: a intuição não tem sexo. Não existe esse negocio de “intuição feminina”. Os homens também a têm, no mesmo grau que nós, mulheres, mas a reprimem de tal forma, e a descaracterizam como “coisa de mulher”, que ela raramente se manifesta entre eles.

No exercício das minhas funções intuitivas, eu dou extrema importância a instintos, a essas mensagens que vêm à mente consciente não se sabe de onde nem por que. Olhei e não gostei, mesmo que não haja nenhum motivo, não me aproximo. “Sinto” que fulano não presta: não faço negócio. Entro no carro e lá vem a voz: “Vá de táxi”. Vou de táxi. Estou de passagem comprada e lá vem a voz de novo: “Não vá não” e eu não vou não. Estou em casa sentada e a voz diz: “Vá”. E eu largo o que estou fazendo e vou.

Foi assim que ontem eu simplesmente desisti de ir à viagem do Cariri, para a qual havia me planejado há dias. Acordei de manhã e a voz disse: “Não vá não!” Disse e repetiu, de maneira tão forte e consistente que eu simplesmente cancelei tudo. Telefonei cancelando a reserva na pousada, cancelei os encontros que havia marcado com os amigos e não fui mesmo.

Aí você me pergunta: “E quem garante que a voz está certa?” Eu, meu caro leitor, eu garanto. A voz é a minha intuição e eu nunca me arrependi de obedecer a ela. É a voz de mamãe, a voz da natureza, da “minha” natureza, sentimento atávico, conhecimento intuitivo, fonte límpida de sabedoria que aí está, à nossa disposição. É só prestar atenção.

Comentários
Sem Comentários »
Categorias
Comportamento
Comentários RSS Comentários RSS
Trackback Trackback

Preparativos para viagem

Clotilde Tavares | 21 de outubro de 2009
Sartre e Simone

Sartre e Simone

A escritora Simone de Beauvoir relata num dos seus livros que Sartre, seu companheiro e também escritor, sempre saía de casa com bastante dinheiro em espécie, passaporte e todos os documentos. Para Sartre, isso significava que, se lhe desse vontade, podia dali mesmo de um daqueles cafés que frequentava viajar para onde quisesse sem precisar voltar em casa. Isso significava liberdade absoluta de ir e vir.

Eu morro de inveja desse tipo de atitude porque sou daquelas pessoas que para viajar nem que seja por dois dias preciso de milhares de preparativos. Desde os tradicionais “que roupa levar”, que somente isso daria um post quilométrico incluindo minha clamorosa indecisão a respeito não somente a roupa mas sapatos, bolsas e acessórios até os meus equipamentos eletrônicos dos quais não me separo e que dão sentido à minha vida. Então: roupa, sapatos, acessórios, maquilage, notebook e sua fonte, câmera, gravador, celular e carregador, o carrgador de pilhas, agenda, caderninho para escrever, canetas, remédios, produtos dietéticos… É uma troçada sem fim, da qual preciso todo dia. Antes levava livros também, mas agora com os livros em PDF (tenho cerca de 400 títulos no notebook) não preciso mais carregar esse peso extra.

Mas antes de viajar também tenho que tomar providências domésticas. O apartamento tem que ficar todo arrumado e a cozinha limpa, senão quando a gente volta, além daquele choque inicial de abrir a porta e ver logo uma bagunça, se ficar sujeira na cozinha cria mofo e atrai insetos. É preciso também deixar as plantas com água e em lugar protegido, mas onde haja alguma luz, para que não morram.

Fora isso, e princialmente se eu for para um lugar onde não tenha Internet ou a conexão seja difícil e precária, é preciso deixar agendados os posts dos blogs, colocar as listas de discussão (quase 30!) em modo web, e enviar antecipadamente as colunas para o jornal.

Então, meu caro leitor, viajar para mim é sempre uma trabalheira; é por isso que só saio de casa se o roteiro me atrair com muita força. Como farei amanhã, indo em direção ao Cariri Paraibano. Mas os detalhes dessa viagem você vai ter que esperar até amanhã para saber.

