Umas & Outras

Arte, Cultura, Informação & Humor
  • rss
  • Início
  • Quem sou?
  • #DiretoDaBolha
  • Livraria
  • FotoComTexto

Álbum de recordações

Clotilde Tavares | 22 de maio de 2009

Hoje é dia de remexer no baú e procurar coisas interessantes para mostrar. Poucas palavras e muita figura, para equilibrar com os quilométricos textos que posto aqui de vez em quando, como foi o caso de ontem.

mcmcmcm

Carnaval de 1950. Estou com meus meus pais, Nilo e Cleuza, e a babá, passeando na rua Marques do Herval, em Campina Grande. A fantasia é de "havaiana", toda feita por Papai em papel celofane vermelho.

vvv

Foto histórica, data do início dos anos 1960, com os jornalistas atuantes na cidade. Vemos Josusmá Viana, Nilo Tavares (meu pai), Luismar Rezende, Epitácio Soares, Ramalho Filho e Leonel Medeiros. Não consegui identificar a figura por trás, entre Ramalho e Epitácio. Talvez seja o motorista do táxi, que naquele tempo se chamava "carro-de-praça".

d

Minha mãe, Cleuza Santa Cruz Tavares, "a Marquesa", em foto de 1945, quando ela tinha apenas 24 anos de idade, com seu cachorro Pinóquio.

r

Meu filho Rômulo Tavares, aos sete anos de idade. Hoje ele é músico e publicitário, tem 41 anos, e mora em Natal.

poema

Carta-poema de 1946, escrita pelo meu avô Braulio Fernandes Tavares ao meu pai, Nilo Tavares, pedindo vinte mil réis para trocar a sola do sapato. Clique na imagem e veha em tamanho maior.

campina

Campina Grande-PB, meu berço natal, com o aspecto que tinha na década de 1950. A rua é a Floriano Peixoto - veja as torres da Matriz à esquerda.

Versos do meu avô Braulio para sua noiva Clotilde. A data é 1906, cento e três anos atrás.

Versos do meu avô Braulio para sua noiva Clotilde. A data é 1906, cento e três anos atrás.

Comentários
2 Comentários »
Categorias
Memória
Comentários RSS Comentários RSS
Trackback Trackback

Olhando sem ver.

Clotilde Tavares | 18 de maio de 2009

É assim que nós vivemos na cidade em que moramos. Eu na capital da Parahyba, você em Natal, São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba, Jucurutu, Mossoró ou Riacho dos Cavalos. Seja lá onde for a nossa moradia, acostumamos o olhar e passamos sem ver por um bocado de coisa, até que alguém nos chama a atenção.

Você viu? aquela estátua, busto, painel, construção, árvore centenária. Aí, a gente vai, e vê.

Falávamos disso ontem na mesa do cafezinho que nos reúne todos os domingos, quando eu me lembrei desse projeto maravilhoso que Sandro Fortunato e Canindé Soares estão fazendo em Natal desde fevereiro deste ano e que já está quase concluído.

Sandro Fortunato trabalha com comunicação há 22 anos, nas áreas de jornalismo e fotografia. Além disso, é internauta desde que inventaram a Internet e mexe com editoração eletrônica e websigner. É autor do site Memória Viva, com o qual já ganhou alguns prêmios IBest. Doido por biografias, dorme de dia e passa a noite acordado mantendo na Internet blogs, sites e tudo quanto é de coisa. Canindé Soares é repórter fotográfico, um dos mais conceituados do Nordeste, com mais de 25 anos de experiência, com um blog que teve cem mil visitas em quatro meses! Conheço ambos há muito tempo e tenho por eles uma grande amizade e uma espetacular ressonância intelectual. Infelizmente, do ponto de vista fisico são a coisa mais diferente de Brad Pitt que você possa imaginar. A confiança e amizade que nos une permite que eu faça gracinhas desse tipo com os dois, e eles continuem meus amigos.

Pois bem: essas duas criaturas heróicas, por conta própria e assumindo os riscos, resolveram juntar seus esforços e cabeças pensantes para fazer um trabalho de documentação de estátuas, efígies, bustos e semelhantes espalhados pelo cidade, e pelas quais a gente passa todo dia e não vê, e quando vê não conhece e sequer adivinha quem é aquele velho bigodudo que nos encara de cima daquele pedestal.

