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EXPO-FOTO 1 – Alexandro Gurgel

Clotilde Tavares | 29 de abril de 2009

Para deleite dos leitores, vez por outra estarei postando aqui fotos que gosto.

Hoje o espaço é do potiguar Alexandro Gurgel. Todas as fotos são dele, e as legendas são minhas. Mais dele, e sobre ele, aqui.

Auto da Liberdade. Mosssoró-RN.

Auto da Liberdade. Mosssoró-RN. O Auto da Liberdade é uma encenação teatral ao ar livre que é realizada anualmente em Mossoró, comemorando a abolição dos escravos, realizada naquela cidade antes do 13 de maio de 1888.

Farol do Calcanhar. Touros-RN.

Farol do Calcanhar. Touros-RN.

Fazenda Pitombeira. Acari-RN.

Fazenda Pitombeira. Acari-RN.

Paz, solidão, beleza.

Paz, solidão, beleza.

A Lua Cheia sobre o mar de Ponta Negra. Natal-RN

A Lua Cheia sobre o mar de Ponta Negra. Natal-RN

Casario. Juazeiro do Norte-CE.

Casario. Juazeiro do Norte Missão Velha-CE.

Ponte Newton Navarro. Natal-RN

Ponte Newton Navarro. Natal-RN

E finalmente o fotógrafo, bonitão e atrevido, brincando de vaqueiro, se arriscando no meio da jurema.

E finalmente o fotógrafo, bonitão e atrevido, brincando de vaqueiro, se arriscando no meio da jurema.

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Alexandro Gurgel, Fotografia e design, Natal, sertão
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Velhice fashion: mais uma estorinha de shopping

Clotilde Tavares | 28 de abril de 2009

shopping41Se eu fosse contar aqui o que já me aconteceu em shopping-centers, consultórios médicos, bancos e em qualquer desses lugares onde há alguém postado atrás de um balcão ou de um guichê para atender ao público – eu ia ter assunto para um livro completo. Um livro cômico, porque as situações são engraçadas; mas também um livro triste, porque certas cenas são tão patéticas que dá vontade de chorar.

A criatura que sempre está colocada atrás de um balcão, ou de um guichê, ou dançando na nossa frente, como já falei aqui, retrata casos graves de despreparo de pessoal, mostrando que é mais do que necessário que se dê um jeito urgente nessa questão, principalmente se os governantes almejam um destino turístico para regiões onde essa indústria ainda é incipiente.

Mas deixe eu contar minha historinha.

oculos-chilli-beans2Estou eu atrás de comprar uns óculos escuros, desses da moda. Entro na lojinha modernosa, com um atendente por metro quadrado, e começo a exprimentar os  artigos do mostruário. Óculos você sabe como é: uma coisa linda, mas que quando se põe no rosto às vezes não fica tão bem.

oculoschanel_round_sunglassesA jovenzinha que me atende – 17? 18 anos? – diz que eu fico linda e maravilhosa com todos os modelos que experimento, e eu vou lá, experimentando e me olhando ao espelho sem dar muito ouvidos ao tagarelar incessante dela. Aí, de repente, não mais que de repente, um modelo ficou belíssimo. Armação vermelha, um material parecido com acrílico, ou plástico, sei lá, lente escura, parecia feito para mim.

A garota disse logo: “Esse é um modelo bem jovem.” E eu fiquei logo pensando que aqueles óculos deveriam ter sido fabricados há uns dois ou três dias, para serem tão jovens assim. Mas só pensei. Não disse. O que eu disse era que tinha gostado daquele, coloquei-o no rosto e fui soltar o cabelo, que estava preso, para ver se o efeito permanecia com o cabelo solto. Tenho o cabelo longo, bem cortado e muito bem tratado.

Quando soltei a cabeleira, e agitei minhas madeixas de um lado para o outro, o efeito foi arrasador. A garota bateu palmas e quase gritou:

– Ai que coisa mais linda! Quando eu ficar velha, quero ficar igualzinha à senhora!

oculoslanding_page_gucci_2Foi um elogio, não foi, caro leitor? Eu pelo menos até hoje tenho tomado isso como um elogio. Estou velha, mas pelo menos já tem alguém que quer ficar igualzinha a mim quando chegar à minha idade. Mas imagine só se eu fosse uma dessas clientes que quer ser jovem a todo custo? A criaturinha maravilhosa que me elogiou, de forma tão espontânea e divertida, teria perdido o emprego ali mesmo se a cliente tivesse se sentido ofendida e feito uma reclamação ao gerente.

Terminei não comprando os óculos. Custavam um-nove-zero, ou seja,R$ 190,00, porque agora não dizem mais o dinheiro nem a idade direito. Agora as coisas custam dois-quatro-três em vez de R$ 243,00 e no aniversário as pessoas completam cinco-ponto-quatro em vez de 54 anos.

Não comprei porque na loja de departamentos em frente tinha uma promoção de um forno de microondas, por um-nove-nove, e eu coloquei mais nove reais e trouxe para casa algo mais consistente e útil do que os tais óculos que me transformaram, pelo menos por um instante, num ídolo da velhice fashion, qual Greta Garbo renascida das brumas do passado.

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Rapidinhas

Clotilde Tavares | 27 de abril de 2009

gripesuinaMEDICINA PREVENTIVA

Hoje vou tomar vacina da gripe dos velhinhos. Já para a gripe dos porquinhos, ainda não inventaram nada que dê jeito.

