Minha “telefonical-adviser”
Clotilde Tavares | 21 de novembro de 2009Um dia desses, na manicure, enquanto ela cuidava das minhas unhas, o celular tocou. O dela, não o meu. Ela atendeu, conversou rapidamente, e desligou. Logo depois o celular tocou novamente. Era outro aparelho, que ela igualmente atendeu e logo desligou. Aí eu perguntei: Você tem dois celulares?” Ela respondeu: “Tenho três.” E mostrou um terceiro, que eu não havia visto. Mas para que tantos, disse eu, que só tenho e só tive um, desde que inventaram celular. “Para economizar”, disse ela. E passou a me explicar que quando se liga para um celular da mesma operadora, o custo da ligação cai muito, mas quando é para uma operadora diferente o preço do minuto é altíssimo.
Perguntou então quanto eu gastava por mês de telefone. Eu disse, e adiantei que tinha um telefone fixo e um celular pós-pago com um plano de “x” minutos. Ela colocou de lado a serra de unhas e o alicate, pegou um lápis e um papel e me deu uma aula de matemática financeira aplicada à telefonia.
Fiquei de queixo caído. Descobri que apesar de ter curso superior, mestrado e algumas especializações, nada disso me instrumentaliza para compreender a complicada lógica com que as operadoras de telefonia celular se organizam para fazer com que eu pague três ou quatro vezes a mais do que as minhas necessidades, como me explicou a inteligente manicure. Fiquei sem entender mais da metade dos cálculos que ela fez; e era tanta coisa! A gente põe 10 créditos e ganha 100 (não entendi se são 100 reais ou 100 minutos, mas gastar 10 para ganhar 100, seja lá o que for, parece um bom negócio). Há inúmeros planos diferentes, pós-pagos e pré-pagos, um para cada caso específico, para cada perfil de consumidor. Há números que você pode habilitar para ligar sem pagar nada. Há horários e condições onde é tudo mais barato, ou o gasto é mínimo.
Pobre de mim, distraída com meus livros e meus escritos, que não acompanhei a construção desse sistema, a montagem dessa estrutura. Mas uma coisa eu entendi: os caras que bolam essas coisas, fazem isso para a gente não entender mesmo, e gastar mais dinheiro, desperdiçando nossa grana por pura falta de conhecimento. O único jeito é conhecer todas as nuances do sistema para poder aproveitar-se dele, o que não deixa de ser o segredo óbvio do sucesso em qualquer empreendimento ou atividade.
Dou a mão à palmatória: vou nomear a manicure minha “telefonical-adviser”. Ela sim: compreende, conhece e sabe dominar todas as sete cabeças dessa hidra.