É o próprio Sandro quem explica:

“Em escolas públicas e particulares, autarquias e outras instituições, encontram-se outros bustos e efígies. Todos mais ou menos esquecidos, com seus olhares perdidos no tempo, testemunhando mudanças, lembrando de seus tempos gloriosos e dos motivos que os tornaram imortalizados em pedra ou metal. Calados, olhando mais do que são olhados, acabaram chamando nossa atenção e logo estarão reunidos em livro e também em uma exposição. Será uma reunião de políticos, militares, empresários, religiosos e intelectuais, de várias épocas, como colunista social nenhum jamais sonhou.”

Fã dos dois, desejo a eles o sucesso que merece a iniciativa e envio os parabéns do Umas & Outras. Comemoro esse projeto como uma ilha verdejante em meio ao areal do esquecimento e da desmemória com os quais, pouco a pouco, vamos sepultando o nosso passado.

Comentários
Sem Comentários »
Categorias
Fotografia e design, Memória
Comentários RSS Comentários RSS
Trackback Trackback

A cruz dos heróis

Clotilde Tavares | 15 de maio de 2009

Este texto foi publicado originalmente na Tribuna do Norte, de Natal, em 1999, depois que cheguei de uma viagem que fiz pelo interior do Rio Grande do Norte repetindo o trajeto que Luís da Câmara Cascudo fez em 1934 e que deu origem ao livro Viajando o Sertão.  A minha intenção, terminada a viagem, era a publicação do relato. mas como não houve quem se interessasse em editar, e eu estava sem grana na época, o texto permanece até hoje dormindo na gaveta onde eu vou, de vez em quando, pegar um pedacinho dele para servir aos leitores.


Muita história existe por aí por esse sertãozão. Já dizia o mestre Guimarães Rosa que o sertão é do tamanho do mundo, e vai ver que é mesmo. O meu caro leitor não imagina o que existe por aí por esse interior, para se conhecer, para se descobrir, para se entender.

Em Lucrécia-RN, pertinho da cidade, tem uma cruz plantada na beira da estrada com uma placa com o seguinte dístico: “A cruz dos três heróis. Francisco Canela, Sebastião Trajano e Bartolomeu Paulo sucumbiram neste lugar pelas mãos assassinas de Virgolino Lampião na destemida missão de liberdade de Egidio Dias da Cunha, em 12 de junho de 1927.” O lugar chama-se Caboré, e foi palco dessa sangrenta história que está lá todinha, muito bem contada no livro de Raul Fernandes “A Marcha de Lampião”.

A cruz dos heróis, em Lucrécia-RN.

A cruz dos heróis, em Lucrécia-RN.

A história é a seguinte: os cangaceiros, vindos do Ceará, entraram no Rio Grande do Norte com o intuito de invadir Mossoró. Pelo caminho assaltavam vilas e cidades, e faziam reféns para obter dinheiro. Um deles foi o fazendeiro Egidio Dias, pelo qual os bandoleiros estavam pedindo dez contos de réis.

Rapazes amigos da vítima, corajosos, temerários mas inexperientes, resolveram ir enfrentar os cangaceiros e resgatar o refém. Tudo foi combinado enquanto estavam em um forró, após algumas doses.

É Raul Fernandes quem conta: “A rapaziada saiu despreocupada, em algazarra, estrada acima. Os cabras, emboscados no sítio Caboré, aguardavam que chegassem ao alcance de tiros certeiros. De súbito, ouve-se uma descarga, seguida de outra. Os da frente caíram varados de balas.”

Foram mortos cruelmente os três rapazes que encabeçavam a marcha. Os outros, ao ouvirem os tiros, se jogaram ao chão e rastejaram para dentro do mato, voltando bem mais tarde para recolher os corpos dos amigos.

Zé Maia e Rita Cesária, memória viva da cidade.

Zé Maia e Rita Cesária, memória viva da cidade.

