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Anágua, combinação e corpete.

Clotilde Tavares | 8 de maio de 2009

Todo domingo de tarde me reúno com uns amigos no shoping para tomar cafezinho e conversar. Colocamos as novidades em dia e – como se dizia antigamente – discreteamos sobre assuntos variados, onde tudo é válido, onde pode tudo, e onde o papo é livre e enriquecedor porque todos respeitam a opinião uns dos outros.

Aí quando foi um dia desses, um dos rapazes me perguntou: “Clotilde, para que serve a anágua no traje feminino?” Aí, antes que eu explicasse, as três mulheres do grupo, eu incluída, relataram que não estava usando anágua, mas duas, eu incluída, disseram que usavam em determinadas ocasiões.

Criou-se então uma controvérsia sobre os termos “anágua” e “combinação” (que é outra peça do underware da mulher), e começou a surgir de tudo: califon, sutiã, corpete, caleçon, espartilho, anquinhas, cinta-ligas, cinturita,  e por aí vai.

Então, meu caro leitor, prepare-se para esta viagem subterrânea pela intimidade feminina. E nada melhor do que começar lendo esse trecho do escritor Pedro Nava.

corselete3(…) “Para a sala de jantar dava um quarto devoluto onde nós brincávamos e onde certa vez recolheu-se uma das minhas tias em férias conjugais. O demônio do homem andava insuportável… Dela me veio a  grande revelação. Que idade eu teria? Cinco? Seis? Mal fui notado no canto onde me divertia com velhos carretéis. A tia começou a vestir-se, na penumbra, ajudada pela Rosa. Primeiro apertou o colete “devant-droit” sobre a camisa que logo subiu, ao arrocho, mostrando as ligas de seda verde que prendiam as meias noturnas abrindo rendados sobre o nacarado da pele. A Rosa, por trás, atacava os cordões. Aperta mais, Rosa. A cintura se afinava e acentuava-se o 8 do talhe. Em cima desabrochava uma taça, transbordante de gelatina branca. Embaixo abriam-se os amplos, generosos flancos, desenhando curvas laterais, estufando globos posteriores, esculpindo, em negativo, o triângulo coxa-pente-coxa… Assim em menores ela colocou o chapéu e a “pleureuse” desceu como uma cascata sobre a brancura dos ombros de magnólia. Passou uma blusa rendada, depois de ter guarnecido a arraigada das mangas corselete1com aquelas meias-luas imperméaveis que recolhiam o suor das axilas. Eis senão quando a Rosa dá-lhe a primeira saia, rija de goma, que foi vestida de baixo para cima, como uma calça. Depois de presa na cintura, a negra abraçava as cadeiras da sinhá e vinha apertando de cima para baixo, para ajeitar os folhos, duma dureza de madeira. Manobra idêntica com a segunda anágua. Idem com a terceira. Na quarta eu, que olhava fascinado, quis ajudar a fazer, como a negra, o gesto de compor o vestuário. Abrançando d’alto a baixo. A tia olhou-me duramente, quis adivinhar, achou pelo menos insólito o meu propósito , entreabriu a porta e expulsou-me.  (…) Pedro Nava, em Baú de Ossos (Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 2ª. ed. 1973, p. 255)

Ah, meu caro leitor. Que escritor estupendo! Que trecho lindo, revelador, sensual, delicado, cinematográfico! Quem nunca passou por um momento desse na infância, de espreitar a intimidade dos adultos, principalmente aquela intimidade que normalmente ficava oculta, das roupas de baixo das mulheres, tantas e de formas tão variadas, feitas para ocultar aquilo que tanto queríamos ver?

Anágua de renda, para vestir por cima das "de goma".

Anágua de renda, para vestir por cima das "de goma".

E aí surge a resposta para a primeira pergunta dos nossos amigos que, em pleno século XXI, século da vulgarização da nudez e do sexo explícito mostrado na TV às dez da manhã ainda querem saber para que serve a anágua no traje feminino e ainda acendem os olhos quando rememoram o mistério das carnes ocultas e disfarçadas sob os panos.

Bem, a anágua serve para duas coisas, fundamentalmente: ocultar, e armar.

Funções contraditórias, essas. No trecho de Pedro Nava, citado acima, que reflete a vestimenta de 1910 (porque o autor nasceu em 1903 e disse ter uns cinco ou seis anos na época da “visão”)  a anágua “dura de goma” armava as saias de cima, disfarçando os contornos do corpo de forma que não se pudesse adivinhar de que jeito seria a mulher. A acentuação da cintura pelo colete apertado tinha como objetivos erguer e fazer desabrochar o busto acima do decote, muito embora só os contornos se percebessem, porque decotes só eram aceitos em vestidos de noite. Mas da cintura para baixo tudo seria mistério, e não deixava perceber se a criatura tinha quadris fartos ou murchos, como eram as coxas e pernas, se finas ou grossas.

Vestido rodado, armado por anáguas engomadas.

Vestido rodado, armado por anáguas engomadas.

Quando eu era mocinha, na década de 1960, usávamos as anáguas ainda duras de goma para armar os vestidos, de largas saias rodadas e cintura no lugar. Lembro-me de que eu tinha umas duas ou três anáguas “de goma” e uma mais bonita, de renda, para vestir por

Corpete, do tipo "feito em casa".

Corpete, do tipo "feito em casa".

cima das outras, logo abaixo do vestido. Da cintura para cima, usava-se um “corpete”, que era um sutiã cuja parte sob os seios prolongava-se até a cintura. E ainda tinha a calcinha por baixo do monte de anáguas. Se a roupa fosse mais simples, com saia não tão rodada, a anágua era mais estreita, sem goma, e geralmente feta de um tecido sedoso com barra em renda.

A combinação.

A combinação.

O sutiã curto, ou seja, com apenas uma tira de tecido sob o busto abotoando nas costas, começava a se impor no traje feminino no final da década de 1950 mas era necessário vestir por cima do sutiã e da calcinha uma “combinação”, que era uma peça de seda como um vestidinho de alças. O objetivo era disfarçar os detalhes do sutiã, sobretudo se a roupa de cima era muito fina. Ainda não era de bom-tom, como hoje, revelar os detalhes da roupa de baixo.