°°°°°°°°°°

BOUTADE

Conta-se que o escritor Agripino Grieco foi abordado por um admirador, também escritor, que lhe  trazia seu primeiro livro, há pouco publicado. O tal escritor era do tipo que fica cavando laboriosamente um elogio do colega famoso, situação mais do que comum no meio literário. Travou-se então o seguinte diálogo:

– Dr. Agripino, – disse o escritor anônimo enquanto entregava-lhe o livro, e chamando logo o homem de “doutor” – meus inimigos estão dizendo que esse texto não é meu. Eles dizem que essse texto é do senhor, que é um plágio que eu fiz da sua obra.

Grieco  folheou o livro em silêncio, leu alguns trechos, e constatou:

– Eles não são seus inimigos, meu caro. Eles são MEUS inimigos.

°°°°°°°°°

GABEIRA

gabeira1Decepcionada com Fernando Gabeira e a história das passagens, cada vez mais inclinada a não acreditar mais em nenhum político, fiz os versinhos aí, que postei no Twitter.

Na noite da ceia larga
Judas vendeu e traiu
e quando Cristo foi preso
Pedro temeu e mentiu
no festival das passagens
até Gabeira caiu…

“O que é meu, quero primeiro
Já que meu direito é!”
Com porcos comeu farelo
Com ladrões perdeu a fé
Também deve ter perdido
A tanguinha de croché…
(Clotilde Tavares)

°°°°°°°°°°

SEXTILHAS VS. TWITTER

Aliás, o Twitter é ótimo para improvisar essas coisas.Nos seus 140 caracteres cabe uma sextilha inteirinha.

twitter1

°°°°°°°°°

O SONO DOS JUSTOS E A INSÔNIA DOS CULPADOS

Um artigo espetacular de Moacir Scliar sobre o sono. Aqui.

°°°°°°°°°

DDA

Todo mundo já viu que eu hoje, em plena crise de DDA estou sem conseguir escrever um texto com mais de cinco linhas.

°°°°°°°°°°

Barragem Armando Ribeiro Gonçalves /RN. Foto de Canindé Soares

Barragem Armando Ribeiro Gonçalves /RN. Foto de Canindé Soares.

SÃO CANINDÉ SOARES, O PADROEIRO DAS ÁGUAS

Veja o belo espetáculo das águas no Rio Grande do Norte no blog do fotógrafo Canindé Soares, aqui.

°°°°°°°°°°

JET-LAG

life_serieAí vocês imaginem, dispersa do jeito que eu estou, baixei a primeira temporada da série Life e o pack de legendas veio TODO dessincronizado. Assisti três capítulos com a legenda fora da fala, com preguiça de mexer no programa de sincronização, que não-sei-porque acho umas das coisas mais difíceis de fazer no computador.

Já sofri que só, visse?

°°°°°°°°°°

ORGANIZE-SE

Como organizar suas revistas, como arrumar a bolsa, está tudo lá, no blog Chega de bagunça.

°°°°°°°°°°

ESTOU…

… LENDO livro nenhum. Ando inquieta.
… DESCOBRINDO o maravilhoso poeta que é William Butler Yeats. Voltarei a escrever sobre ele.
… BEBENDO água com gás com refresco tang.
… ASSISTINDO a série Life.
… BEIJANDO minha sobrinha neta Maria Luísa, um botãozinho de rosa que sexta-feira completou oito meses.
… ESCOLHENDO um personagem famoso da Paraíba para estudar a genealogia e história.
… CAMINHANDO contra o vento, sem lenço e sem documento.
… COZINHANDO bacalhau com salsão, para comer no almoço.
… DORMINDO o sono dos justos.
… ESCREVENDO o restante da genealogia dos Santa Cruz, que comecei no ano passado.
… OUVINDO Norah Jones.
… SONHANDO com um aparelho de DVD novo para reproduzir meus filminhos. O atual pifou.
… ACENDENDO velas para Santa Zoraide, minha santinha de devoção, para ela me ajudar nessa fase dispersa em que estou agora.

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As igrejas do interior – Parte II

Clotilde Tavares | 26 de abril de 2009

Este é o segundo post da série “As igrejas do interior”. O primeiro você pode ver clicando aqui. Quando as fotos não trouxerem o crédito, é porque são minhas mesmo. Nas outras, consta o nome do fotógrafo.

Janduís-RN (Foto de Alexandro Gurgel)

Janduís-RN (Foto de Alexandro Gurgel)

Campo Grande - RN (Foto de Karl Leite)

Campo Grande - RN (Foto de Karl Leite)

Taperoá-PB (Foto de Marcos Soares)

Taperoá-PB (Foto de Marcos Soares)

Sertania-PE

Sertania-PE

Sçao Gonçalo do Amarante-RN (Foto de Alexandro Gurgel)

São Gonçalo do Amarante-RN (Foto de Alexandro Gurgel)

São José dos Ramos-PB

São José dos Ramos-PB

Serra Branca-PB (Foto de Inês Tavares)

Serra Branca-PB (Foto de Inês Tavares)

Martins-RN (Foto de Karl Leite)

Martins-RN (Foto de Karl Leite)

Teixeira-PB

Teixeira-PB

Coxixola-PB (Foto de Inês Tavares). Nesta igreja batizou-se a minha mãe e muitos dos mues familiares mais antigos, dos quais Coxixola, "A pequena notável", é o berço amado.

