O aplauso e a vaia
Clotilde Tavares | 15 de setembro de 2010Há uns três dias recebi um email muito simpático, de uma pessoa que me pede para ler alguns textos escritos por ela, e me pede também uma opinião. Eu fiquei aqui quebrando minha cabeça para ver de que forma eu ia responder isso e aí achei melhor escrever um post sobre essa situação, que é bem freqüente na minha vida: pessoas que me pedem opiniões sobre seus textos.
Para começar, minha rotina de trabalho é muito pesada. Sou professora universitária aposentada, o que faz muita gente pensar que eu não faço nada. Eu mesma alimento essa fábula quando me auto-descrevo no twitter como “fiscal da natureza…” e por sempre estar assim de forma leve e solta nas coisas que escrevo. Mas isso, essa leveza, essa soltura, tem a ver com meu temperamento e não com o volume de coisas que requerem minha atenção e com as quais me ocupo da hora que acordo à hora em que vou dormir – e algumas delas continuam a me ocupar mesmo durante o sono, povoando meus sonhos de interrogações.
Sou uma escritora em tempo integral. Isso quer dizer que eu escrevo de verdade, todo dia. Sempre estou escrevendo algo, como agora, e ao final deste post terei escrito aí umas 700 palavras. A maior parte das coisas que escrevo não se aproveita, e é assim mesmo em qualquer ofício ligado à Arte. Mas é preciso escrever, escrever sempre, para manter a habilidade em forma.
Fora escrever, é preciso ler, ler muito, ler os blogs e comentar, responder aos emails, administrar as listas de discussão na internet (umas 3 ou 4), atender aos telefonemas, preparar propostas de cursos e palestras e enviar a quem me pede, trabalhar nas pesquisas que dão suporte aos temas sobre os quais escrevo, ver filmes, ver programas de TV, assistir entrevistas, ouvir música. É preciso também fazer a comida, lavar a louça, limpar o apartamento, sair de casa para as inúmeras coisas da vida prática, conversar com os amigos e sair com eles, recebê-los em casa às vezes, dar atenção aos filhos e aos netos.
Então, dentro dessa rotina, não sobra muito tempo para ler e opinar sobre trabalhos que as pessoas me enviam, mesmo porque esse é um trabalho demorado porque dificílimo, delicado, cheio de implicações, onde a leitura tem que ser atenta e a opinião ou crítica expressa tem que ser ponderada, muito bem pensada e – mais difícil ainda – expressa com delicadeza de forma que não fira de nenhuma maneira o postulante que, ansioso, espera a opinião desta escritora que vos tecla.
Por isso optei e opto por não ler e opinar sobre escritos dos outros. E tenho aqui uma recomendação a quem tem seus textos na gaveta e fica querendo uma avaliação: busque essa avaliação sim, mas não de um escritor. Busque do seu público, porque é para ele que você escreve e é ele quem consagra – ou desconsagra – um autor.
Escreve contos ou poesias? Imprima e distribua, ou pregue no quadro de avisos de onde você trabalha, ou ainda mande para a sua lista por email. E não peça opinião. Se as pessoas gostarem, elas lhe escrevem ou lhe procuram pedindo mais.
Se você escreve para teatro, faça cópias e entregue aos professores de teatro das escolas, para que eles, se gostarem, montem com seus alunos.
O escritor que lê os textos de um principiante pode gostar, ou então não gostar. Isso é apenas a opinião dele, do escritor, e não deve significar nem a glória nem a desgraça para quem está começando. O maior sucesso editorial brasileiro é o escritor Paulo Coelho, para quem os escritores como eu torcem o nariz.
Então, aposte no seu trabalho, entregue-o ao público. Só o público pode dar ao artista o tão necessário aplauso ou a vaia, esta mais necessária ainda, porque nos faz repensar, retrabalhar e melhorar aquilo que fazemos.