Zé Maia, com quem conversei em Lucrécia, contemporâneo desses acontecimentos, complementa a história e dá detalhes: “Ajuntaram e foram com uma pistola velha, pau, um rifle velho, pra ir atrás de Lampião que tava com um bando de 60 homens. Quando iam conversando, pei-pei-pei, pei-pei-pei, aí Lampião apontou. Dois caíram logo e o tal do Bartolomeu tinha chegado há pouco tempo, era um primo da gente, do exército, um rapaz novo, dizem que ele atirou com a arma de fogo, dizem até que ele matou um, mas os cangaceiros pegaram ele, cortaram os braços, regetaram as pernas, furaram os olhos, destamparam a cabeça, ficou um bagaço. Aí falam que Lampião disse: – Um homem daquele não era pra nós ter matado não, era pra nós ter conduzido ele.” Quanto ao refém, conseguiu fugir, aproveitando-se de uma distração dos bandidos. Raul Fernandes conta que Egídio Dias “desata, com os dentes, o nó da corda. Tira o paletó e a camisa. Arruma as vestes no chão e coloca o chapéu, no lugar da cabeça, de modo a simular sua presença.”

Egídio Dias foi o único prisioneiro a conseguir escapar de Lampião. “Força de reza, minha filha!” confidenciou-me Rita Cesária, mulher de Zé Maia. “Foi a mulher dele que rezou, reza forte. Chegou em casa muito judiado, muito maltratado, mas escapou. Força de reza.”

E quem sou eu pra duvidar?


Mais sobre a minha viagem, aqui.

E para mais histórias ou informações sobre o cangaço acesse o blog da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço.

Comentários
5 Comentários »
Categorias
Memória, Viagens e turismo
Tags
cangaço, Lampião, Viagens e turismo
Comentários RSS Comentários RSS
Trackback Trackback

Hoje é Lua Cheia!

Clotilde Tavares | 9 de maio de 2009

image01919191919Para quem tem 1/3 de natureza lobisomem como eu, a noite de Lua Cheia sempre é cheia de significados. A “natureza-lobisomem” é aquela vontade de virar uma coisa diferente e sair por aí, sozinha, enfrentando o desconhecido, atrás de gente, de agitação, de aventura, “lobisomando”, coisa que acontece mais nas noites de Lua Cheia.

Quando eu era mais jovem, a noite de Lua Cheia sempre era cheia de expectativa, de excitação, sempre havia uma festa boa para ir, gente para conhecer, música para dançar. Hoje ainda tem tudo isso mas a lobisoma aqui está na terceira idade e não tem mais tanta disposição para a caça.

image02020202020Herdei essa natureza-lobisomem da minha mãe, como você pode ver no trecho abaixo, que pincei diretamente do texto que estou escrevendo sobre minhas recordações de infância. As ilustrações são todas com fotos de Lua Cheia, que recebi um dia desses pela Internet.

°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°

” Uma das coisas que eu mais gostava no meu tempo de menina era de ouvir as histórias contadas sobre o tempo em que Mamãe era jovem, era criança, e morava na fazenda. A fazenda ora era a Broca, em Angelim, no Agreste de Pernambuco, ora era Boqueirão, em Caraúbas, no Cariri Paraíba. As histórias, as personagens, excitavam minha curiosidade e me lembro de que queria muito saber quem eram essas pessoas de quem Mamãe falava. Falava-se em tia Emília e eu perguntava:
image0055555– Tia por que?
– Porque era irmã de papai – ela respondia.
E eu ia compondo o quadro. Pepedro, pai de Mamãe, irmão de tia Emília, de tio Bebiano, de tio Azarias…
Aí Mamãe dizia:
– Não, tio Azarias não era irmão de papai, era irmão de meu avô Teotônio.
– E o irmão do avô também é tio, Mamãe?
– É – respondia ela. E explicava: – Tio-avô.
– E o que Madrinhadal é da senhora, Mamãe?
– É minha irmã mais velha. O nome dela é Adalgisa, mas a gente chama Adal. Madrinha Adal. Ela é sua tia. É minha irmã e é também minha madrinha porque como eu sou a sétima filha tive que ser afilhada da mais velha para não virar lobisomem.
image01818181818– E as pessoas viram lobisomem? – perguntava eu.
– Viram sim!
E a voz de Mamãe ganhava um tom sério, dramático, quase religioso.
– Na noite de Lua cheia a pessoa vai dormir e no outro dia acorda todo suja de lama, de terra, cansada, não se lembra de nada. É que virou lobisomem de noite, e passou a noite correndo pelos matos. Mas só quem vira é o sétimo filho…
– E a senhora nunca virou?
– Não! Eu não já disse a você que sou afilhada de Madrinha Adal? Não tem o menor perigo.
– E eu vou virar lobisomem também?
– Oxente, menina! Não vai não. Você é a mais velha…

°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°

Por aí você vê, meu caro leitor, que eu não poderia ser normal mesmo, criada nessa fina linha invisível entre o Mundo Real e o Mundo Imaginário, confundindo os dois de tal forma que até hoje me atrapalho sobre em qual dos mundos estou vivendo.

