O 11 de setembro
Clotilde Tavares | 11 de setembro de 2009No dia 11 de setembro de 2001 eu estava em Natal na sala de espera do consultório da Dra. Joaquina Fernandes Vieira, minha colega e amiga Quinquina, otorrinolaringologista que sempre dava um jeito nas minhas frequentes crises de sinusite. A um canto, lia um livro sem prestar atenção na TV quando vi que o noticiário havia mudado de tom e transmitia um incêndio em um edifício. Como o som da TV estava baixo, perguntei a alguém o que era aquilo. A pessoa respondeu “Parece que é um incêndio em São Paulo!” “Em São Paulo o que!” eu disse, me aproximando da tela. “Isso é Nova Iorque, e é o World Trade Center!” Nem bem eu havia dito isso, quando o segundo avião se chocou com a Torre Sul bem na minha frente e eu entendi imediatamente que aquilo devia ser um atentado. Aí, chegou a minha hora de entrar para a consulta.
Ao terminar, saí da sala da médica a tempo de ver o terceiro avião se chocar com o Pentágono. Ia fazer algumas coisas depois do consultório, mas resolvi ir para casa, e dirigi até lá sob o terror de que os Estados Unidos decidissem uma ação de retaliação que lançasse o mundo num holocausto incontornável.
Liguei para os meus irmãos, e a pergunta era: “Se houver algo assim, o que é que a gente faz?” E Pedro, que mora em Campina, e que não estava tão apavorado quanto eu, mostrou a solução: “Se a coisa pegar fogo, a gente evacua a família inteira para Coxixola.”
Mas por que Coxixola, perguntará o meu caro leitor? O que é Coxixola? Onde é Coxixola? Explico. Coxixola é uma pequena cidade, uma cidade mínima, que fica no Cariri paraibano, fazendo limites com Serra Branca, Congo, Caraúbas e São João do Cariri. É o menor município da Paraíba. É também a cidade natal da minha mãe e, talvez por ela sempre falar da sua cidade-berço com tanto carinho e saudade, sempre nos deu a idéia de um lugar escondido, inacessível, distante, protegido das desgraças do mundo, e ao mesmo tempo mágico, cheio de bucolismo, de lendas e de histórias, como se fosse São Saruê, a Terra do Nunca, o País das Maravilhas e a floresta de Brocéliande, tudo junto, reunido num lugar só.
Na década de 1960, aos quinze anos de idade, fui conhecer Coxixola e me encantei com o minúsculo lugarejo que, naquele tempo, era apenas uma rua, duas fileiras de casas, onde as pessoas mais velhas ainda se lembravam do meu avô Pedro Quirino. Sem muita coisa para fazer, naqueles ermos, divertia-me com as primas a explorar os arredores, e conversar com as pessoas. Foram dias que jamais esquecerei, andando sozinha pelos matos, vadeando riachos, subindo e descendo serrotes e ouvindo o grito das maracanãs quando passavam de tarde em revoada sobre as vazantes.
Quando queria aborrecer Mamãe, Papai fazia a maior gozação da cidadezinha, dizendo que Coxixola não aparecia no mapa. Mamãe ia buscar o Atlas e, com orgulho, mostrava o minúsculo pontinho perdido no meio do Cariri. Então, o que não diriam eles hoje se vissem a pequenina Coxixola na rede mundial dos computadores? Pois é, meu caro leitor. Coxixola agora tem status de município digital. Orgulhosa e faceira, mostra através de fotos e informações as suas prendas e riquezas.
Penso nos olhos da minha mãe, como brilhavam quando ela se lembrava do seu berço natal. A família foi expulsa do Cariri pela seca de 1927, quando foram todos para Angelim, Pernambuco, e onde ficaram até a vida adulta. Mesmo assim, quando chovia, meu avô voltava ao Cariri, para ver “tanta boniteza, pois a natureza é um paraíso aberto”, como nos versos imortais do poeta.
Herdei esse amor todo por aquela terra e Coxixola, apesar de continuar sendo um pequeno pontinho no Atlas, para mim sempre será um porto seguro inacessível a qualquer catástrofe, uma estrela plantada no meio do Cariri, no mapa do meu coração.
Esqueci o principal, minha avó chamava-se ANÁLIA
minha avó é filha de José Amaro, morou em Taquaritinga do Norte e em coxixola, seus irmãos eram: Miguel, Manuel, Belmiro, Epaminondas, Oscar, Carlos… sua vó chamava-se: mãe Inês, tenho muita esperança de conhecer alguém da família dela, quero dizer da minha família… se alguém souber qualquer coisa a respeito, por favor entre em contato.
Cristiane Franco, crisalexandre@bol.com.br
minha cara Clotilde! foi um prazer imenso lê essa sua postagem, confesso que lágrimas tentaram cair de meus olhos, ao vê vc falar sobre coxixola, não sou de lá, mas me fez lembrar de um fato, ou uma garfe corrida comigo a um bom tempo atrás. Eu trabalhava em uma loja de material esportivo em Campina, quando um homem entrou procurando uniformes para doar a ums times de futebol. Esses times eram de Coxixola, ai quando ele falou o nome eu nao me aguentei e comecei a rir na cara dele, no que ele nao entendeu nada do que estava acontecendo e eu continuei rindo e disse: estais brincand com minha cara, pois Coxixola nao existe! Ele bem simpatico me respondeu: existe sim e vc está falando com o Prefeito de lá, no que eu fiquei todo sem graça e por causa disso me tornei amigo desse prefeito. GIVALDO, que foi prefeito lá. mas deixando essa gafe de lado, amei os seus escritos sobre a infancia, me remeti pra minha infancia no pequeno sitio dos meus avos, onde fui criado ate os dezoitos anos no Mrinho, municipio de Campina. PARABÉNS!
Procurando o que podia encontrar sobre minha terra querida no google, encontrei esse blog!! Gostei muito!! O novo site de Coxixola é : http://www.coxixola.pb.gov.br
Olá!! Clotilde, muito interessante esta sua visão de Coxixola,pois é a mesma que tenho, moro em Olinda mas minha mãe,avós e bisavos são de Coxixola e dos sitios ao redor…. tenho 28 anos e minha lembranças de infncia ,de algumas férias são de lá do cariri…pesquisando sobre o cariri acabei encontrando seus escritos aqui na net e de vez em quando dou uma olhadinha,já mostrei a todos aqui em casa ô quão interessada pelo cariri você é….Compartilho da mesma nostalgia….da vontade de conhecer as raizes…
Pois é, querida! Vamos todos pra Coxixola, quando o mundo for acabar!
Belíssimo texto!
[…] e que a gente sempre sabe onde estava e o que estava fazendo quando recebemos a notícia. O 11 de setembro, o assassinato de John Lennon, o assassinato de Kennedy, a chegada do homem na Lua… Como esquecer […]
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[…] lhe contar hoje a história da minha mãe. Nascida em 1921, em Coxixola, na Parahyba, Cleuza Santa Cruz Tavares passou a infância em fazendas, primeiro no Cariri […]
[…] vezes aqui neste blog. O Cariri é o berço dos meus antepassados mais próximos, e é lá que fica Coxixola, onde nasceu minha […]