Coxixola-PB (Foto de Inês Tavares). Nesta igreja batizou-se a minha mãe e muitos dos meus familiares de gerações anteriores à minha, dos quais Coxixola, "A pequena notável", é o berço amado.

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Sou feia mas tou na moda!

Clotilde Tavares | 25 de abril de 2009
MC Tati Quebra-Barraco

MC Tati Quebra-Barraco

A frase é da cantora de funk conhecida como MC Tati Quebra Barraco, mas se aplica muito bem ao nosso assunto de hoje.

Todo mundo já ouviu falar de Susan Boyle. Quero dizer: todo mundo não. Hoje mesmo, na minha lista de discussão que também tem o nome de Umas & Outras havia pessoas que nunca haviam ouvido falar dela.

Muito bem: quem é, afinal, Susan Boyle?

susan2É uma irlandesa, dona de casa, de 47 anos, que participou de um reality-show chamado “Britain’s Got Talent” cujo objetivo é descobrir talentos musicais. Os jurados são exigentíssimos, famosos por sua capacidade de arrasar com os candidatos, a não ser que sejam ótimos e muito acima da média. Aí esta mulher vai lá, canta, se sai muito bem e recebe elogios rasgados tanto da platéia como dos jurados.

Jurados do Britain's Got Talent

Jurados do Britain's Got Talent

Até aí nada demais, e eu escamoteei o “contexto” de propósito para que o meu caro leitor perceba onde é que mora o perigo. O contexto têm vários níveis superpostos.

O primeiro deles é que Susan Boyle é “velha”. Ela tem 47 anos e é “velha”, segundo a mídia, para esse tipo de coisa, ou seja, concorrer em programas de TV cantando. Mas não é só isso. Ela também é “feia”. E quem vai para esse tipo de programa geralmente são pessoas jovens e que se adequam ao padrão de beleza aceito pela maioria. No vídeo da apresentação, que circula no YouTube (se não viu, veja agora clicando aqui, e depois volte para terminar de ler!) os jurados fazem cara feia quando ela entra, a platéia mostra sinais de enfado quando ela diz que vai cantar, e então a Susan, por sinal muitíssimo à vontade no palco – pelo menos para o que ela diz que é, uma dona-de-casa – começa a cantar uma música, toda afinada, com voz bonita, uma música de difícil execução e então a platéia e os jurados se surpreendem, deliram, rebentam em aplausos.

Susan Boyle, a "darling" da hora.

Susan Boyle, a "darling" da hora.

Aí começa o fenômeno: o vídeo se espalha no Youtube, onde teve até agora zilhões de views, o público chora, os jurados dizem que foi a coisa mais linda que eles já viram e a Internet se enche de mensagens divulgando o vídeo com textos do tipo desse que reproduzo abaixo, e que me chegou sem menção de autoria:

ABRE ASPAS“Não costumo repassar e-mails, mas esse vale a pena…
Susan Boyle tem 47 anos, para muitos dos que cultivam a fútil e inútil esperança da eterna juventude, é velha…
Susan Boyle é certamente uma mulher que passaria despercebida por entre os homens, porém, se alguém a percebesse, certamente comentaria; “ela é feia, muito feia”.
Susan Boyle é escocesa, mas nasceu em West Lothian e como ela mesma diz, “o lugar é só um vilarejo”.
Susan Boyle está ou estava naquele momento desempregada…
E apesar de ser vista pela sociedade como velha demais, feia demais, caipira demais e pobre demais, Susan tinha um sonho e foi em busca dele…
Enfrentou altiva e orgulhosa os risos cínicos, as expressões de desdém e os olhares convictos de seu fracasso…
Enfrentou e disse: “sonho ser cantora profissional”…
E cantou…
Não sei se Susan Boyle conseguiu ou conseguirá ser cantora profissional, mas voltou para seu vilarejo, certa de que ninguém está condenando a ser ninguém, só porque uma sociedade baseia seus julgamentos em padrões tão medíocres e tão frívolos.
Essa é a história desse vídeo, vejam, vale cada minuto e quem sabe, talvez, mude alguma coisa dentro de cada um de nós.”
FECHA ASPAS

Aí, nova sessão de choro e de emoção entre os que recebem o texto, recheado de estereótipos, e quem lê se identifica com pelo menos dois ou três deles. Susan é “velha”, é “feia”, parece “caipira”, mora num “vilarejo”, está “desempregada” mas, “altiva e orgulhosa”, enfrentou o “cinismo e o desdém” e cantou! (E olhe que eu nem vou analisar esse texto todo, porque ele tem tanta sandice que dá dó.)

Então vi pessoas dizendo que ficaram com os olhos cheios de lágrimas, profundamente tocadas, que tiveram revelação, alumbramento e haja coisa.

De início, não entendi a razão dessa celeuma toda. Porque ela é feia? Muita gente é. Porque ela canta bem? Muita gente canta bem. Porque é feia e canta bem? Muita gente faz as duas coisas. Porque um monte de babacas pensava que ela ia se dar mal e não foi isso o que aconteceu? O mundo está cheio de babacas que têm opiniões idiotas sobre as coisas. Quanto ao desempenho artístico, Britney Spears é lindinha, e não canta nada. Aretha Franklin é feia e manda ver. Norah Jones é linda, e canta bem. E tem um monte de gente que é feia pra caramba e não canta nada.