Lembro-me do ano de 1960, no Colégio Alfredo Dantas, em Campina Grande, onde eu estudava a 2ª. série do curso ginasial, equivalente talvez à sexta série de hoje (eu tinha 12 anos), quando uma colega mais velha abriu a blusa e mostrou um sutiã deslumbrante, comprado em loja, e não aquele tipo que Mamãe costurava em casa, e que todo mundo usava. Foi um assanhamento de meninas olhando aquela maravilha, e não sosseguei então não fiz Mamãe comprar um para mim. Era um De Millus, e do primeiro sutiã a gente realmente nunca esquece.

Anágua estreita.

Anágua estreita.

Então, a equação era assim: corpete + calcinha + anáguas armadas + vestidos rodados; ou corpete + calcinha + anágua estreita + vestidos simples, sem roda; ou ainda sutiã + calcinha + combinação por cima de tudo + vestido.

Isso era nos anos 1950-1960 em Campina Grande, na Paraíba, e pode não conferir com o uso em outras plagas deste Brasil e de outros países, porque imagino que meus leitores sejam assim muito cosmopolitas e habitem em lugares muito diferentes.

Esse assunto, de roupa íntima feminina, dá “pano pras mangas” e eu ainda pretendo voltar a ele. Se for escrever aqui tudo o que o tema me suscita na imaginação, vira um livro e o meu caro leitor, apressado como sempre, me abandona sem perdão, para ler outros blogues mais curtos, mais sintéticos, menos prolixos, mais cheios de figuras.

Eu volto em outro dia porque ainda faltou falar de duas peças que me fascinam: o espartilho e a cinta-liga.

Enquanto isso, leia o excelente artigo sobre “Moda e Representação Social”, de Fátima Quintas, e este outro, de Edina Regina C. Panichi, que trata da construção textual na obra de Pedro Nava.

UPDATE: Minha gente, fui conferir o link do artigo da professora Fátima Quintas e encontrei problemas; então me perdoem, enquanto eu vasculho a internet à procura do lugar onde foi parar este maravilhoso texto, que eu queria muito que todo mundo lesse.

Este post é dedicado a João Batista – que me fez a pergunta “Para que serve a anágua?” e também ao Movimento Neo-Tibiri da Mesa Redonda.

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anágua, calcinha, combinação, lingerie, Moda, moda íntima, Paraíba, roupa de baixo, soutien, sutiã, underware, vestimenta, vestuário
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A máquina de escrever

Clotilde Tavares | 6 de maio de 2009

_maquina_de_escreverUm dia desses, o médico Marcus Aranha, em artigo no Correio da Paraíba, falava sobre uma máquina de escrever muito querida, uma velha Olivetti que o acompanhou durante muito tempo na sua atividade de escrever.

As pessoas de menos de 25 anos não sabem o que é isso. Muitas delas provavelmente jamais se sentaram em frente a uma máquina de escrever e, ao som do matraquear de suas teclas, escreveram poesias, contos ou trabalhos escolares.

Mário Prata

Mário Prata

Há uma deliciosa crônica de Mario Prata, que você pode ler inteirinha no site do autor, que conta como duas crianças explicam para a mãe sobre um curioso artefato que encontraram nos guardados de uma velha tia.

As crianças dizem que é uma máquina tipo um teclado de computador e que há uma “impressora” ligada nesse teclado, só que sem fio. E continuam maravilhadas dizendo que é só digitar que a máquina imprime direto na folha de papel, sem precisar “aquela chatice” de ligar o computador, esperar entrar, entrar no Word, escrever olhando na tela, mandar para a impressora e esperar imprimir, sem precisar ligar na tomada, nem comprar cartucho, nem nada. E o único problema da máquina – que as crianças consideram de menor importância – é que não dá para trocar a fonte nem aumentar a letra!

Máquina Olivetti igual à que tive durante décadas.

Máquina Olivetti igual à que tive durante décadas.

É curioso como coisas tão indispensáveis como as máquinas de escrever se tornaram obsoletas do dia para a noite com o advento dos computadores, que simplificaram e embelezaram o trabalho de compor nossos textos, com uma variedade de tipos e formatos que tornam qualquer criança da terceira série de hoje mais cheia de recursos do que as grandes gráficas de quarenta anos atrás.

Ah, meu caro leitor! Os milagres da tecnologia são tantos que nos fazem esquecer da boa, sólida e valorosa máquina de escrever. Eu mesma, que escrevo à máquina desde os doze anos de idade, muitas vezes adormeci ao som do seu suave batucar enquanto papai escrevia na sala de jantar.

Acordava no meio da noite e lá estava o barulho da máquina, aqui e ali cortado por pausas, umas curtas, outras mais longas, as pausas da inspiração, durante as quais ele pensava, meditava, e fazia contato com esse terreno misterioso de onde vêm as idéias. Dali, daquela valente máquina, o meu pai tirava os seus textos, poemas e, mais do que tudo, o nosso sustento. Posso dizer que, em todos os aspectos, devo o que sou hoje a uma máquina de escrever.

E já que andei mexendo no baú das velharias, uma foto do passado.

Os jornalistas Nilo Tavares (meu pai) e Epitácio Soares, e o professor Stenio Lopes, em plena atividade na Federação das Indústrias do estado da Paraíba, onde Papai era o chefe da secretaria.

Os jornalistas Nilo Tavares (meu pai) e Epitácio Soares, e o professor Stenio Lopes, em plena atividade na Federação das Indústrias do Estado da Paraíba, onde Papai era o chefe da secretaria. O ano é algo em torno de 1962, 63.

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Epitácio Soares, máquina de escrever, Mário Prata, Nilo Tavares, Olivetti, Stenio Lopes, Tecnologia e Internet
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Chove chuva…

Clotilde Tavares | 3 de maio de 2009

E HAJA CHUVA

Neste domingo, é só chuva por todo o lado. Meu apartamento no sexto andar parece estar suspenso em meio à névoa, mas não é névoa, é chuva mesmo, muita água. No interior nordestino, está tudo verde, tudo molhado, tudo lindo. Também há enchentes, há gente desabrigada, e fico triste de ver que o que causa tanta alegria a uns é suficiente para destruir a vida de outros. O trovão ribomba, e eu sinto uma saudade danada do interior, de estar naqueles serras, naqueles grotões, vendo o mundo se acabar debaixo dágua. Nem mesmo eu entendo porque sinto isso, porque nunca vivi nesses lugares. Deve ser coisa do DNA sertanejo que herdei dos antepassados.

