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Haja paciência

Clotilde Tavares | 7 de janeiro de 2015

mafada-pensar

Na loja de material de construção, encomendo uma tinta que demora a ficar pronta. O vendedor diz: “A Sra. aguarde, sentadinha ali naquela cadeira.” Eu penso que se eu fosse uma mulher aí de mais ou menos 40 anos e alta, ele não tinha usado o diminutivo comigo. No Pilates era a mesma coisa: “Agora vamos colocar o bracinho aqui, depois o pezinho ali…” Essas pessoas se dirigem ao velho, principalmente quando ele é baixinho/a como eu, como se estivesse falando com algum tipo de criança retardada. Acho que é uma forma de carinho, uma forma de ser gentil. Lá fui eu procurar a cadeira e agradeci: “Obrigada, amiguinho. Boa tardezinha pra você.” Ele olhou assim pra mim como quem olha pra uma pessoa doida e foi embora cuidar da vida dele.

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atendimento ao público, mafalda, terceira-idade
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Um desmantelo verde

Clotilde Tavares | 1 de abril de 2010

“Então pintei de azul os meus sapatos / por não poder de azul pintar as ruas…”

Assim Carlos Pena Filho, poeta enorme, enormíssimo, começa seu “Soneto do desmantelo azul” que ouvi tantas vezes recitado pela voz rouca e forte do meu pai. Carlos Pena Filho é um poeta pernambucano, e um dos meus dez poetas maiores, se eu fosse fazer uma lista. Aqui, em outra ocasião, já transcrevi poema dele muito inspirador nessa minha vida que agora se desenrola sob o delicado véu da terceira-idade.

Mas voltemos ao desmantelo azul.

Eu, doida por novidades, fui fazer as unhas terça-feira, antes de ontem. Aí inventei de pintar uma cor absolutamente escandalosa, diferente, que não tivesse nada a ver com aquilo que à primeira vista eu dou a impressão de ser.

E embarquei num desmantelo verde cintilante, pintando as unhas de uma cor tão berrante que ultrapassa qualquer tipo de mau-gosto. Minha filha odiou; mas fez a ressalva de que não gosta desse tipo de cor nem em adolescentes.

Mas eu fiz sucesso. Onde eu chego as pessoas se aproximam para olhar minhas unhas (ah, e também pintei as unhas dos pés). No supermercado ontem foi um auê, com todas as terceira-idades que encontrei dizendo que iam aderir ao verde.

A vida é boa por causa dessas coisas diferentes e malucas que a gente faz. E o melhor de tudo é que, quando finalmente me aborrecer do desmantelo verde, um algodão com acetona resolve o problema de forma rápida, fácil e indolor.

Fique então com o Soneto do Desmantelo Azul, e com a foto do desmantelo verde.

SONETO DO DESMANTELO AZUL, de Carlos Pena Filho

Então, pintei de azul os meus sapatos
por não poder de azul pintar as ruas,
depois, vesti meus gestos insensatos
e colori as minhas mãos e as tuas,

Para extinguir em nós o azul ausente
e aprisionar no azul as coisas gratas,
enfim, nós derramamos simplesmente
azul sobre os vestidos e as gravatas.

E afogados em nós, nem nos lembramos
que no excesso que havia em nosso espaço
pudesse haver de azul também cansaço.

E perdidos de azul nos contemplamos
e vimos que entre nós nascia um sul
vertiginosamente azul. Azul.

Você encontra o soneto aqui.

E agora, o DESMANTELO VERDE…

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Carlos Pena Filho, soneto do desmantelo azul, terceira-idade, unhas cintilantes
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A síndrome de Benjamin Button

Clotilde Tavares | 1 de maio de 2009

baoba05A propósito do título de post recentemente colocado aqui – Velhice fashion: uma estorinha de shopping – muita gente me questionou sobre o uso do termo velhice. Acham que eu deveria ter escrito outra coisa. Meia idade, terceira idade, melhor idade, boa idade, idade madura. O termo velhice, dizem, agride, deprecia, desagrada.

Bem, a mim, não desagrada não. Já fui menina, fui jovem, adolescente, mulher nova em idade fértil com filhos e maridos e agora, aos 61 anos, estou entrando na velhice, por que não? Penso que o importante não é manter-se jovem, mesmo porque isso é uma tarefa impossível. O corpo se deteriora, por mais cuidado que tenhamos com ele. É a evolução natural das coisas e eu vejo como uma maluquice essa luta inglória e sem resultado contra os sinais que a passagem dos anos vai marcando na face, no corpo e, principalmente, no funcionamento dos órgãos internos.

arvore_para_blog02 Mais do que “manter-se jovem” o que importa, o que vale a pena, é envelhecer bem, feliz, satifeita, tentanto continuar saudável, continuando a ter prazer nas coisas da vida e – para mim o principal – descobrindo prazeres novos, que só estão acessíveis às pessoas velhas. Velhas, sim. Eu insisto no termo. O oposto de “juventude” é “velhice” e não “terceira-idade”. O que deve amedrontar as pessoas não é a palavra “velhice” mas palavras como solidão, pobreza, abandono, dor, impotência, desconforto, perda da autonomia, ingratidão, desprezo. De uma coisa tenho certeza: estou na fase melhor da minha vida e nem por todo o dinheiro do mundo gostaria de ter de volta minha confusa, sofrida e solitária adolescência. É claro que há umas coisas que eu gostaria que fosse de outro jeito agora: mas nenhuma delas tem a ver com a idade.