Amanhã estou de volta.

Comentários
5 Comentários »
Categorias
Comportamento, Curiosidades, Memória
Comentários RSS Comentários RSS
Trackback Trackback

Anágua, combinação e corpete.

Clotilde Tavares | 8 de maio de 2009

Todo domingo de tarde me reúno com uns amigos no shoping para tomar cafezinho e conversar. Colocamos as novidades em dia e – como se dizia antigamente – discreteamos sobre assuntos variados, onde tudo é válido, onde pode tudo, e onde o papo é livre e enriquecedor porque todos respeitam a opinião uns dos outros.

Aí quando foi um dia desses, um dos rapazes me perguntou: “Clotilde, para que serve a anágua no traje feminino?” Aí, antes que eu explicasse, as três mulheres do grupo, eu incluída, relataram que não estava usando anágua, mas duas, eu incluída, disseram que usavam em determinadas ocasiões.

Criou-se então uma controvérsia sobre os termos “anágua” e “combinação” (que é outra peça do underware da mulher), e começou a surgir de tudo: califon, sutiã, corpete, caleçon, espartilho, anquinhas, cinta-ligas, cinturita,  e por aí vai.

Então, meu caro leitor, prepare-se para esta viagem subterrânea pela intimidade feminina. E nada melhor do que começar lendo esse trecho do escritor Pedro Nava.

corselete3(…) “Para a sala de jantar dava um quarto devoluto onde nós brincávamos e onde certa vez recolheu-se uma das minhas tias em férias conjugais. O demônio do homem andava insuportável… Dela me veio a  grande revelação. Que idade eu teria? Cinco? Seis? Mal fui notado no canto onde me divertia com velhos carretéis. A tia começou a vestir-se, na penumbra, ajudada pela Rosa. Primeiro apertou o colete “devant-droit” sobre a camisa que logo subiu, ao arrocho, mostrando as ligas de seda verde que prendiam as meias noturnas abrindo rendados sobre o nacarado da pele. A Rosa, por trás, atacava os cordões. Aperta mais, Rosa. A cintura se afinava e acentuava-se o 8 do talhe. Em cima desabrochava uma taça, transbordante de gelatina branca. Embaixo abriam-se os amplos, generosos flancos, desenhando curvas laterais, estufando globos posteriores, esculpindo, em negativo, o triângulo coxa-pente-coxa… Assim em menores ela colocou o chapéu e a “pleureuse” desceu como uma cascata sobre a brancura dos ombros de magnólia. Passou uma blusa rendada, depois de ter guarnecido a arraigada das mangas corselete1com aquelas meias-luas imperméaveis que recolhiam o suor das axilas. Eis senão quando a Rosa dá-lhe a primeira saia, rija de goma, que foi vestida de baixo para cima, como uma calça. Depois de presa na cintura, a negra abraçava as cadeiras da sinhá e vinha apertando de cima para baixo, para ajeitar os folhos, duma dureza de madeira. Manobra idêntica com a segunda anágua. Idem com a terceira. Na quarta eu, que olhava fascinado, quis ajudar a fazer, como a negra, o gesto de compor o vestuário. Abrançando d’alto a baixo. A tia olhou-me duramente, quis adivinhar, achou pelo menos insólito o meu propósito , entreabriu a porta e expulsou-me.  (…) Pedro Nava, em Baú de Ossos (Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 2ª. ed. 1973, p. 255)

Ah, meu caro leitor. Que escritor estupendo! Que trecho lindo, revelador, sensual, delicado, cinematográfico! Quem nunca passou por um momento desse na infância, de espreitar a intimidade dos adultos, principalmente aquela intimidade que normalmente ficava oculta, das roupas de baixo das mulheres, tantas e de formas tão variadas, feitas para ocultar aquilo que tanto queríamos ver?

Anágua de renda, para vestir por cima das "de goma".

Anágua de renda, para vestir por cima das "de goma".