ISSO É QUE É AVENTURA!

Veja no video a rapaziada caminhando em cima do paredão do Açude Gargalheiras, um dos maiores do Rio Grande do Norte. Um escorregão, e lá se vai uma queda de 30 metros vertedouro abaixo.

AUGUSTO BOAL

Morreu Augusto Boal, um dos maiores nomes do teatro, estudado no mundo inteiro, mais lá fora do que no Brasil. Lembro-me de uma oficina que fiz com ele na década de 1990, em Natal, uma experiência inesquecível. Depois, fomos todos à Praia de Ponta Negra, ver a Lua Cheia, e ele parecia um menino, rindo com tudo, se divertindo com tudo. Fica o registro e a tristeza da perda, para o teatro e para o mundo.

OS BOLINHOS

Ontem de noite, chovendo, sem ter o que fazer, deu vontade de fazer bolinhos, logo eu, que não sou chegada às artes culinárias. Lembrei da infância, revi Tia Adiza fazendo o mesmo nas tarde de sábado em Campina Grande, resgatando todo o saber culinário do Cariri nas suas mãos de ouro, e botei a minha mão, mesmo trôpega e rudimentar,  na massa. O resultado está aí, e a receita a seguir.

bolinhos-1bolinhos-2bolinhos-4bolinhos-5

Ingredientes: 1 gema, 4 colheres de sopa de margarina, 3/4 xícara de açúcar, 1/2 xícara de farinha de trigo, 1 xícara de maizena. Numa tigela bata a gema, a manteiga e o açúcar, acrescente aos poucos a farinha de trigo e a maizena. Quando estiver meia dura, amasse bem com as mãos. Faça pequenas bolinhas, achatando-as com um garfo. Leve ao forno médio em assadeira untada, por 15 minutos ou até que começem a dourar.

Se até eu consegui fazer, você acerta.

Esse post é dedicado a Tia Adiza, sentada na nuvenzinha, cuidando dos anjos do céu.

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açude, Augusto Boal, bolinhos de goma, receitas, teatro, turismo
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Boas idéias!

Clotilde Tavares | 2 de maio de 2009

Sábado é dia de botar a mão na massa e fazer aquelas coisinhas básicos na casa ou no apartamento. São pequenas modificações que dão um astral diferente ao ambiente e fazem a sala ou o quarto parecerem novos. Vai aqui a contribuição do Umas & Outras, com umas ideiazinhas simples e fáceis, que podem servir para alguma coisa. As fotos foram colhidas por aí, pela Internet, mas no final eu lhe darei uns links onde você vai encontrar muito mais.

Forma inteligente e organizada de carregar o celular.

Forma inteligente e organizada de colocar o celular para carregar.

Restos de lã coloridda e um crochê básico para cobrir o banquinho,

Restos de lã coloridda e um crochê básico renovam o banquinho,

Seu arquivo de pastas suspensas ganha roupa nova, em patchwork!

Seu arquivo de pastas suspensas ganha roupa nova, em patchwork!

Veja

Veja a praticidade dessa prateleira! Mas o livro de baixo tem que ser um que você não precise mais.

Nada mais prataico para pendurar as bolsas, ocupando pouco espaço.

Nada mais prático para pendurar as bolsas, ocupando pouco espaço.

Quadro de avisos feito com bastidores de bordado.

Quadro de avisos feito com bastidores de bordado.

Para colorir um banheiro cinza...

Para colorir um banheiro cinza...

Para sua coleção de canecas.

A coleção de canecas organizada e visível.

Não tem prato adequado para servir o bolo e os docinhos? Improvisa!

Não tem prato adequado para servir o bolo e os docinhos? Improvisa!

E finalmente essa canequinha que todo nerd como eu adora!

E finalmente essa canequinha que todo nerd como eu adora!

Visite esses sites, qeu são absolutamente viciantes para quem gosta de decoração, craft e DIY.

– De(coeur)ação

– Apartment Therapy

– Martha Stewart

– Design*Sponge

– Do It Yourself

– Instructables

E pronto: vamos parar por aqui senão você não vai fazer mais nada durante a semana visitando não somente esses sites, mas todos os links indiccados por eles, que são excelentes para quem gosta desse tipo coisa. Eu gosto, e minhas caixas de ferramentas são de dar inveja a muito profissional!

Este post é dedicado a Rosário Moura.

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arquitetura, Arte, artesanato, craft, DIY
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A síndrome de Benjamin Button

Clotilde Tavares | 1 de maio de 2009

baoba05A propósito do título de post recentemente colocado aqui – Velhice fashion: uma estorinha de shopping – muita gente me questionou sobre o uso do termo velhice. Acham que eu deveria ter escrito outra coisa. Meia idade, terceira idade, melhor idade, boa idade, idade madura. O termo velhice, dizem, agride, deprecia, desagrada.