E tem mais: O que é “ser feia“? O que é “cantar bem”? Tenho certeza de que para muito professor de canto lírico Susan Boyle não canta bem. E é “feia” segundo quais critérios? Por que é diferente de Angelina Jolie, por exemplo? E Angelina é bonita incondicionalmente? Todo mundo acha? Pra ser bonita, tem que ser como ela? Com aquela “boca-de-flor”, que sei que tem gente que não gosta? E se ela – Susan – é “velha”, com 47 anos, eu com 61 sou o quê? Matusalém? Ainda estou mandando ver em tudo o que faço, e não acho nada demais, é o caminhar natural das coisas. Não acho que dou lição de vida a ninguém quando escrevo meus textos, quando subo no palco. Porque Susan Boyle então o faria? Porque é feia, velha, mora num vilarejo e está desempregada? Isso não qualifica nem desqualifica ninguém em relação à performance artística.

Na minha lista, uma pessoa tocou no xis da questão:

ABRE ASPAS “Eu me senti mesmo ‘chocada’, porque eu não imaginava que uma pessoa daquelas tivesse uma voz tão bonita e cantasse tão bem. É por nós, pelo nosso preconceito, nossa mania de subestimar, que Susan Boyle fez tanto sucesso. Foi um tapa na cara (pelo menos na minha foi).FECHA ASPAS

Então talvez seja mesmo essa a grande sacada desse troço todo, a exposição do preconceito. Talvez eu, porque venho de um meio teatral onde a beleza não é tudo, ou melhor, é quase nada – todo mundo sabe que ator bonitinho e atriz charmosinha geralmente são ruins no palco – não me surpreendi com a Susan Boyle “feia” e “velha”. Aliás, só vim me tocar que ela estava sendo considerada “feia” e “velha” depois que comecei a receber as mensagens na Internet.

Aí vem o terceiro nível dessa coisa toda. Só os inocentes de pai e mãe acreditam que esse show todo é reality. Não é reality coisa nenhuma, é tudo ensaiado, tudo fake.

Quero repetir aqui o que postou outro dos meus assinantes (e esses assinantes da minha lista são inteligentes pra caramba!):

ABRE ASPAS “O que não se pode esquecer é que isso é tudo uma peça de marketing, esse programa vive disso, há anos. Os jurados são personagens, existem diretores, redatores, o programa passa por reuniões de pauta e o mais importante os candidatos são rigorosamente selecionados, não se admite que em um show absurdamente lucrativo, e que já se tornou uma franquia internacional, corra-se o risco de não saber o que o pessoal vai fazer na frente no palco. Não se enganem, o diretor do programa, os produtores, os jurados e boa parte da equipe do Britain’s got talent já sabiam que ela cantava razoavelmente bem. Não por coincidência em 2007, no mesmo programa, e com os mesmos jurados se não me engano, um vendedor de celulares ganhou a edição do programa e a primeira apresentação dele foi algo no mesmo estilo de Susan Boyle… Procurem Paul Potts que vocês verão, dois anos antes, a mesma cena que a de Susan, e que rendeu uma enorme divulgação na mídia alternativa (leia-se Youtube e emails spam) pelo mundo afora. Nada mais inteligente do que repetir a dose de vez em quando.” FECHA ASPAS

Isto posto, penso que é preciso pensar um pouco mais e meditar sobre aquilo que se vê, principalmente naquilo que se vê na televisão. O programa excitou o sonho de gente simples, que continua sonhando, vendo programas como esse, cuja função é fazer sonhar, enquanto vendem por muita grana os intervalos comerciais, onde passam propagandas que mostram gente completamente diferente de você, Susan Boyle, e de você, meu caro leitor, que sonhou e se emocionou junto com ela.

As propagandas mostram gente magra, de pele perfeita, músculos definidos, cabelos espetaculares, porte elegante, vestindo roupas de sonho, dirigindo carros de luxo, usando perfumes de griffe, divertindo-se com os amigos na balada, tomando a cerveja ou o uísque da moda. Se são feios ou bonitos pouco importa: são esses os personagens que a mídia nos vende como os seres perfeitos e ideais, e que servem de modelo para aquilo que a própria mídia nos ensina a ser.

NOTA. Terminei de escrever o post e fui remexer a Net em busca de fotos para ilustrar. Aí encontrei as últimas novidades sobre Susan Boyle. Pintou o cabelo, mudou o baton e livrou-se das roupas que mostravam os pneus. Veja aqui e aqui. E já se fala em fazer um filme sobre ela, estando a atriz Demi Moore cotadíssima para o papel principal. Veja aqui. Eu sou a favor! Acho que ela tem mais é que se dar bem e aproveitar.

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Cascavilhando…

Clotilde Tavares | 24 de abril de 2009
Biblioteca Digital Mundial: uma grande viagem.
Biblioteca Digital Mundial: tela de abertura.

Biblioteca Digital Mundial: tela de abertura.

Quando um dia eu morrer e chegar no outro mundo – céu, inferno, ou o que seja – a minha primeira pergunta vai ser: “Onde fica a biblioteca?” E se o cara lá responder que não tem biblioteca eu sei que estou frita porque devo estar mesmo no Inferno, da Terceira Caldeira pra lá.