Comentários
Sem Comentários »
Categorias
Comportamento
Tags
arrumar mala, Cariri, Sartre, Simone de Beauvoir, turismo, Viagem
Comentários RSS Comentários RSS
Trackback Trackback

Pequenos crimes

Clotilde Tavares | 20 de outubro de 2009

Segundo a Wikipedia, a contravenção é “uma infração penal, designada de crime menor, punida com pena de prisão simples ou multa, ou ambas, alternativa ou cumuladamente.” E, continua dizendo que parace não haver diferença entre crime e contravenção, “pois o mesmo fato pode ser considerado crime ou contravenção pelo legislador, de acordo com a necessidade da prevenção social”.

Fazendo uma analogia com as drogas, quando se diz que as chamadas “drogas leves”, como a maconha, podem servir de porta de entrada para drogas mais perigosas, como a cocaína e o crack, eu também posso pensar que a contravenção, que é um crime leve, pode servir de porta de entrada para o crime maior, o crime grande. O camarada se acostuma a viver muito próximo do ilegal até que vai se acostumando e termina por cometer um delito de verdade.

E é fácil detectar esses pequenos crimes no dia-a-dia. Um cara passa sossegado com uma gaiola na mão. Dentro, um pássaro. Será que ele tem licença do Ibama para possuir aquele passarinho? E o outro que conserta, por exemplo, geladeiras e fogões e usa a calçada da casa como oficina de trabalho, de onde se espalha o cheiro dos produtos químicos e da tinta utilizada? Além disso, trabalha sem máscara, sem camisa e descalço, prejudicando a própria saúde e pondo em risco sua vida.

Pelo leito inclinado da rua, desce uma grande grande quantidade de água. Não está chovendo. É um morador da parte alta da rua trocando a água da piscina! A água que ele não quer mais, despeja na rua e ela desce em corredeiras porque o novo rico construiu a piscina mas esqueceu de providenciar uma forma adequada de esvaziá-la.

No corredor do prédio de apartamentos, a mãe manda o garotinho de cinco anos jogar bola com a empregada, por certo quando o guri está insuportável dentro de casa. É como se dissesse: vai ser insuportável no corredor, e aproveita e incomoda os vizinhos. E a madame entra com o cachorrinho poodle no restaurante e dá pedacinhos de comida na boca do bicho, como se ele fosse gente.

E assim caminha a Humanidade, de crime em crime, sem nem saber que é crime porque não tiveram educação em casa, porque as escolas são frágeis, porque as políticas que deviam cuidar disso são frágeis, porque não há como fiscalizar, porque não há como reclamar, porque o dinheiro que devia ser utilizado para dar sustentabilidade às políticas de prevenção some depressa no sorvedouro da corrupção, esta sim, um crime grande, mas que começa e se origina nos pequenos crimes de todo dia.

Contravenção é uma infração penal, designada de crime menor, punida com pena de prisão simples ou multa, ou ambas, alternativa ou cumuladamente.

Não existe na realidade uma diferença substancial entre crime e contravenção penal, pois o mesmo fato pode ser considerado crime ou contravenção pelo legislador, de acordo com a necessidade da prevenção social. Ex: no Brasil, o porte ilegal de armas já foi considerado contravenção penal, com o advento do estatuto do desarmamento hoje é considerado crime.

Comentários
3 Comentários »
Categorias
Comportamento
Tags
codigo penal, contravenção, contravenção penal, corrupção, crime
Comentários RSS Comentários RSS
Trackback Trackback

Você é muito inteligente, superdotado ou gênio?

Clotilde Tavares | 19 de outubro de 2009

Você deve ter visto ontem no Fantástico uma reportagem sobre um garotinho muito pequeno, que é considerado um prodígio. O menino chama-se Oscar, tem dois anos e meio, é uma gracinha e a mãe diz que com um ano e meio ele já tinha um vocabulário de 600 palavras, o que eu considero realmente espetacular haja vista que muitos ceresumanos adultos que conheço não chegam a conhecer e usar 300 palavras.