Bem, a mim, não desagrada não. Já fui menina, fui jovem, adolescente, mulher nova em idade fértil com filhos e maridos e agora, aos 61 anos, estou entrando na velhice, por que não? Penso que o importante não é manter-se jovem, mesmo porque isso é uma tarefa impossível. O corpo se deteriora, por mais cuidado que tenhamos com ele. É a evolução natural das coisas e eu vejo como uma maluquice essa luta inglória e sem resultado contra os sinais que a passagem dos anos vai marcando na face, no corpo e, principalmente, no funcionamento dos órgãos internos.

arvore_para_blog02 Mais do que “manter-se jovem” o que importa, o que vale a pena, é envelhecer bem, feliz, satifeita, tentanto continuar saudável, continuando a ter prazer nas coisas da vida e – para mim o principal – descobrindo prazeres novos, que só estão acessíveis às pessoas velhas. Velhas, sim. Eu insisto no termo. O oposto de “juventude” é “velhice” e não “terceira-idade”. O que deve amedrontar as pessoas não é a palavra “velhice” mas palavras como solidão, pobreza, abandono, dor, impotência, desconforto, perda da autonomia, ingratidão, desprezo. De uma coisa tenho certeza: estou na fase melhor da minha vida e nem por todo o dinheiro do mundo gostaria de ter de volta minha confusa, sofrida e solitária adolescência. É claro que há umas coisas que eu gostaria que fosse de outro jeito agora: mas nenhuma delas tem a ver com a idade.

arvore_para_blog01Tenho um irmão, piadista e engraçado, o meu querido Pedro-Quirino-Meu-Irmão, o rei da “boutade” – que diz o seguinte: “Quando eu completei 37 anos uma pessoa me disse: – Desejo que essa data se reproduza por muitos e muitos anos. Então, continua ele, todo ano eu completo novamente 37 anos…

Não tenho, como muitos, a síndrome do Benjamim Button – refiro-me ao filme como Brad Pitt onde o personagem nasce velho e vai remoçando ate morrer bebê. Mas há pessoas que chegam numa fase da vida e começam a querer regredir, a “tornarem-se jovens outra vez”, submetendo-se a tratamentos e cirurgias, dietas malucas, injeção de todo tipo de substância por baixo da pele e uma desvairada busca pelo prazer – não o prazer da mente calma e satisfeita, mas o prazer de um corpo que parece que, ao longo da vida, não teve muitas chances de se divertir, de satisfazer seus anseios e suas necessidades.

baoba_bairrocajueiro_recifeCada qual com “a dor e a delícia de ser o que é”, como dizia o poeta, mas eu graças a Deus satisfiz meu corpo à vontade na época adequada e hoje posso desfrutar do sossego do “Enfim, só!”, e ler meus livros, ver TV, escrever e sem sentir nenhuma necessidade do eterno replay dos bares de fim-de-semana. Voltando à síndrome de Benjamin Button, ela está largamente disseminada e até parece ter atacado algumas pessoas que conheço. Há três anos – ou seja, em 2006 – sem ser intencional e puramente por acaso, descobri que uma das pessoas do meu círculo de relações tinha 62 anos, em lugar dos 55 ou 56 que ela dizia que tinha. Há algumas semanas, já agora em 2009, soube que a criatura estava completando 59. Qualquer criança de sete anos de idade que sabe somar e subtrair consegue fazer os cálculos e diagnostica a síndrome de Benjamin Button…

arvore_para_blog04Mas eu não tenho nada contra isso não; se a criatura quer dizer que tem 14 anos de idade, o que é que eu tenho com isso? Só penso até quando será possível manter tal farsa, e se não seria mais saudável assumir a idade que tem, porque mentir dá um trabalho danado.

Eu acho bom pertencer a este clube de mais de 60 anos. Outra amiga, que não é portadora da síndrome mas estava um pouco apreeensiva por ter completado sessenta anos, me mandou um email em que dizia: “Fui dormir com 59 anos e acordei com 60”. Depois, mostrava-se um pouco assustada com a realidade da chamada “terceira-idade”, dizendo que a menininha saltitante de cachos nos cabelos ainda existia em algum lugar dentro dela, mas em outros momentos o que aparecia era a sexagenária, não tão saltitante assim.

gameleira_conv_sao_franciscoEu saudei-a com um sonoro “Bem vinda ao clube!” Bem-vinda, querida, ao clube da meia-entrada em cinemas, museus e assemelhados – em alguns a entrada é gratuita. Bem-vinda ao clube do atendimento preferencial em bancos, super-mercados e outros. Bem-vinda ao clube da hospedagem mais barata em todo o país, numa rede de hotéis conveniados . É um projeto do governo via Ministério do Turismo, para estimular as viagens desta população que tem tempo, dinheiro e ainda tem disposição para bater pernas por aí. Bem-vinda à terceira maior população de idosos do país (a Parahyba, sim senhora!), como ouvi dizer um dia desses. E no Brasil, como um todo, minha amiga, já somos 10% da população. Bem-vinda às muitas vantagens, por exemplo, na hora de uma demanda judicial, e a tratamento preferencial em várias instâncias da vida social. Bem-vinda ao direito de não levar desaforo pra casa, porque quem agride um idoso o discrimina duplamente!

01012006-001Aconselho a todos, jovens e velhos, a lerem direitinho o estatuto do idoso, que pode ser encontrado na Internet. Reafirmo que é melhor ser a mulher de agora, sábia e experiente, do que a boba menina dos cachinhos. A idade acrescenta experiência, calma, tranqüilidade, satisfação e a possibilidade de desfrutar da vida de uma forma suave e sem pressa que os jovens contraditoriamente não têm, mesmo tendo teoricamente a vida toda diante de si. Digo e repito: é muito melhor ter 60 anos do que ter 56, 57 ou 58, por exemplo.

Mas é preciso ficar atento e não abrir mão de uma alimentação equilibrada, exercício físico, e estar sempre buscando novas e diferentes atividades porque é isso que mantém o cérebro ativo e livre das doenças degenerativas. Eu mesma agora descobri uma diversão legal: o Sodoku, que é aquele joguinho japonês com números.

E este bloguinho, onde todo dia escrevo, mantendo minha mente ágil, ligada numa discussão, numa troca de idéias, nessa saudável atividade mental que, junto com outras brincadeiras, a gente vai inventando por aqui, praticando a felicidade e driblando o Alzheimer.

°°°°°°°°°

Ilustrei este post com árvores, todas elas velhas, firmes, frondosas e belas. Para chegar a isso, precisaram viver bastante tempo. Algumas fotos são minhas, outras foram pescadas por aí na Internet, em ato claro de pirataria, mostrando que mesmo com 61 anos eu ainda continuo disposta a fazer molecagens.