E aí surge a resposta para a primeira pergunta dos nossos amigos que, em pleno século XXI, século da vulgarização da nudez e do sexo explícito mostrado na TV às dez da manhã ainda querem saber para que serve a anágua no traje feminino e ainda acendem os olhos quando rememoram o mistério das carnes ocultas e disfarçadas sob os panos.

Bem, a anágua serve para duas coisas, fundamentalmente: ocultar, e armar.

Funções contraditórias, essas. No trecho de Pedro Nava, citado acima, que reflete a vestimenta de 1910 (porque o autor nasceu em 1903 e disse ter uns cinco ou seis anos na época da “visão”)  a anágua “dura de goma” armava as saias de cima, disfarçando os contornos do corpo de forma que não se pudesse adivinhar de que jeito seria a mulher. A acentuação da cintura pelo colete apertado tinha como objetivos erguer e fazer desabrochar o busto acima do decote, muito embora só os contornos se percebessem, porque decotes só eram aceitos em vestidos de noite. Mas da cintura para baixo tudo seria mistério, e não deixava perceber se a criatura tinha quadris fartos ou murchos, como eram as coxas e pernas, se finas ou grossas.

Vestido rodado, armado por anáguas engomadas.

Vestido rodado, armado por anáguas engomadas.

Quando eu era mocinha, na década de 1960, usávamos as anáguas ainda duras de goma para armar os vestidos, de largas saias rodadas e cintura no lugar. Lembro-me de que eu tinha umas duas ou três anáguas “de goma” e uma mais bonita, de renda, para vestir por

Corpete, do tipo "feito em casa".

Corpete, do tipo "feito em casa".

cima das outras, logo abaixo do vestido. Da cintura para cima, usava-se um “corpete”, que era um sutiã cuja parte sob os seios prolongava-se até a cintura. E ainda tinha a calcinha por baixo do monte de anáguas. Se a roupa fosse mais simples, com saia não tão rodada, a anágua era mais estreita, sem goma, e geralmente feta de um tecido sedoso com barra em renda.

A combinação.

A combinação.

O sutiã curto, ou seja, com apenas uma tira de tecido sob o busto abotoando nas costas, começava a se impor no traje feminino no final da década de 1950 mas era necessário vestir por cima do sutiã e da calcinha uma “combinação”, que era uma peça de seda como um vestidinho de alças. O objetivo era disfarçar os detalhes do sutiã, sobretudo se a roupa de cima era muito fina. Ainda não era de bom-tom, como hoje, revelar os detalhes da roupa de baixo.

Lembro-me do ano de 1960, no Colégio Alfredo Dantas, em Campina Grande, onde eu estudava a 2ª. série do curso ginasial, equivalente talvez à sexta série de hoje (eu tinha 12 anos), quando uma colega mais velha abriu a blusa e mostrou um sutiã deslumbrante, comprado em loja, e não aquele tipo que Mamãe costurava em casa, e que todo mundo usava. Foi um assanhamento de meninas olhando aquela maravilha, e não sosseguei então não fiz Mamãe comprar um para mim. Era um De Millus, e do primeiro sutiã a gente realmente nunca esquece.

Anágua estreita.

Anágua estreita.

Então, a equação era assim: corpete + calcinha + anáguas armadas + vestidos rodados; ou corpete + calcinha + anágua estreita + vestidos simples, sem roda; ou ainda sutiã + calcinha + combinação por cima de tudo + vestido.

Isso era nos anos 1950-1960 em Campina Grande, na Paraíba, e pode não conferir com o uso em outras plagas deste Brasil e de outros países, porque imagino que meus leitores sejam assim muito cosmopolitas e habitem em lugares muito diferentes.

Esse assunto, de roupa íntima feminina, dá “pano pras mangas” e eu ainda pretendo voltar a ele. Se for escrever aqui tudo o que o tema me suscita na imaginação, vira um livro e o meu caro leitor, apressado como sempre, me abandona sem perdão, para ler outros blogues mais curtos, mais sintéticos, menos prolixos, mais cheios de figuras.

Eu volto em outro dia porque ainda faltou falar de duas peças que me fascinam: o espartilho e a cinta-liga.

Enquanto isso, leia o excelente artigo sobre “Moda e Representação Social”, de Fátima Quintas, e este outro, de Edina Regina C. Panichi, que trata da construção textual na obra de Pedro Nava.