A reportagem acrescenta que o menino foi levado à Mensa, que é uma organização que aplica testes de inteligência e foi constatdo que o QI do pequeno infante alcançava 160 pontos, coeficiente altíssimo e que seria igual ao de Einstein.

Deixando um pouco de lado o caso do pequeno Oscar, quero falar um pouco sobre a Mensa, uma sociedade fundada na Inglaterra em 1946, que tem hoje mais de 100.000 membros no mundo inteiro e cujo objetivo é congregar pessoas intelectualmente estimulantes e fomentar o convívio entre elas. Tem cerca de 700 membros no Brasil e para filiar-se é preciso ter QI alto, comprovado por entidades reconhecidas pela Mensa ou através de testes por ela aplicados.

Mas o que é ser uma pessoa “inteligente”? Os grupos de estudos e pesquisas discordam quanto a detalhes, mas, no geral, aceita-se uma classificação que envolve três categorias: muito inteligentes, superdotados e gênios. O “muito inteligente” é a pessoa que em um teste de QI reconhecido obtêm um resultado superior a 95% da população em geral, ou seja, dentro dos 5% superiores. A Mensa seleciona como sócios somente aqueles que estão nos 2% superiores.

Já o superdotado é aquela pessoa que apresenta desempenho notável, somado ou não a capacidade intelectual superior, aptidão acadêmica específica, pensamento criador ou produtivo, capacidade de liderança, talento especial para artes visuais, artes dramáticas e música e capacidade psicomotora. O superdotado é curioso, persistente, crítico de si mesmo e dos outros, tem senso de humor altamente desenvolvido, não se conforma com avaliações superficiais, é sensível a injustiças tanto no nível pessoal como no social, é líder e vê relações entre idéias aparentemente diversas, gosta de investigar, faz muitas perguntas, resolve problemas de forma original, é independente, imaginativo, cheio de idéias, e irrita-se com a rotina.

Quanto aos gênios, existem duas definições em disputa pelo termo. Uma delas diz que é possível medir quantitativamente a genialidade pela medição de QI, que estaria entre 180-190. A outra, mais qualitativa, define gênio como aquela pessoa que consiga elaborar raciocínios e inferências tais que, somados a uma intuição também muito acima do normal, lhe permitam não somente imaginar como também formular e realizar uma obra fundamentalmente original e reconhecidamente de alto valor.

Os membros da Mensa são todos muito inteligentes mas não são necessariamente superdotados ou gênios. Entre eles, encontrei o nome de Roger Rocha Moreira, guitarrista e fundador da Banda Ultraje a Rigor, o que mostra que, como eu sempre defendi, há muita vida inteligente no rock and roll.

Visitando esse site da Mensa, é possível acessar um setor onde há testes de inteligência para sua diversão. Em um deles você tem 25 minutos para responder a uma série de questões variadas, sendo o resultado avaliado tanto em termos de acerto quanto em termos de tempo gasto. Além disso, há os desafios em vários níveis, com questões que deixam você louco para largar o que está fazendo e se dedicar o resto do seu dia somente a resolvê-las.

Voltando ao pequeno Oscar, com seu QI de 160, a preocupação dos pais é porque o garoto se sente deslocado na escola, pois comenta e fala sobre coisas que os coleguinhas não entendem. Imediatamente me remeti à minha própria infância, onde sempre me senti uma outsider, uma estranha no ninho, completamente tomada pela síndrome Sheldon-Cooper. Lia muito, conhecia coisas que ninguém sabia o que era e incomodava demais os professores com perguntas que não sabiam ou não queriam responder.

Aos 16 anos, fiz um teste de QI que apresentou 148 pontos; meu pai, que gostava de novidades e que havia me inscrito para o teste, ficou vaidoso, satisfeito, mas isso não adiantou de nada para mim, pois era o ano de 1963 em Campina Grande, época e local que não abriam muitas possibilidades para uma menina filha de gente remediada como eu era, mesmo com esse QI apreciável.