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Velhice fashion: mais uma estorinha de shopping

Clotilde Tavares | 28 de abril de 2009

shopping41Se eu fosse contar aqui o que já me aconteceu em shopping-centers, consultórios médicos, bancos e em qualquer desses lugares onde há alguém postado atrás de um balcão ou de um guichê para atender ao público – eu ia ter assunto para um livro completo. Um livro cômico, porque as situações são engraçadas; mas também um livro triste, porque certas cenas são tão patéticas que dá vontade de chorar.

A criatura que sempre está colocada atrás de um balcão, ou de um guichê, ou dançando na nossa frente, como já falei aqui, retrata casos graves de despreparo de pessoal, mostrando que é mais do que necessário que se dê um jeito urgente nessa questão, principalmente se os governantes almejam um destino turístico para regiões onde essa indústria ainda é incipiente.

Mas deixe eu contar minha historinha.

oculos-chilli-beans2Estou eu atrás de comprar uns óculos escuros, desses da moda. Entro na lojinha modernosa, com um atendente por metro quadrado, e começo a exprimentar os  artigos do mostruário. Óculos você sabe como é: uma coisa linda, mas que quando se põe no rosto às vezes não fica tão bem.

oculoschanel_round_sunglassesA jovenzinha que me atende – 17? 18 anos? – diz que eu fico linda e maravilhosa com todos os modelos que experimento, e eu vou lá, experimentando e me olhando ao espelho sem dar muito ouvidos ao tagarelar incessante dela. Aí, de repente, não mais que de repente, um modelo ficou belíssimo. Armação vermelha, um material parecido com acrílico, ou plástico, sei lá, lente escura, parecia feito para mim.

A garota disse logo: “Esse é um modelo bem jovem.” E eu fiquei logo pensando que aqueles óculos deveriam ter sido fabricados há uns dois ou três dias, para serem tão jovens assim. Mas só pensei. Não disse. O que eu disse era que tinha gostado daquele, coloquei-o no rosto e fui soltar o cabelo, que estava preso, para ver se o efeito permanecia com o cabelo solto. Tenho o cabelo longo, bem cortado e muito bem tratado.

Quando soltei a cabeleira, e agitei minhas madeixas de um lado para o outro, o efeito foi arrasador. A garota bateu palmas e quase gritou:

– Ai que coisa mais linda! Quando eu ficar velha, quero ficar igualzinha à senhora!

oculoslanding_page_gucci_2Foi um elogio, não foi, caro leitor? Eu pelo menos até hoje tenho tomado isso como um elogio. Estou velha, mas pelo menos já tem alguém que quer ficar igualzinha a mim quando chegar à minha idade. Mas imagine só se eu fosse uma dessas clientes que quer ser jovem a todo custo? A criaturinha maravilhosa que me elogiou, de forma tão espontânea e divertida, teria perdido o emprego ali mesmo se a cliente tivesse se sentido ofendida e feito uma reclamação ao gerente.

Terminei não comprando os óculos. Custavam um-nove-zero, ou seja,R$ 190,00, porque agora não dizem mais o dinheiro nem a idade direito. Agora as coisas custam dois-quatro-três em vez de R$ 243,00 e no aniversário as pessoas completam cinco-ponto-quatro em vez de 54 anos.

Não comprei porque na loja de departamentos em frente tinha uma promoção de um forno de microondas, por um-nove-nove, e eu coloquei mais nove reais e trouxe para casa algo mais consistente e útil do que os tais óculos que me transformaram, pelo menos por um instante, num ídolo da velhice fashion, qual Greta Garbo renascida das brumas do passado.

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Sou feia mas tou na moda!

Clotilde Tavares | 25 de abril de 2009
MC Tati Quebra-Barraco

MC Tati Quebra-Barraco

A frase é da cantora de funk conhecida como MC Tati Quebra Barraco, mas se aplica muito bem ao nosso assunto de hoje.

Todo mundo já ouviu falar de Susan Boyle. Quero dizer: todo mundo não. Hoje mesmo, na minha lista de discussão que também tem o nome de Umas & Outras havia pessoas que nunca haviam ouvido falar dela.

Muito bem: quem é, afinal, Susan Boyle?

susan2É uma irlandesa, dona de casa, de 47 anos, que participou de um reality-show chamado “Britain’s Got Talent” cujo objetivo é descobrir talentos musicais. Os jurados são exigentíssimos, famosos por sua capacidade de arrasar com os candidatos, a não ser que sejam ótimos e muito acima da média. Aí esta mulher vai lá, canta, se sai muito bem e recebe elogios rasgados tanto da platéia como dos jurados.

Jurados do Britain's Got Talent

Jurados do Britain's Got Talent

Até aí nada demais, e eu escamoteei o “contexto” de propósito para que o meu caro leitor perceba onde é que mora o perigo. O contexto têm vários níveis superpostos.

O primeiro deles é que Susan Boyle é “velha”. Ela tem 47 anos e é “velha”, segundo a mídia, para esse tipo de coisa, ou seja, concorrer em programas de TV cantando. Mas não é só isso. Ela também é “feia”. E quem vai para esse tipo de programa geralmente são pessoas jovens e que se adequam ao padrão de beleza aceito pela maioria. No vídeo da apresentação, que circula no YouTube (se não viu, veja agora clicando aqui, e depois volte para terminar de ler!) os jurados fazem cara feia quando ela entra, a platéia mostra sinais de enfado quando ela diz que vai cantar, e então a Susan, por sinal muitíssimo à vontade no palco – pelo menos para o que ela diz que é, uma dona-de-casa – começa a cantar uma música, toda afinada, com voz bonita, uma música de difícil execução e então a platéia e os jurados se surpreendem, deliram, rebentam em aplausos.

Susan Boyle, a "darling" da hora.

Susan Boyle, a "darling" da hora.

