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Natal: a festa da Fé

Clotilde Tavares | 24 de dezembro de 2009

Observo, com alguma surpresa, que o Natal já foi uma festa pagã, depois tornou-se cristã, e pelo visto está prestes a se tornar pagã novamente pela corrida desenfreada às lojas, pela substituição das igrejas pelos shopping-centers como lugares de celebração, e por ter se tornado para muita gente uma festa sem significado, sem reverência, sem milagre.

Há ainda um aspecto interessante. O Natal é antes de tudo uma festa de família, que desde o tempo do paganismo sempre foi comemorada em família, no interior do lar, em volta de uma ceia. Mas hoje em dia geralmente estamos cansados, estressados e cheios de obrigações de última hora. São as duras injunções da vida moderna, dita “civilizada”, que nos arrasta a esse torvelinho de compras de última hora, embalagens para presentes, confraternizações, amigos secretos e muita agitação no trânsito, aumentando o número de acidentes.

Não posso deixar de me lembrar dos natais da minha infância, quando não existia essa entidade chamada shopping-center em torno da qual se estrutura praticamente toda a nossa atividade natalina. Naquele tempo as coisas eram mais simples, menos sofisticadas. Quando criança, nunca me levaram para “ver Papai Noel no shopping” ou em qualquer outro lugar. Em Campina Grande, no início da década de 1950, coisas como essas eram distantes dos nossos festejos, e como Papai vez por outra estava desempregado, havia natais em que não adiantava colocar o sapatinho na janela do quintal porque o bom velhinho não vinha mesmo.

Mamãe, com sua sabedoria, contou a mim e a Bráulio que Papai Noel era o pai da gente mesmo, mas só quando havia dinheiro; e que se em um ano as coisas estavam ruins, era sinal de que no outro ano elas estariam melhores. Dessa maneira simples, nos ensinou a Esperança. E não sei como, dava um jeito de arranjar uns trocados e nos levava para “a festa”, que era como chamávamos o parque de diversões armado em toda a extensão da avenida Floriano Peixoto, a principal rua da cidade, com roda-gigante, carrossel e os pavilhões onde todos bebiam e comiam à vontade. Lá, dava algumas voltas conosco no carrossel e depois voltávamos para casa, ainda tontos e com os olhos cheios das luzes em redemoinho… Não havia ceia, nem presentes, mas estávamos felizes.

Hoje não é mais assim. As estatísticas mostram que na época de Natal há maior incidência de crises de depressão e de suicídios, principalmente entre pessoas idosas. Há uma condição já reconhecida na clínica chamada “Christmas blues” ou “depressão de Natal”. A pessoa sente-se triste, desamparada, desanimada, sem perspectiva. Os encontros de família contribuem para tornar mais intensos ainda esses sentimentos, e fica-se muitas vezes lembrando do que passou, mas não com aquela saudade boa e nostálgica, de quem “foi feliz sem saber”: ao contrário, a lembrança vem cheia de dor e solidão, de sentimento de perda irreparável, de profunda tristeza, de angústia extrema.

É por isso que tem gente que simplesmente “detesta o Natal”. Esta “depressão de Natal” tem alguns fatores desencadeantes: sentimentos de culpa por coisas mal resolvidas do passado, estresse e cansaço (isso acontece quando o freguês entra na maratona de compras-ceia-comemorações) e dificuldades com a família.

Como se defender da praga? Cuidar da cabeça, de preferência com ajuda profissional; minimizar as expectativas, não esperando de uma simples festa de Natal mais do que ela pode dar; procurar não se cansar muito fisicamente, comer e beber com moderação, pois afinal não estamos cobertos de neve para precisarmos nos empanturrar de calorias; ter tolerância e compreensão com a família reunida, e respeitar as esquisitices de cada um, não se envolvendo em disputas; não tomar resoluções drásticas e superiores às nossas capacidades; e, finalmente, permitir-se ficar triste e ter saudade, pois a tristeza e a nostalgia pelo que se foi são sentimentos naturais e devem ser experimentados, respeitados, aceitos e vivenciados.

Natal/2006.

Finalmente, lembrar novamente do Milagre. Sugiro a você, que está triste, que escolha o Natal deste ano como a festa da Fé, a festa do Milagre e a celebração da Esperança. Não importa o que aconteceu: se houver Fé na possibilidade do Milagre isso já é garantia de que o Milagre aconteça.

Feliz Natal.

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Christmas Blues, depressão de Natal, Natal
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