Ser ou Não Ser, eis a questão?
Clotilde Tavares | 22 de abril de 2009“A Tragédia de Hamlet, Príncipe da Dinamarca” ou simplesmente “Hamlet”, como é mais conhecida, é entre as obras do “bardo” aquela que se encontra no topo da excelência artística. O enredo conta a história do príncipe Hamlet, cujo pai morre de causas aparentemente naturais; o fantasma do rei aparece então ao príncipe dizendo que foi assassinado e pedindo ao filho pra vingá-lo.
Dito assim, parece ser uma simples história de vingança, mas não é. Enquanto a trama vai sendo construída, os personagens vão se mostrando mais elaborados e o personagem principal assume um nível de profundidade e complexidade tal que serve como um verdadeiro estudo da alma humana.
“Hamlet” é uma obra tão arraigada no imaginário ocidental que, mesmo que nunca a tenhamos lido ou visto no palco ou no cinema, nos lembramos imediatamente dela se nos mostrarem a imagem de um homem, em atitude meditativa, segurando um crânio. E se eu perguntar a qualquer um dos meus caros leitores o que Hamlet está dizendo nesta hora provavelmente todos responderão: “Ser ou não ser, eis a questão”.
Mas é engano. Não é isso absolutamente o que diz o príncipe nessa hora. O famoso “ser ou não ser” localizado na Cena I do Ato III, ocorre numa sala do Castelo de Elsenor, onde não há caveiras nem ossadas. A cena na qual Hamlet empunha o crânio é, na verdade, a famosa “cena dos coveiros”, a primeira cena do Ato V.
Nesta cena, Hamlet está no cemitério do castelo, onde dois coveiros estão abrindo a cova de Ofélia, que será enterrada daí a pouco. Revolvendo a terra com a pá, um dos coveiros encontra uma caveira. Hamlet pergunta de quem seria aquele crânio e o coveiro responde que pertencia a Yoric, o bobo do rei. O príncipe então toma a caveira entre as mãos e lamenta; “Pobre Yorik”, relembrando quando era criança e se divertia na corte com os gracejos do bobo.
Então, por que sempre pensamos que o homem com a caveira na mão está dizendo o famoso “to be or not to be”? Elementar, meu caro leitor: a frase mais famosa da peça (e talvez do teatro) funde-se quase sem querer com sua imagem também mais famosa, embora aterradora: o homem, contemplando filosoficamente o profundo mistério da Morte.
Imagem e frase, impressas para sempre em nossa mente, em tributo eterno a um homem que elevou a dramaturgia ao nível das obras primas. Parabéns, William Shakespeare.
Morro de iveja de quem tem o privilégio de ler WS pela primeirra vez.
Clotilde, veja só que coincidência. Estou numa sequência de leitura de livros de Shakespeare. São 8 livros seguidos e já estou no 4º.
Li “Noite de Reis”, “Sonho de uma noite de verão” (esse eu já havia lido), “Bem está o que bem acaba”. Agora estou lendo “A tempestade”.
Peguei uma promoção da L&PM Pocket e comprei os 8 de uma vez.
Por siso, estou gostando demais desses seus posts em época tão oportuna para mim.
Um abraço.
Fialho