Um desmantelo verde
Clotilde Tavares | 1 de abril de 2010“Então pintei de azul os meus sapatos / por não poder de azul pintar as ruas…”
Assim Carlos Pena Filho, poeta enorme, enormíssimo, começa seu “Soneto do desmantelo azul” que ouvi tantas vezes recitado pela voz rouca e forte do meu pai. Carlos Pena Filho é um poeta pernambucano, e um dos meus dez poetas maiores, se eu fosse fazer uma lista. Aqui, em outra ocasião, já transcrevi poema dele muito inspirador nessa minha vida que agora se desenrola sob o delicado véu da terceira-idade.
Mas voltemos ao desmantelo azul.
Eu, doida por novidades, fui fazer as unhas terça-feira, antes de ontem. Aí inventei de pintar uma cor absolutamente escandalosa, diferente, que não tivesse nada a ver com aquilo que à primeira vista eu dou a impressão de ser.
E embarquei num desmantelo verde cintilante, pintando as unhas de uma cor tão berrante que ultrapassa qualquer tipo de mau-gosto. Minha filha odiou; mas fez a ressalva de que não gosta desse tipo de cor nem em adolescentes.
Mas eu fiz sucesso. Onde eu chego as pessoas se aproximam para olhar minhas unhas (ah, e também pintei as unhas dos pés). No supermercado ontem foi um auê, com todas as terceira-idades que encontrei dizendo que iam aderir ao verde.
A vida é boa por causa dessas coisas diferentes e malucas que a gente faz. E o melhor de tudo é que, quando finalmente me aborrecer do desmantelo verde, um algodão com acetona resolve o problema de forma rápida, fácil e indolor.
Fique então com o Soneto do Desmantelo Azul, e com a foto do desmantelo verde.
SONETO DO DESMANTELO AZUL, de Carlos Pena Filho
Então, pintei de azul os meus sapatos
por não poder de azul pintar as ruas,
depois, vesti meus gestos insensatos
e colori as minhas mãos e as tuas,
Para extinguir em nós o azul ausente
e aprisionar no azul as coisas gratas,
enfim, nós derramamos simplesmente
azul sobre os vestidos e as gravatas.
E afogados em nós, nem nos lembramos
que no excesso que havia em nosso espaço
pudesse haver de azul também cansaço.
E perdidos de azul nos contemplamos
e vimos que entre nós nascia um sul
vertiginosamente azul. Azul.
Você encontra o soneto aqui.
E agora, o DESMANTELO VERDE…
desmantelada, não sei por q me lembrei de vc assistindo esse filme: http://www.paradafilm.com/home.html – aliás, sei, assista p ver (e tem a ver tb com pintar de azul os sapatos por não poder pintar as ruas)
Eu não gosto dessas modinhas de verde, azul, amarelo e outras cores, tem até um nome pras cores, esqueci agora, mas acredito que você também não ache a coisa mais linda e fashion do mundo, mas vejo pelo lado da gente inovar, participar de modismos, dar um ar novo pra o dia, até rejuvenesce, ativa a criatividade, assim acho eu, não sei se você pensa assim, mas provavelmente por ser quase uma ousadia e por ter esse ar de juventude, fez sucesso.
Por aqui (Noruega) tenho visto também esses esmaltes, essa semana andei procurando um meio dourado, exatamente por representar essa ousadia no visual, dar uma refrescada. E como você disse, qualquer coisa algodão e acetona resolve.
Boa páscoa!