Às vezes penso que a vida teria sido melhor e menos solitária se eu percebesse menos do mundo que me cerca, se compreendesse menos as coisas, se tudo não fosse tão claro; poderia me contentar com pequenos prazeres, com coisas mais simples, não seria tão seletiva e não exigiria tanto do mundo nem das pessoas. Mas essa foi a minha sina e eu tive e continuo tendo uma vida boa, afinal de contas. Gosto da forma como me localizo no mundo e continuo treinando minha mente, para ver se os tais pontos não diminuem muito sob o efeito poderoso dos anos.

Finalmente, recomendo a visita ao site da Mensa, que é muito interessante. Mesmo que você não seja superdotado nem nada, vale a pena a visita, para ler os artigos, navegar por alguns dos links recomendados e divertir-se com os desafios à sua inteligência. E habilidade mental é como qualquer outra: se exercitada, só tende a aumentar.

Comentários
Sem Comentários »
Categorias
Comportamento
Tags
genio, inteligencia, Mensa, superdotado, teste de QI
Comentários RSS Comentários RSS
Trackback Trackback

Os gatos

Clotilde Tavares | 18 de outubro de 2009
Com Galileu. 1995.

Com Galileu. 1995.

Dizem os médicos que as pessoas que têm um bicho de estimação são menos propensas a uma série de doenças. Parece que a companhia do animal desperta nos humanos mecanismos de carinho, de afeto, de atenção, sobretudo naquelas pessoas muito solitárias, não importa a idade. O contato com o bicho, que se apega ao dono de uma forma amorosa e irrestrita, proporciona calma, tranquilidade e um canal para a expressão do afeto. Com isso, vem a saúde, ou pelo menos se evita ou retarda a doença.

Com Julio Braga III. 1999.

Com Julio Braga III. 1999.

Evidentemente, quando os médicos falam essas coisas, estão se referindo a animais tais como um cachorro, um peixinho, um pássaro. Nunca, porém, a um gato.

Os gatos não são animais de estimação. Pelo contrário: nós, humanos, é que somos propriedade desses felinos, que acham que os seres humanos foram criados para servi-los, alimentá-los, acariciá-los e alisar-lhes o pelo. Quer ver?

Zureiúdo. 1967.

Zureiúdo. 1967.

Quando você vai viajar, e coloca a mala em cima da cama para arrumar suas roupas, o gato aparece imediatamente se deita em cima do seu blazer preto de griffe. Para ele, você apenas arrumou aquele lugar para que ele se deitasse.

Compre um sofá novo e caríssimo, forrado com aquele tecido rugoso e tão alinhado. O gato logo entende que aquela textura foi fabricada apenas para que ele afiasse as preciosas unhas. E o patê de atum que você quer preparar para os seus convidados provavelmente será desviado para satisfazer a gulodice do bichano que, atraído pelo cheiro, lhe olhará com olhos suplicantes e ternos, sem um só miado, mas com um convencimento tão grande na expressão que é impossível resistir. Acomode-se na cama, na posição ideal para adormecer ou ler que ele chega, sorrateiro, quente e pesado, deitando-se sobre suas pernas e obstruindo sua circulação.

Teobaldo. 2008.

Teobaldo. 2008.

Não adianta ensinar-lhe gracinhas, como ao cachorro, ou ao papagaio. O gato é superior demais para prestar-se a esse papel. Também não é o melhor amigo do homem: é, sim, o melhor amigo dele mesmo. Orgulhoso, esnobe e delicado, amante amoroso e fera bravia, quando se entrega aos nossos carinhos não o faz por afeto a nós: antes permite que o acarinhemos, recebendo isso como um tributo que nós, humanos, lhe devemos.

Everaldo. 2001.

Everaldo. 2001.

