Um tipo de leitura
Clotilde Tavares | 1 de janeiro de 2015A leitura melhor de todas é aquela que suscita pensamentos. Leio dez livros desses escritores modernos, que estão por aí ganhando prêmio e nada vem à minha cabeça. Mas imagine, por exemplo, o Grande Sertão, de Guimarães Rosa. Nem bem leio uma página que me levanto dali, acesa, inquieta, a cabeça variando de tanto insight que me chega. Aí caminho pela casa, lavo coisas na pia, mudo objetos de lugar, porque o pensamento em mim exige algo para as mãos, uma tarefa mecânica. E penso em todos os livros que quero escrever, e textos, e peças, e memórias, sabendo que não vou poder, que não vou ter tempo, porque para escrever qualquer coisa eu preciso pensar muito, dez, vinte vezes mais. Enquanto a espuma carrega a gordura da louça e depois é carregada pela água, os pensamentos escorrem um atrás do outro e eu preciso de espaço, caminho pelo apartamento, vou à varanda e espalho minha vista sobre a cidade, e parece que ouço tudo que se passa em cada canto dela…
Você descreve deliciosamente o momento que precede a ação criativa, embora, esta, às vezes, não se complete.
Eu acho q isso ja parece com o começo de um romance. Uma aventura antropologica na cidade, no sertao das pedras e vidros empilhados. Escreve Clô, escreve, o mundo agradece e te sorri.