Aí começa o fenômeno: o vídeo se espalha no Youtube, onde teve até agora zilhões de views, o público chora, os jurados dizem que foi a coisa mais linda que eles já viram e a Internet se enche de mensagens divulgando o vídeo com textos do tipo desse que reproduzo abaixo, e que me chegou sem menção de autoria:

ABRE ASPAS“Não costumo repassar e-mails, mas esse vale a pena…
Susan Boyle tem 47 anos, para muitos dos que cultivam a fútil e inútil esperança da eterna juventude, é velha…
Susan Boyle é certamente uma mulher que passaria despercebida por entre os homens, porém, se alguém a percebesse, certamente comentaria; “ela é feia, muito feia”.
Susan Boyle é escocesa, mas nasceu em West Lothian e como ela mesma diz, “o lugar é só um vilarejo”.
Susan Boyle está ou estava naquele momento desempregada…
E apesar de ser vista pela sociedade como velha demais, feia demais, caipira demais e pobre demais, Susan tinha um sonho e foi em busca dele…
Enfrentou altiva e orgulhosa os risos cínicos, as expressões de desdém e os olhares convictos de seu fracasso…
Enfrentou e disse: “sonho ser cantora profissional”…
E cantou…
Não sei se Susan Boyle conseguiu ou conseguirá ser cantora profissional, mas voltou para seu vilarejo, certa de que ninguém está condenando a ser ninguém, só porque uma sociedade baseia seus julgamentos em padrões tão medíocres e tão frívolos.
Essa é a história desse vídeo, vejam, vale cada minuto e quem sabe, talvez, mude alguma coisa dentro de cada um de nós.”
FECHA ASPAS

Aí, nova sessão de choro e de emoção entre os que recebem o texto, recheado de estereótipos, e quem lê se identifica com pelo menos dois ou três deles. Susan é “velha”, é “feia”, parece “caipira”, mora num “vilarejo”, está “desempregada” mas, “altiva e orgulhosa”, enfrentou o “cinismo e o desdém” e cantou! (E olhe que eu nem vou analisar esse texto todo, porque ele tem tanta sandice que dá dó.)

Então vi pessoas dizendo que ficaram com os olhos cheios de lágrimas, profundamente tocadas, que tiveram revelação, alumbramento e haja coisa.

De início, não entendi a razão dessa celeuma toda. Porque ela é feia? Muita gente é. Porque ela canta bem? Muita gente canta bem. Porque é feia e canta bem? Muita gente faz as duas coisas. Porque um monte de babacas pensava que ela ia se dar mal e não foi isso o que aconteceu? O mundo está cheio de babacas que têm opiniões idiotas sobre as coisas. Quanto ao desempenho artístico, Britney Spears é lindinha, e não canta nada. Aretha Franklin é feia e manda ver. Norah Jones é linda, e canta bem. E tem um monte de gente que é feia pra caramba e não canta nada.

E tem mais: O que é “ser feia“? O que é “cantar bem”? Tenho certeza de que para muito professor de canto lírico Susan Boyle não canta bem. E é “feia” segundo quais critérios? Por que é diferente de Angelina Jolie, por exemplo? E Angelina é bonita incondicionalmente? Todo mundo acha? Pra ser bonita, tem que ser como ela? Com aquela “boca-de-flor”, que sei que tem gente que não gosta? E se ela – Susan – é “velha”, com 47 anos, eu com 61 sou o quê? Matusalém? Ainda estou mandando ver em tudo o que faço, e não acho nada demais, é o caminhar natural das coisas. Não acho que dou lição de vida a ninguém quando escrevo meus textos, quando subo no palco. Porque Susan Boyle então o faria? Porque é feia, velha, mora num vilarejo e está desempregada? Isso não qualifica nem desqualifica ninguém em relação à performance artística.

Na minha lista, uma pessoa tocou no xis da questão:

ABRE ASPAS “Eu me senti mesmo ‘chocada’, porque eu não imaginava que uma pessoa daquelas tivesse uma voz tão bonita e cantasse tão bem. É por nós, pelo nosso preconceito, nossa mania de subestimar, que Susan Boyle fez tanto sucesso. Foi um tapa na cara (pelo menos na minha foi).FECHA ASPAS

Então talvez seja mesmo essa a grande sacada desse troço todo, a exposição do preconceito. Talvez eu, porque venho de um meio teatral onde a beleza não é tudo, ou melhor, é quase nada – todo mundo sabe que ator bonitinho e atriz charmosinha geralmente são ruins no palco – não me surpreendi com a Susan Boyle “feia” e “velha”. Aliás, só vim me tocar que ela estava sendo considerada “feia” e “velha” depois que comecei a receber as mensagens na Internet.

Aí vem o terceiro nível dessa coisa toda. Só os inocentes de pai e mãe acreditam que esse show todo é reality. Não é reality coisa nenhuma, é tudo ensaiado, tudo fake.

Quero repetir aqui o que postou outro dos meus assinantes (e esses assinantes da minha lista são inteligentes pra caramba!):

ABRE ASPAS “O que não se pode esquecer é que isso é tudo uma peça de marketing, esse programa vive disso, há anos. Os jurados são personagens, existem diretores, redatores, o programa passa por reuniões de pauta e o mais importante os candidatos são rigorosamente selecionados, não se admite que em um show absurdamente lucrativo, e que já se tornou uma franquia internacional, corra-se o risco de não saber o que o pessoal vai fazer na frente no palco. Não se enganem, o diretor do programa, os produtores, os jurados e boa parte da equipe do Britain’s got talent já sabiam que ela cantava razoavelmente bem. Não por coincidência em 2007, no mesmo programa, e com os mesmos jurados se não me engano, um vendedor de celulares ganhou a edição do programa e a primeira apresentação dele foi algo no mesmo estilo de Susan Boyle… Procurem Paul Potts que vocês verão, dois anos antes, a mesma cena que a de Susan, e que rendeu uma enorme divulgação na mídia alternativa (leia-se Youtube e emails spam) pelo mundo afora. Nada mais inteligente do que repetir a dose de vez em quando.” FECHA ASPAS

Isto posto, penso que é preciso pensar um pouco mais e meditar sobre aquilo que se vê, principalmente naquilo que se vê na televisão. O programa excitou o sonho de gente simples, que continua sonhando, vendo programas como esse, cuja função é fazer sonhar, enquanto vendem por muita grana os intervalos comerciais, onde passam propagandas que mostram gente completamente diferente de você, Susan Boyle, e de você, meu caro leitor, que sonhou e se emocionou junto com ela.