arvore_para_blog01Tenho um irmão, piadista e engraçado, o meu querido Pedro-Quirino-Meu-Irmão, o rei da “boutade” – que diz o seguinte: “Quando eu completei 37 anos uma pessoa me disse: – Desejo que essa data se reproduza por muitos e muitos anos. Então, continua ele, todo ano eu completo novamente 37 anos…

Não tenho, como muitos, a síndrome do Benjamim Button – refiro-me ao filme como Brad Pitt onde o personagem nasce velho e vai remoçando ate morrer bebê. Mas há pessoas que chegam numa fase da vida e começam a querer regredir, a “tornarem-se jovens outra vez”, submetendo-se a tratamentos e cirurgias, dietas malucas, injeção de todo tipo de substância por baixo da pele e uma desvairada busca pelo prazer – não o prazer da mente calma e satisfeita, mas o prazer de um corpo que parece que, ao longo da vida, não teve muitas chances de se divertir, de satisfazer seus anseios e suas necessidades.

baoba_bairrocajueiro_recifeCada qual com “a dor e a delícia de ser o que é”, como dizia o poeta, mas eu graças a Deus satisfiz meu corpo à vontade na época adequada e hoje posso desfrutar do sossego do “Enfim, só!”, e ler meus livros, ver TV, escrever e sem sentir nenhuma necessidade do eterno replay dos bares de fim-de-semana. Voltando à síndrome de Benjamin Button, ela está largamente disseminada e até parece ter atacado algumas pessoas que conheço. Há três anos – ou seja, em 2006 – sem ser intencional e puramente por acaso, descobri que uma das pessoas do meu círculo de relações tinha 62 anos, em lugar dos 55 ou 56 que ela dizia que tinha. Há algumas semanas, já agora em 2009, soube que a criatura estava completando 59. Qualquer criança de sete anos de idade que sabe somar e subtrair consegue fazer os cálculos e diagnostica a síndrome de Benjamin Button…

arvore_para_blog04Mas eu não tenho nada contra isso não; se a criatura quer dizer que tem 14 anos de idade, o que é que eu tenho com isso? Só penso até quando será possível manter tal farsa, e se não seria mais saudável assumir a idade que tem, porque mentir dá um trabalho danado.

Eu acho bom pertencer a este clube de mais de 60 anos. Outra amiga, que não é portadora da síndrome mas estava um pouco apreeensiva por ter completado sessenta anos, me mandou um email em que dizia: “Fui dormir com 59 anos e acordei com 60”. Depois, mostrava-se um pouco assustada com a realidade da chamada “terceira-idade”, dizendo que a menininha saltitante de cachos nos cabelos ainda existia em algum lugar dentro dela, mas em outros momentos o que aparecia era a sexagenária, não tão saltitante assim.

gameleira_conv_sao_franciscoEu saudei-a com um sonoro “Bem vinda ao clube!” Bem-vinda, querida, ao clube da meia-entrada em cinemas, museus e assemelhados – em alguns a entrada é gratuita. Bem-vinda ao clube do atendimento preferencial em bancos, super-mercados e outros. Bem-vinda ao clube da hospedagem mais barata em todo o país, numa rede de hotéis conveniados . É um projeto do governo via Ministério do Turismo, para estimular as viagens desta população que tem tempo, dinheiro e ainda tem disposição para bater pernas por aí. Bem-vinda à terceira maior população de idosos do país (a Parahyba, sim senhora!), como ouvi dizer um dia desses. E no Brasil, como um todo, minha amiga, já somos 10% da população. Bem-vinda às muitas vantagens, por exemplo, na hora de uma demanda judicial, e a tratamento preferencial em várias instâncias da vida social. Bem-vinda ao direito de não levar desaforo pra casa, porque quem agride um idoso o discrimina duplamente!

01012006-001Aconselho a todos, jovens e velhos, a lerem direitinho o estatuto do idoso, que pode ser encontrado na Internet. Reafirmo que é melhor ser a mulher de agora, sábia e experiente, do que a boba menina dos cachinhos. A idade acrescenta experiência, calma, tranqüilidade, satisfação e a possibilidade de desfrutar da vida de uma forma suave e sem pressa que os jovens contraditoriamente não têm, mesmo tendo teoricamente a vida toda diante de si. Digo e repito: é muito melhor ter 60 anos do que ter 56, 57 ou 58, por exemplo.

Mas é preciso ficar atento e não abrir mão de uma alimentação equilibrada, exercício físico, e estar sempre buscando novas e diferentes atividades porque é isso que mantém o cérebro ativo e livre das doenças degenerativas. Eu mesma agora descobri uma diversão legal: o Sodoku, que é aquele joguinho japonês com números.

E este bloguinho, onde todo dia escrevo, mantendo minha mente ágil, ligada numa discussão, numa troca de idéias, nessa saudável atividade mental que, junto com outras brincadeiras, a gente vai inventando por aqui, praticando a felicidade e driblando o Alzheimer.

°°°°°°°°°

Ilustrei este post com árvores, todas elas velhas, firmes, frondosas e belas. Para chegar a isso, precisaram viver bastante tempo. Algumas fotos são minhas, outras foram pescadas por aí na Internet, em ato claro de pirataria, mostrando que mesmo com 61 anos eu ainda continuo disposta a fazer molecagens.

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cabelos brancos, envelhecimento, idade, mentira, terceira-idade, velhice
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