Já pertenci a muitos gatos na minha vida, cada um deles com sua personalidade própria e especial, cheia de nuances. Nessa relação com os bichanos minha vida ganhou um novo significado e me lembro de uma ocasião em que um leitor me ligou uma noite e leu ao telefone um poema que ele fez – adivinhe para quem? Para meu dois gatos, caro leitor, e não para mim, como você talvez tivesse imaginado.

Finalmente, antes que os proprietários de cachorros saiam aflitos em defesa dos seus bichos, dizendo-os mais especiais do que os gatos, respondo com uma simples pergunta. Quando você chama um homem de “cachorro”, você quer dizer o que? E quando o chama de “gato”, qual é o significado? Responda, se for capaz.

Comentários
3 Comentários »
Categorias
Comportamento, Uncategorized
Tags
animal de estimação, bichanos, bicho de estimação, felinos, gato, gatos
Comentários RSS Comentários RSS
Trackback Trackback

Sapatos: um fetiche

Clotilde Tavares | 17 de outubro de 2009

Toda vez que vejo um desfile de modas na TV, ou quando assisto à série America’s Next Top Model, fico fascinada pelos sapatos com saltos altíssimos que as meninas usam.

O sapato, principalmente o de salto alto, é carregado de forte conteúdo erótico e tem gente que é doida por eles. Basta lembrar a personagem Carrie Bradshaw, na série “Sex and the City”. Eu também sou doida por sapatos, tema do post de hoje.

Jimmy Choo – um clássico!

Christian Loub0utin: uma jóia, com seu tradicional solado vermelho.

Yves Saint Laurent: ahhhhhhhhhhhhhh… A propósito, há uma frase dele que eu adoro. Ele diz: : “A roupa mais bonita de uma mulher são os braços do homem que ela ama. Para as que nao têm esta felicidade, eu estou aqui.”

O tênis mais bonito do mundo, que pertence à Rainha Denize – aqui.

Achei aqui.

Seriam os sapatinhos de cristal da Cinderela? Tem mais aqui.

Ai meu Deus! E o tênis-hamburger? Veja mais aqui.

Os MEUS sapatinhos, baixos e de pulseirinha!

E finalmente um clássico: These Boots Are Made For Walking, com Nancy Sinatra, que pisou em cima de muito marmanjo fetichista dos anos 60 para cá.

http://www.youtube.com/watch?v=yRkovnss7sg

A minha sobrinha Gina Gomes me deu a ideia deste post. Era para sair outra coisa, um post somente sobre sapatos bizarros, mas me deixei levar pela paixão das grandes marcas e terminou saindo isso daí.

Comentários
8 Comentários »
Categorias
Comportamento, Uncategorized
Tags
Carrie Bradshaw, Christian Louboutin, fetiche em sapatos, Jimmy Choo, sapatos, sapatos de griffe, sapatos de marca, Sex and the City, shoes, Yves Saint-Laurent
Comentários RSS Comentários RSS
Trackback Trackback

Sem água e sem luz

Clotilde Tavares | 16 de outubro de 2009

Hoje o dia começou estranho por aqui, pois houve uma pane elétrica no bairro; a energia faltou às quatro da manhã e só veio chegar agora às onze. No prédio, antigo e precário, a bomba que eleva a água para a caixa não funcionou – pois faltava energia – e mais ou menos às nove da manhã acabou a água.

Eu acordei morta de calor – o ar condicionado sem funcionar – e, sem poder blogar, twittar, ler e-mails, tomar banho, cozinhar (sem água – fica difícil) e com preguiça de descer os quatro andares (sem elevador) para ir a um lugar qualquer onde o mundo funcionasse, fiquei simplesmente na varanda, curtindo a brisa da manhã e lendo. Não que eu não faça isso todo dia – faço, mas depois de cumprir as outras obrigações, todas elas ligadas a um fornecimento normal de água e energia elétrica.