As propagandas mostram gente magra, de pele perfeita, músculos definidos, cabelos espetaculares, porte elegante, vestindo roupas de sonho, dirigindo carros de luxo, usando perfumes de griffe, divertindo-se com os amigos na balada, tomando a cerveja ou o uísque da moda. Se são feios ou bonitos pouco importa: são esses os personagens que a mídia nos vende como os seres perfeitos e ideais, e que servem de modelo para aquilo que a própria mídia nos ensina a ser.

NOTA. Terminei de escrever o post e fui remexer a Net em busca de fotos para ilustrar. Aí encontrei as últimas novidades sobre Susan Boyle. Pintou o cabelo, mudou o baton e livrou-se das roupas que mostravam os pneus. Veja aqui e aqui. E já se fala em fazer um filme sobre ela, estando a atriz Demi Moore cotadíssima para o papel principal. Veja aqui. Eu sou a favor! Acho que ela tem mais é que se dar bem e aproveitar.

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O nome dos gatos

Clotilde Tavares | 18 de abril de 2009
Dara

Dara

Aqueles que me conhecem sabem que eu adoro os gatos. Já tive, desde a minha adolescência, incontáveis companheiros bichanos e afirmo que ter um gato é uma experiência única e cheia de conteúdos tão ricos quanto estranhos. Não é como ter um cachorro ou outro qualquer animal de estimação. Ter um gato é diferente de tudo o que você já fez ou imaginou.

Camila

Camila

Aliás, a bem da verdade, você não “possui um gato”. Ele é que se julga seu dono, comportando-se como bem quer e entende, e pensando que você e todos os humanos que o cercam se encontram ali apenas para satisfazer suas vontades: colocar ração, água, alisar-lhe o pelo – mas somente quando ele permite. Quando ele lhe agrada, não é por gratidão ou afeto, como o cachorro: é por interesse, porque quer alguma coisa em troca. Orgulhosos, voluntariosos, preguiçosos, narcisistas… eu simplesmente amo os gatos!

Sobre eles já escrevi incontáveis páginas, e outras tantas crônicas e penso que enquanto viver sempre terei o que escrever sobre gatos. Hoje quero comentar um poema de T. S. Eliot e chama-se “The Naming of Cats”, “O Nome dos Gatos”, que me foi passado pelo meu amigo Zé Roberto Penteado, acompanhado de uma tradução de Ivan Junqueira. Eu simplesmente me encantei com o texto, mas algumas soluções da tradução não me agradaram e eu, metida que sou, mudei algumas coisas. No final deste post, o texto original em inglês.

O texto se inicia dizendo mais ou menos assim:

Bolota

Bizo

“Dar nome a um gato é coisa complicada
E não é tema para brincadeiras
Você pode até dizer que eu sou maluco
Mas cada gato tem três nomes diferentes.”

Então, o poeta diz que o primeiro nome é aquele comum, pelo qual a família chama o bichano no dia-a-dia, como – e aqui vão os nomes dos meus bichanos – Everaldo, Galileu, Julio Braga, Irlanda, Brigitte… Lembrei-me ainda do Bonifácio de “Os Maias”, de Eça de Queiroz, mas esse sozinho merece uma crônica. São nomes sólidos, comuns, e que muitos gatos já tiveram.

Bem, esse é o primeiro nome. O segundo nome é um nome especial, um apelido, que somente aquele gato tem, e pelo qual o devemos chamar pois sem ele, como diz o poeta, como poderia o gato “manter sua cauda ereta e vertical, fazer vibrar os bigodes e arrepiar-se de vaidade”? Aí entram Chininho, Olhinhos Ternos, Bruzundanga, Zureiúdo…

E o terceiro nome? Ah, esse nome é aquele que…

“… ninguém jamais imaginaria
O nome que ninguém consegue descobrir
Que só o gato sabe, e a ninguém confessa.
Quando o vires em meditação absorta
A razão, eu te digo, é sempre essa
Sua mente está entregue ao profundo
deleite de saber que é único no mundo.
E ele pensa, e pensa, e pensa em seu nome
Seu afável, inefável e inenefável
insondável, profundo, singular e puro Nome.”

Bizo e Bolota

Tiara e Bolota

Abaixo, o poema na íntegra. Também ouvi dizer que foi esse poema que serviu de inspiração para o conhecido musical Cats, grande sucesso da Broadway. Os bichanos merecem. Os gatos que ilustram este post são todos do casal Pedro-Quirino-Meu-Irmão/Ledinha. Os meus próprios gatos estão na fila, com um post individual para cada um, num futuro próximo.

The Naming of Cats, da autoria de T.S.Eliot.

The Naming of Cats is a difficult matter,
It isn’t just one of your holiday games;
You may think at first I’m as mad as a hatter
When I tell you, a cat must have THREE DIFFERENT NAMES.
First of all, there’s the name that the family use daily,
Such as Peter, Augustus, Alonzo or James,
Such as Victor or Jonathan, or George or Bill Bailey –
All of them sensible everyday names.
There are fancier names if you think they sound sweeter,
Some for the gentlemen, some for the dames:
Such as Plato, Admetus, Electra, Demeter –
But all of them sensible everyday names.
But I tell you, a cat needs a name that’s particular,
A name that’s peculiar, and more dignified,
Else how can he keep up his tail perpendicular,
Or spread out his whiskers, or cherish his pride?
Of names of this kind, I can give you a quorum,
Such as Munkustrap, Quaxo, or Coricopat,
Such as Bombalurina, or else Jellylorum –
Names that never belong to more than one cat.
But above and beyond there’s still one name left over,
And that is the name that you never will guess;
The name that no human research can discover –
But THE CAT HIMSELF KNOWS, and will never confess.
When you notice a cat in profound meditation,
The reason, I tell you, is always the same:
His mind is engaged in a rapt contemplation
Of the thought, of the thought, of the thought of his name:
His ineffable effable
Effanineffable
Deep and inscrutable singular Name.

Dara

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Dança comigo?

Clotilde Tavares | 17 de abril de 2009

nervosoAs más línguas dizem que eu sou nervosa, estressada, intolerante, impaciente, perfeccionista, que quero tudo do meu jeito, que não quero aceitar as mudanças.