O meu consolo é que, como dizem que o Diabo é o pai do rock, devo encontrar por lá alguns amigos roqueiros e a possibilidades de uns shows bem trash-metal, do jeito que eu gosto.

Mas voltando ao assunto bibliotecas, ando nesses dias navegando na Biblioteca Digital Mundial.

É uma iniciativa da UNESCO e da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, reunindo como parceiros a Biblioteca de Alexandria, a Biblioteca Nacional do Egito, a Biblioteca Nacional da Rússia e a Biblioteca Nacional do Brasil.

Antigos manuscritos

Antigos manuscritos

São documentos, cartas, fotos, mapas. Tudo é apresentado nas seis línguas oficiais da ONU (inglês, francês, espanhol, árabe, chinês e russo) e mais o português. O Brasil participa do projeto, por intermédio da Fundação Biblioteca Nacional.

Nesta primeira fase, somente a parte brasileira é constituída por 1.500 mapas raros dos séculos XVI a XVIII e 42 álbuns com cerca de 1.200 fotografias pertencentes à Coleção Thereza Christina Maria, doada pelo Imperador D. Pedro II à Biblioteca Nacional.Esta coleção de fotografias foi registrada como Patrimônio da Humanidade no Programa Memória do Mundo da UNESCO.

Imagine o acervo dos outros países.

writer03Eu ando assim: as colunas para os jornais atrasadas, o arroz queima no fogão, as camas não são mais forradas, a roupa lavada dorme três dias dentro da máquina sem que eu me lembre de pendurar no varal e filhos e amigos pensam que eu sumi do mapa. Mas não é não: estou lá, na tal Biblioteca Digital.

Você pode ir direto lá, clicando aqui. Mas eu escolhi umas duas coisinhas pra você ir direto.

Christine de Pisan

Christine de Pisan

A primeira é o livro “Crônica de Cavaleiros em Armadura”, escrito por volta de 1410 pela francesa Christine de Pisan, uma das primeiras mulheres a ganhar a vida como escritora. Trata sobre o modo de conduta apropriado para um cavaleiro e foi traduzido para o inglês e impresso em 1489, por ordem de Henrique VII, que desejava torná-lo disponível aos soldados ingleses.

O livro continha não apenas regras de conduta, tais como um cavaleiro vitorioso deveria tratar um prisioneiro de guerra, mas também informações práticas que Pisan havia adquirido a partir de vários textos clássicos, por exemplo, como escolher o melhor local para armar uma tenda e como evitar que um castelo fosse cercado. Eu não entendo uma palavra desse inglês do século quinze mas, e daí? Só olhar praquilo, mesmo na tela, me dá um prazer que só um bibliófilo entende.

A outra jóia rara que trago para voccê é um arquivo sonoro, para ouvir. É uma das primeiras gravações da Marselhesa, o glorioso hino da França composto por Rouget de Lisle em abril de 1972 1792.

Então está esperando o quê? Vai lá cascavilhar no site.

Este post é dedicado a Regina Cascão Viana, que vive cascavilhando.

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Parabéns para Shakespeare!

Clotilde Tavares | 23 de abril de 2009
Stratoford-on_Avon

Stratford-on_Avon

Hoje, 23 de abril, comemora-se o 445º aniversário do nascimento de William Shakespeare, ocorrido no ano de 1564, em Stratford-on-Avon. Com este post encerramos a série de três posts em homenagem ao poeta inglês, objeto da minha profunda admiração e paixão desvairada, para sempre e eternamente.

Toda a produção de Shakespeare é estupenda. Foram 38 peças, além de 154 sonetos, considerados entre os mais belos em língua inglesa. Morreu em 1616, aos 52 anos, depois de uma noitada alegre com os amigos, tendo vivido toda a sua vida ligado à prática teatral, onde fez fortuna e fama.

Segundo o crítico Harold Bloom, no seu livro “A Invenção do Humano”, Shakespeare “pensou mais originalmente do que qualquer outro escritor e tinha um domínio quase sem esforço da linguagem”. Seus personagens tão humanos, quase mais humanos do que nós mesmos, nos lançam numa investigação interior da qual não podemos escapar. Ao ler, ou ver qualquer das suas tragédias, principalmente “Hamlet” ou “Macbeth”, é como se estivéssemos abrindo nossa alma no divã de um psicanalista. As comédias também não são um simples passatempo, mas nos levam à nossa própria “floresta de Arden”, onde nos perdemos para nos encontrar, como Rosalinda, em “Como Gostais”.

Harold Bloom

Harold Bloom

Bloom diz ainda que ele criou mais contextos para nos explicar, a nós, seres humanos, do que somos capazes de criar para explicar seus personagens: Hamlet, Lear, Falstaff, e os vilões Iago, Ricardo III, Edmundo e Macbeth, são um estudo profundíssimo da natureza humana. E as mulheres! Cordelia, Rosalinda, Viola e a maravilhosa Beatrice de “Muito Barulho Por Nada”… Seres que povoam os palcos do mundo há quatrocentos anos e cujas possibilidades estão longe de serem esgotadas.

Mas afinal, Shakespeare existiu mesmo? É uma pergunta que sempre escuto quando o assunto vem à tona. Quem conhece e estuda a obra do poeta inglês já está acostumado com isso e sabe que periodicamente aparece alguém colocando em dúvida a autoria das peças e sonetos, já atribuída a mais de cinqüenta nomes, incluindo Christopher Marlowe, Francis Bacon, o Conde de Oxford e até a própria rainha Elizabeth I!