Então é curioso como o mundo estaciona quando não existem esses dois serviços mais do que básicos. Quando a gente vê na televisão aquelas notícias de catástrofes e desastres naturais, onde as pessoas ficam sem água e sem luz a gente não tem idéia do que é isso. É difícil ficar sem as duas coisas ao mesmo tempo e eu fico cá comigo pensando o transtorno que deve ser isso não para mim, que não tenho obrigações de trabalho com horário fixo, vivo por minha conta e tenho saúde, mas o que deve ser ficar sem água e sem luz para a imensa massa de pessoas que precisam levantar na hora, fazer café, tomar banho, descer de elevador e tudo o mais? E quem tem crianças, ou gente doente em casa? Pois é, meu caro leitor. Por isso não reclamo, nem reclame de mim por só estar blogando a essa hora, uma vez que logo cedo, todo dia, estou aqui com esse pão-de-cada-dia em forma de texto para lhe oferecer.

Você, que acordou, tomou banho, ligou secador de cabelo ou barbeador elétrico, fez café na sua cafeteira, ligou microondas, viu seus e-mails, desceu de elevador e abriu o portão eletrônico com o controle, não reclame de mim: hoje você, sem sombra de dúvida, teve muito, muito mais do que eu.

Comentários
1 Comentários »
Categorias
Comportamento
Tags
abastecimento de água, água e luz, energia elétrica, falta dágua, serviços básicos
Comentários RSS Comentários RSS
Trackback Trackback

Dia do professor

Clotilde Tavares | 15 de outubro de 2009
Dando aula. 1999.

Dando aula. 1999.

De todas as coisas que faço e fiz na vida, e eu garanto que são muitas, talvez a que goste mais de fazer seja ensinar. Ensinar, dar aulas, para mim, é uma das atividades mais importantes a que uma pessoa pode se dedicar. Não é simplesmente ensinar uma técnica, ou passar um conhecimento qualquer. Para mim ensinar é compartilhar experiências. Esse processo é uma coisa tão rica, tão fermentadora de novas idéias, de novas visões, de novos e maravilhosos insights, nos arremessando sempre a um nível mais elevado de existência, que não compreendo como é que ainda não existe a terapia do ensino.

Para mim, a sala de aula sempre funcionou como uma experiência quase transcendental de relação com o outro, de comunhão através das idéias. Por mais chateada, doente, ou estressada que estivesse, ao entrar na sala de aula sempre experimentei uma grande felicidade, e essa é uma das grandes perdas que eu tive com a aposentadoria. Procuro contrabalançá-la dando palestras aqui e ali, me comunicando com os jovens, mantendo viva a cpacidade de aprender/ensinar.

Palestra. 2007.

Palestra. 2007.

Como professora que fui/sou desde a minha juventude, penso que ninguém ensina nada a ninguém. As pessoas aprendem quando estão motivadas para isso e acho que essa é a verdadeira função do professor: motivar seus alunos a experimentarem a aventura do conhecimento. Eu gostava de dizer que meu objetivo como professora era “plugar” o meu aluno no Universo, coisa que a maioria não consegue fazer sozinho. Quando eu conseguia com que ele “se ligasse”, o trabalho estava feito, e daí em diante era só orientar a leitura, compartilhar experiências e conhecimentos, e ver o milagre daquela mente jovem descobrindo o Mundo.

Com alunos. 2006

Com alunos. 2006

Sempre tive dedicação integral aos meus alunos. Sempre acreditei que, como o professor de natação, qualquer professor não pode ficar na borda da piscina: tem que cair na água junto com o discípulo, e sempre estar disponível quando ele precisar. Aqueles que foram meus alunos e que lêem essas linhas sabem o que estou dizendo e é com prazer que os encontro no cotidiano, aqui e ali, já profissionais, e fico feliz de saber que contribuí para a construção daquele ser humano tão especial.

Como falei no início, ensinar é uma coisa tão rica e tão excitante que não sei como os médicos ainda não inventaram a terapia do ensino. Está estressado, doente, entediado, ansioso, angustiado? Dedique-se a ensinar a alguém qualquer coisa que você saiba fazer, qualquer conhecimento que você domine. Seja lá o que for, compartilhe com alguém. Garanto que você vai se sentir muito melhor.