Nada mais falso. Começando pelo final dessa minha extensa lista de defeitos – minha não, que me atribuem – eu tenho a declarar que sou perfeitamente acessível às mudanças, e posso mesmo acrescentar que procuro por elas. Sou doida por mudança, sou maluca por novidade. Todocomputer01 mundo é testemunha de que fui uma das primeiras pessoas a me conectar à Internet, quando a maioria dos seres humanos da minha idade pensava que a rede mundial de computadores era uma coisa para adolescentes, e que era usada basicamente para jogos on line. Estou conectada desde 1993, ou 94, nem me lembro bem.

Quanto a querer tudo do meu jeito – e aqui me lembro daquele personagem que dizia que pintura_urbanasó tinha dois jeitos: o jeito dele e o jeito errado – continuo dizendo que não é bem assim. Descobri, ao longo dessa minha vida de décadas, que há jeitos muito melhores do que o meu jeito, e venho praticando jeitos de todo jeito, em todas as áreas nas quais atuo, e sempre, sempre me dando muito bem.

Agora no que se refere a algumas pragas da vida moderna: som alto, gente sem noção, políticos desonestos (aliás, bastava dizer ”políticos” porque não conheço um só que seja honesto – deve até existir, mas eu não conheço), falta de delicadeza, de cordialidade, de reconhecer e respeitar o espaço do outro… Aí sim, eu sou mesmo nervosa, estressada, impaciente.

caneca_defeitoJá escrevi demais sobre isso, mas sempre tem assunto, sempre tem uma história nova para contar. De novo e sempre e novamente e outra vez voltam à cena esses “ceresumanos, meus dessemelhantes”. Encontrei-os ontem no shopping, quando tentava comprar um presentinho para minha sobrinha-neta, que completou quatro anos. Eu queria comprar uma carteirinha de cédulas para a garota, pois ela já está começando a entender o valor do dinheiro e precisa de um lugar para guardar suas moedinhas e as notas de dois reais que a tia-coruja lhe dá de vez em quando.

Entro na lojinha descolada e divertida, toda enfeitada, com garotas atendentes alegrinhas e risonhas. Enquanto estou me aproximando das prateleiras para olhar os artigos, uma delas, aí dos seus vinte, vinte e poucos anos se aproxima.

– Oi! – e irradia sobre mim toda a energia da sua juventude, enquanto executa um passo de dança no ritmo da música que é transmitida pelo “som” da loja, em volume um pouco acima do normal.

– Oi! – respondo eu, um pouco cansada, e já meio impaciente, pois há quase uma hora ando nesse shopping em busca da tal carteirinha. – Você tem carteirinha de cédulas para menina?

– Oi? – responde a garota, trocando a exclamação pela interrogação, pois o som altíssimo não deixa que ela ouça. Repito a pergunta, e quando já estou quase desconfiada de que o vocabulário dela se restrinja à palavra “Oi”, ela grita para as outras, que estão amontoadas atrás do balcão, em risinhos e cochichos, uma vez que sou a única cliente da loja:

– Mulhééééééééé (assim mesmo, sem o “r”)! Baixa esse som aí, que eu não tou nem conseguindo escutar a cliente!

O som é baixado, e ela me olha, ainda dançando, e diz:

– Oi! Como é seu nome?

– Meu nome? – pergunto eu, sempre surpresa quando acontece de entrar numa loja e quererem saber o meu nome. Eu entrei ali para realizar uma compra, uma transação comercial, e não para fazer amizade. Mas respondo.

– Clotilde.

Ela se derrete toda:

– Oiiiiiiiiiiiii, Matilde!

– Matilde não, minha filha: Clo-til-de.

– Ah, sim, desculpe. Clo-til-des! Pois o meu é Fabiana.

– Oi, Fabiana – respondo eu, na falta de coisa melhor para dizer. – Vocês tem carteirinha de cédulas para menina?

– Para menina não, Clotildes, mas temos umas lindas para meninos, você não quer dar uma olhadinha?

– Não, eu queria para menina. É um presente para uma menina de quatro anos.

– Ah, Clotildes, então você não quer ver outras opções de presentes? Temos cada artigo lindo, e tenho certeza de que a menina ia gostar muito mais do que de uma carteira. Criança de quatro anos não usa carteira ainda!

Isso é discutível. Criança de quatro anos usa agenda, com os compromissos da escola. Por que não poderia usar carteira para guardar o dinheiro do lanche? Mas desisto, não tenho mais energia para continuar a conversa.

– Então se você não tem, obrigada – e vou saindo. Ela vem atrás de mim, pega no meu braço:

– Mas Clotildes, você já vai? Fique mais um pouco!

Bem, isso aqui deve ser algum tipo de festa, penso eu. Aí, acerto o meu passo com o dela, porque a criatura continua dançando o tempo inteiro em que conversa comigo e começo a dançar com ela até ela ficar sem jeito, parar de dançar, quando então a deixo plantada e vou embora sem uma palavra.

Por isso me chamam de impaciente, estressada e sem jeito.

Sou mesmo.

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Sou Flamengo!

Clotilde Tavares | 13 de abril de 2009

clotilde_flaMuitos leitores vão me odiar por essa afirmativa. Mas eu nem ligo. Sou Flamengo sim, desde que me entendo por gente e via na parede da sala de visitas lá de casa, em lugar de honra, um quadro com a seleção tricampeã no início dos anos 50. Nos dias em que o Flamengo jogava, Papai  sentava-se ao lado do rádio e escutava o jogo, enquanto nós ficávamos por ali, lendo ou brincando. E nos acostumamos a torcer junto, a gritar gol, e a cantar o hino, que sei cantar completo até hoje.

É um dos dois times do mundo pelos quais eu tenho paixão (o outro é o Treze Futebol Clube, de Campina Grande-PB).

O Flamengo é paixão, é uma coisa que corre nas veias, e que sempre me alegra quando, indo pela rua, vejo a camisa rubro-negra envergada por alguém.

Então, o 1 x 0 de ontem sobre o Fluminense me deixa feliz, e não resisto a publicar aqui a minha felicidade.

Mengoooooooooooooooooo!

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