The Globe, teatro de W.S. na Londres do século XVI.

The Globe, teatro de W.S. na Londres do século XVI.

Felizmente para os bardólatras, como eu, não há mais dúvidas sobre quem escreveu as peças: foi ele mesmo, William Shakespeare, quem em 1582 já vivia em Londres, fazendo e escrevendo teatro.  O jovem William foi para Londres aos vinte e três anos de idade onde, começando como ator, passou depois a escrever peças e em 1599 tornou-se um dos sócios do Globe Theatre. Em 1603, passou a fazer parte dos “Homens do Rei”, a mais importante companhia teatral da Inglaterra. São também desse período, início do século XVII, as suas obras mais importantes, como “Hamlet” (1601), “Rei Lear” (1605) e “Macbeth” (1606).

Unânimes nesse reconhecimento, os estudiosos shakespearianos já se acostumaram com o fato de que vez por outra aparece alguém em busca da notoriedade conferida por uma crítica ou um fato em relação a Shakespeare. É a grandeza do poeta inglês que leva o mundo a ficar sempre de olho nele, mesmo depois de decorridos quase quatrocentos anos da sua morte.

Foram muitos os nomes que duvidaram da sua real existência, como Mark Twain, Henry James, Sigmund Freud, Charles Dickens, Walt Withman e Charles Chaplin. A autoria foi questionada a primeira vez em 1796, por um certo Herbert Lawrence, e em 1848, por Joseph Hart. Surgiu então Delia Bacon, uma americana radicada na Inglaterra em 1853, que se dizia descendente do filósofo inglês Francis Bacon, e afirmou ter provas de que fora o seu antepassado e não Shakespeare o autor das obras famosas. O debate pegou fogo nos meios acadêmicos, nada foi provado e a sra. Bacon terminou seus dias num manicômio, talvez por não ter sido levada a sério.

Fontispício de uma das edições das suas peças.

Fontispício de uma das edições das suas peças.

Roger Pringle, diretor da Fundação Shakespeare Birthplace, não acredita nos argumentos apresentados pelos pesquisadores que vez por outra aparecem com dientidades novaa para W Shakespeare. Diz ele que o que os move é apenas o desejo de vender livros. Já Ann Thompson, professora do King’s College London e editora da série Arden Shakespeare, defende que tudo isso é puro preconceito: setores do meio acadêmico e intelectual jamais aceitaram que um homem sem instrução universitária pudesse erguer tais monumentos literários. É mais uma vez o preconceito do erudito contra o popular, deformação que persegue Shakespeare há quatrocentos anos e que nossos autores de cordel e poetas populares já experimentaram várias vezes, na própria pele.

Compartilho aqui com você algumas jóias do poeta inglês. Vejam esta, bem adequadas a estes nossos tempos, onde se fala sem pensar e se difama por distração: “O bom nome para o homem e para a mulher, meu caro senhor, é a jóia suprema da alma. Quem rouba minha bolsa, rouba uma ninharia. É qualquer coisa, nada; era minha, era dele, foi escrava de outros mil. Mas quem surrupia meu bom nome tira-me o que não o enriquece e torna-me completamente pobre.” (“Othelo”, Ato III, Cena 3).

Há, também uma peça dele, não tçao conhecida, “Como Gostais” (“As you like it”), uma deliciosa comédia, cheia de tramas, onde a heroína se disfarça de homem e os poemas de amor parecem nascer nas árvores. Um dos seus melhores momentos é a fala do personagem Jacques, na Cena 7 do Ato II, sobre as “sete idades do homem” e traça um retrato entre trágico e irônico do que é a nossa vida.

Matteo Pangallo como Jacques.

Matteo Pangallo como Jacques.

Jacques começa dizendo que “…O mundo é um palco; os homens e as mulheres, meros artistas, que entram nele e saem. Muitos papéis cada um tem no seu tempo; sete atos, sete idades. Na primeira, no braço da ama grita e baba o infante. O escolar lamuriento vem depois, com a mala, de rosto matinal, e como serpente se arrasta para a escola, a contragosto. Então vem o amante, fornalha acesa, celebrando em balada dolorida as sobrancelhas da mulher amada. A seguir, estadeia-se o soldado, cheio de juras feita sem propósito, com barba de leopardo, mui zeloso nos pontos de honra, a questionar sem causa, buscando a falaz glória até mesmo na boca dos canhões. Segue-se o juiz, com ventre bem forrado de cevados capões, olhar severo, barba cuidada, impando de sentenças e de casos da prática; desta arte seu papel representa. A sexta idade em calças magras tremelica, óculos no nariz, bolsa de lado, e a voz viril e forte, que ao falsete infantil voltou de novo, chia e sopra ao cantar. A última cena, remate desta história aventurosa, é mero olvido, uma segunda infância, falha de vista, de dentes, de gosto e de tudo.”

Ah, meu caro leitor! Ninguém descreveu com tanta poesia e capacidade de síntese esta vida que levamos. Shakespeare é uma leitura grandiosa, a qualquer estado de espírito, a qualquer necessidade da alma. Sempre haverá uma peça, ou trecho dela, que exprima exatamente aquilo que estamos pensando e às vezes nem compreendemos direito; ou aquilo que queremos dizer mas não sabemos como.