Comentários
Sem Comentários »
Categorias
Comportamento, Uncategorized
Tags
15 de outubro, Dia do professor, ensinar, ensino/aprendizagem, professor, sala de aula
Comentários RSS Comentários RSS
Trackback Trackback

« Entradas Anteriores Próximas Entradas »

Tópicos Recentes

  • A CARA DA RIQUEZA
  • GERÚNDIOS
  • ROMANCEIRO VIVO
  • Estranhas iguarias
  • Adiza Santa Cruz Quirino, “Tia Adiza” (1916-1990)

Tags

barulho barulho urbano biblioteca blog blogosfera Braulio Tavares cabelos brancos Campina Grande Cariri Cariri Paraibano Carnatal cinema comportamento humano corrupção Coxixola cultura popular Design escrever escritor Fotografia e design gatos Gerúndios Hamlet Harold Bloom hoax idade Internet leitura Literatura literatura de cordel livros meio ambiente Memória Moda mundo blog Natal Nilo Tavares padrão de atendimento Paraíba poesia sertão Shakespeare teatro turismo Viagem

Categorias

  • Arte (57)
  • Comportamento (202)
  • Cultura (103)
  • Curiosidades (62)
  • Fotografia e design (20)
  • Humor (44)
  • Memória (45)
  • Pop-filosofia (12)
  • Qualidade de vida (30)
  • Sem categoria (40)
  • Tecnologia e Internet (26)
  • Uncategorized (65)
  • Viagens e turismo (27)

CURRÍCULO MIAS

  • #DiretoDaBolha
  • Currículo
  • Livraria
  • Quem sou?

Arquivos

  • outubro 2025 (1)
  • julho 2024 (4)
  • julho 2023 (7)
  • março 2023 (1)
  • abril 2022 (1)
  • novembro 2021 (1)
  • junho 2021 (2)
  • abril 2021 (6)
  • agosto 2020 (1)
  • julho 2020 (1)
  • junho 2020 (1)
  • outubro 2019 (2)
  • abril 2018 (1)
  • janeiro 2018 (5)
  • novembro 2017 (1)
  • agosto 2017 (2)
  • junho 2017 (1)
  • maio 2017 (2)
  • março 2015 (1)
  • fevereiro 2015 (4)
  • janeiro 2015 (9)
  • julho 2014 (2)
  • maio 2014 (4)
  • dezembro 2013 (1)
  • setembro 2013 (6)
  • junho 2013 (1)
  • março 2013 (1)
  • setembro 2012 (3)
  • agosto 2012 (1)
  • maio 2012 (1)
  • fevereiro 2012 (1)
  • janeiro 2012 (1)
  • dezembro 2011 (5)
  • novembro 2011 (2)
  • outubro 2011 (3)
  • junho 2011 (1)
  • maio 2011 (2)
  • abril 2011 (3)
  • janeiro 2011 (14)
  • outubro 2010 (3)
  • setembro 2010 (11)
  • agosto 2010 (3)
  • julho 2010 (5)
  • junho 2010 (2)
  • maio 2010 (5)
  • abril 2010 (13)
  • março 2010 (19)
  • fevereiro 2010 (18)
  • janeiro 2010 (17)
  • dezembro 2009 (25)
  • novembro 2009 (28)
  • outubro 2009 (31)
  • setembro 2009 (29)
  • agosto 2009 (28)
  • julho 2009 (30)
  • junho 2009 (27)
  • maio 2009 (29)
  • abril 2009 (29)
  • março 2009 (6)

Agenda

dezembro 2025
D S T Q Q S S
 123456
78910111213
14151617181920
21222324252627
28293031  
« out    

Meta

  • Acessar
  • Feed de posts
  • Feed de comentários
  • WordPress.org
rss Comentários RSS valid xhtml 1.1 design by jide powered by Wordpress get firefox