UPDATE: Minha gente, fui conferir o link do artigo da professora Fátima Quintas e encontrei problemas; então me perdoem, enquanto eu vasculho a internet à procura do lugar onde foi parar este maravilhoso texto, que eu queria muito que todo mundo lesse.

Este post é dedicado a João Batista – que me fez a pergunta “Para que serve a anágua?” e também ao Movimento Neo-Tibiri da Mesa Redonda.

Comentários
5 Comentários »
Categorias
Comportamento, Curiosidades, Memória
Tags
anágua, calcinha, combinação, lingerie, Moda, moda íntima, Paraíba, roupa de baixo, soutien, sutiã, underware, vestimenta, vestuário
Comentários RSS Comentários RSS
Trackback Trackback

Próximas Entradas »

Tópicos Recentes

  • GERÚNDIOS
  • ROMANCEIRO VIVO
  • Estranhas iguarias
  • Adiza Santa Cruz Quirino, “Tia Adiza” (1916-1990)
  • Como escolher um texto para encenar na escola?

Tags

barulho barulho urbano biblioteca blog blogosfera Braulio Tavares cabelos brancos Campina Grande Cariri Cariri Paraibano Carnatal cinema comportamento humano corrupção Coxixola cultura popular Design escrever escritor Fotografia e design gatos Gerúndios Hamlet Harold Bloom hoax idade Internet leitura Literatura literatura de cordel livros meio ambiente Memória Moda mundo blog Natal Nilo Tavares padrão de atendimento Paraíba poesia sertão Shakespeare teatro turismo Viagem

Categorias

  • Arte (57)
  • Comportamento (202)
  • Cultura (103)
  • Curiosidades (62)
  • Fotografia e design (20)
  • Humor (44)
  • Memória (45)
  • Pop-filosofia (12)
  • Qualidade de vida (30)
  • Sem categoria (39)
  • Tecnologia e Internet (26)
  • Uncategorized (65)
  • Viagens e turismo (27)

Páginas

  • #DiretoDaBolha
  • Livraria
  • Quem sou?

Arquivos

  • julho 2024 (4)
  • julho 2023 (7)
  • março 2023 (1)
  • abril 2022 (1)
  • novembro 2021 (1)
  • junho 2021 (2)
  • abril 2021 (6)
  • agosto 2020 (1)
  • julho 2020 (1)
  • junho 2020 (1)
  • outubro 2019 (2)
  • abril 2018 (1)
  • janeiro 2018 (5)
  • novembro 2017 (1)
  • agosto 2017 (2)
  • junho 2017 (1)
  • maio 2017 (2)
  • março 2015 (1)
  • fevereiro 2015 (4)
  • janeiro 2015 (9)
  • julho 2014 (2)
  • maio 2014 (4)
  • dezembro 2013 (1)
  • setembro 2013 (6)
  • junho 2013 (1)
  • março 2013 (1)
  • setembro 2012 (3)
  • agosto 2012 (1)
  • maio 2012 (1)
  • fevereiro 2012 (1)
  • janeiro 2012 (1)
  • dezembro 2011 (5)
  • novembro 2011 (2)
  • outubro 2011 (3)
  • junho 2011 (1)
  • maio 2011 (2)
  • abril 2011 (3)
  • janeiro 2011 (14)
  • outubro 2010 (3)
  • setembro 2010 (11)
  • agosto 2010 (3)
  • julho 2010 (5)
  • junho 2010 (2)
  • maio 2010 (5)
  • abril 2010 (13)
  • março 2010 (19)
  • fevereiro 2010 (18)
  • janeiro 2010 (17)
  • dezembro 2009 (25)
  • novembro 2009 (28)
  • outubro 2009 (31)
  • setembro 2009 (29)
  • agosto 2009 (28)
  • julho 2009 (30)
  • junho 2009 (27)
  • maio 2009 (29)
  • abril 2009 (29)
  • março 2009 (6)

Agenda

setembro 2025
D S T Q Q S S
 123456
78910111213
14151617181920
21222324252627
282930  
« jul    

Meta

  • Acessar
  • Feed de posts
  • Feed de comentários
  • WordPress.org
rss Comentários RSS valid xhtml 1.1 design by jide powered by Wordpress get firefox