E é por isso que nos aqui, quatrocentos e quarenta e cinco anos depois, estamos repetindo as palavras deste homem que com sua arte, conseguiu levantar o véu que encobre essa matéria sutil: a Alma Humana.

No post de amanhã, voltaremos aos assuntos habituais, muito embora seja possível passar um ano inteiro. escrevendo diariamente sobre William Shakespeare.

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Ser ou Não Ser, eis a questão?

Clotilde Tavares | 22 de abril de 2009

hamlet-yorik“A Tragédia de Hamlet, Príncipe da Dinamarca” ou simplesmente “Hamlet”, como é mais conhecida, é entre as obras do “bardo” aquela que se encontra no topo da excelência artística. O enredo conta a história do príncipe Hamlet, cujo pai morre de causas aparentemente naturais; o fantasma do rei aparece então ao príncipe dizendo que foi assassinado e pedindo ao filho pra vingá-lo.

pooryorick2Dito assim, parece ser uma simples história de vingança, mas não é. Enquanto a trama vai sendo construída, os personagens vão se mostrando mais elaborados e o personagem principal assume um nível de profundidade e complexidade tal que serve como um verdadeiro estudo da alma humana.

“Hamlet” é uma obra tão arraigada no imaginário ocidental que, mesmo que nunca a tenhamos lido ou visto no palco ou no cinema, nos lembramos imediatamente dela se nos mostrarem a imagem de um homem, em atitude meditativa, segurando um crânio. E se eu perguntar a qualquer um dos meus caros leitores o que Hamlet está dizendo nesta hora provavelmente todos responderão: “Ser ou não ser, eis a questão”.

pooryorickMas é engano. Não é isso absolutamente o que diz o príncipe nessa hora. O famoso “ser ou não ser” localizado na Cena I do Ato III, ocorre numa sala do Castelo de Elsenor, onde não há caveiras nem ossadas. A cena na qual Hamlet empunha o crânio é, na verdade, a famosa “cena dos coveiros”, a primeira cena do Ato V.

Nesta cena, Hamlet está no cemitério do castelo, onde dois coveiros estão abrindo a cova de Ofélia, que será enterrada daí a pouco. Revolvendo a terra com a pá, um dos coveiros encontra uma caveira. Hamlet pergunta de quem seria aquele crânio e o coveiro responde que pertencia a Yoric, o bobo do rei. O príncipe então toma a caveira entre as mãos e lamenta; “Pobre Yorik”, relembrando quando era criança e se divertia na corte com os gracejos do bobo.

Então, por que sempre pensamos que o homem com a caveira na mão está dizendo o famoso “to be or not to be”? Elementar, meu caro leitor: a frase mais famosa da peça (e talvez do teatro) funde-se quase sem querer com sua imagem também mais famosa, embora aterradora: o homem, contemplando filosoficamente o profundo mistério da Morte.

Imagem e frase, impressas para sempre em nossa mente, em tributo eterno a um homem que elevou a dramaturgia ao nível das obras primas. Parabéns, William Shakespeare.

Laurence Olivier, na famosa cena.

Laurence Olivier, na famosa cena.

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Shakespeare, sempre e eternamente!

Clotilde Tavares | 21 de abril de 2009

shakespeare2Todo ano nessa mesma época estou falando, escrevendo, dando cursos ou oficinas sobre William Shakespeare, o imortal poeta e dramaturgo inglês, o homem cuja obra atravessou incólume, poderosa e sempre renovada a barreira dos séculos e ainda encanta multidões.

Nesta quinta-feira, 23 de abril, decorrem 445 anos do seu nascimento, que ocorreu no ano de 1564 na cidade de Stratford-on-Avon, na Inglaterra. E daqui dessas lonjuras do espaço/tempo eu, fã inconteste, tiete despudoradamente shakespeareana até a última fibra do meu coração poético e teatral, saúdo este homem e digo que sua leitura continua sendo fonte de um prazer estético e artístico indescritível, que deveria ser experimentado por todos.

Por que ler Shakespeare hoje? Ora, minha gente! Porque Shakespeare – como todo clássico – é atual, é universal e é genial. Mas é velho, diria você. É antigo, é antiquado, trata de reis e rainhas, coisas obsoletas, que não existem mais.

ghost_hamlet1

Hamlet e o fantasma

Mas eu lhe peço dois minutos de atenção. Imagine uma história onde fantasmas aparecem e revelam crimes do passado, e um jovem se vê na obrigação de vingar a morte do pai, sendo traído e enganado pelos amigos e pelo rei, usurpador do trono. Na ânsia de vingar-se, despreza a namorada e ela enlouquece e morre. No final, tudo dá errado e morrem todos! Parece quadrinhos, Sandman, Mangá, Kill Bill ou Batman. Parece a novela das oito ou o último épico que está passando no cinema próximo.

Mas não é nada disso: é “Hamlet“. O bom é que esta peça, escrita em 1501, pode ser vista como uma história de assassinato e vingança, povoada de fantasmas, suicidas e paisagens de cemitérios; mas pode também ser entendida como uma das mais espetaculares viagens de descoberta de um ser humano à procura da sua própria alma.

Macbeth

Macbeth

E não venha me dizer que Shakespeare é chato, que a linguagem é incompreensível e difícil de entender. Eu defendo a idéia de que tudo que há em “Hamlet” pode ser compreendido por qualquer adolescente de quinze anos. É somente uma questão de se entregar, de mergulhar na lógica interna daquela linguagem aparentemente difícil. Depois de dez minutos, você está entendendo tudo.

Aí alguém pergunta (como já me perguntaram): “E porque então ele não escreveu numa linguagem mais simples?” Ora, meu caro leitor! Você está propondo que o pavão, com aquele leque de mil cores que se desdobra com lentidão e maravilha, se torne preto e branco? O que eu sei é que os jovens adoram, quando entram na viagem.

Sonho de Uma Noite de Verão

Sonho de Uma Noite de Verão

E o que é isso: “entrar na viagem”? É despir-se dos preconceitos e ultrapassar as barreiras que nos separam dessa obra tão genial. A principal barreira, e talvez a mais amedrontadora, é mesmo a da linguagem. William Shakespeare se expressa com riqueza de detalhes, de metáforas e de imagens poéticas de uma forma que revolucionou a língua inglesa da época elisabetana e que ainda hoje dificulta um pouco a sua leitura até mesmo no idioma original. Mas é só relaxar, deixar-se levar pela magia das palavras e começar a entender que “o úmido astro que ergue o império de Netuno” é a Lua, e que “a carga de Hércules” é o mundo, o globo terrestre. Mal comparando, as músicas de Marcelo D2 e do “rap” em geral, por exemplo, também são incompreensíveis para quem não “entra na viagem” da linguagem, das expressões, dos assuntos abordados.

O Mercador de veneza

O Mercador de veneza

Quanto aos temas, são os mesmos e eternos temas que o ser humano sempre gostou de discutir: ambição (“Macbeth”), vingança (“Hamlet”), inveja, ciúme e desconfiança (“Otelo”), amor impossível (“Romeu e Julieta”), enganos do amor (“Sonho de Uma Noite de Verão”), velhice, decrepitude e ingratidão dos filhos (“Rei Lear”), orgulho e prepotência (“Coriolano”), a luta pelo poder (“Ricardo III”, “Júlio César”), magia e encantamento (“A Tempestade”), como agarrar um homem – ou uma mulher (“A Megera Domada”, “Trabalhos de Amor Perdidos”), o exercício da justiça (“O Mercador de Veneza”)… e por aí vai.

Coriolano

Coriolano

A experiência prática que eu tenho é que, quando se apresenta Shakespeare aos jovens, no início há uma estranheza por causa da linguagem; mas logo em seguida, quando se “entra na viagem”, a paixão é súbita, avassaladora e permanente, a mesma paixão que se abateu sobre mim quando, curiosa e despida de idéias preconcebidas, li o “Hamlet” pela primeira aos 16 anos de idade. Não compreendi muita coisa, mas gostei – nem sempre é preciso compreender para gostar – e hoje, depois de décadas lendo de novo e novamente essa obra, considero que ela ainda me reserva muitos espantos e surpresas.

A partir de hoje, e por mais dois dias, culminando no dia 23 de abril, seu aniversário, estaremos aqui rendendo homenagem a William Shakespeare.

Então, comemore comigo e saiba que, em qualquer lugar do mundo, quando no ar vibrarem as suas palavras imortais, lidas em qualquer idioma, o bardo de Stratford estará conosco, conectando-nos com a alma poética da Humanidade, e fazendo correr um oceano de Beleza, Poesia e Prazer para dentro do nosso coração.

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Virose braba!

Clotilde Tavares | 20 de abril de 2009

Ontem um vírus ou uma comida mal feita tomou conta de mim. Fiquei doente, derrubada, com sintomas gastro-intestinais (tem hífen?) arrasadores, inútil para o mundo, miseravelmente fora de combate. De 10 em 10 minutos, um golinho de soro caseiro que eu mesma preparei porque: SORO CASEIRO: EU ACREDITO! De 10 em 10 minutos, rezando e torcendo para melhorar porque hoje de tarde eu estarei fazendo uma palestra sobre “O Escritor e a Internet”, na União Brasileira dos Escritores-PB.

Quanto eu era estudante de Medicina, e depois médica recém-formada, não tinha assim tanto vírus solto pelo meio do mundo. Hoje, são viroses e mais viroses que nos acometem, e a gente sai de casa boazinha e volta doente, como aconteceu comigo ontem. Também havia menos e mais confiáveis restaurantes. Hoje, a gente senta numa dessas arapucas de shopping center e nem sabe se vai sair dali viva e andando.

Então, passei aqui somente para deixar esse recadinho, para dizer que estou melhorando, e para convidar quem quiser ir à tarde, lá pras 14 horas, no Centro Cultural Joacil de Britto, na Praça Dom Adauto, na capital paraibana. Vai haver palestras, exposições, e lançamentos.

Neste dia 20 de abril, data de aniversário do nascimento do poeta maior Augusto dos Anjos, comemora-se por Lei Estadual o Dia do Escritor Paraibano.

NOTA, postada em 20/04 às 20 horas: não melhorei, e não pude ir ao evento. Ainda estou doente, e refletindo sobre a facilidade com que o delicado mecanismo do corpo humano se desregula com uma besteira. Estou convalescendo, mas essas 24 horas onde meu corpo simplesmente se transformou num caos, foram difíceis.

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