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Como fazer a verdadeira tapioca nordestina

Clotilde Tavares | 22 de setembro de 2009

Não sou daquele tipo de gente que gosta de café da manhã variado. Não gosto de frutas de manhã, pois sou do tempo em que a gente acorda com o corpo “quente” e fruta é uma comida “fria”, aí não combina. Sei que isso não tem fundamento científico mas fazer o que? Meu corpo se arrepia à qualquer sugestão de fruta no café da manhã. Então: meu desjejum é iogurte com linhaça, depois café, pão e queijo. E só.

Hoje não tinha pão, mas tinha goma na geladeira e eu fiz uma tapioca bem gostosa, recheei com queijo e ficou tudo tão saboroso que não resisti à tentação de fazer inveja aos meus amigos do Twitter, principalmente à jornalista Ariane Mondo, que mora na Alemanha e é doida por tapioca. Então algumas pessoas me pediram a receita, tudo gente de outros países, pois aqui no país do Nordeste todo mundo sabe fazer tapioca.

Eu já publiquei essa receita no meu livro “A Agulha do Desejo” e em alguns jornais nos quais escrevo, mas não me custa nada ensinar aqui tudo de novo. E saiba que a tapioca é uma iguaria tipicamente nordestina e de origem indígena, com surpresas de simplicidade e requinte, como você vai ter oportunidade de ver.

Primeiro é preciso goma de mandioca, fresquíssima, “verde”, com chamam lá no interior, peneirada em peneira bem fina. Aí você pega uma frigideira de uns 17 centímetros de diâmetro, bem limpinha, e coloca no fogo mas atenção: nada de óleo, manteiga ou gordura. Muita gente faz tapioca numa chapa, usando um aro de metal de uns 10 cm de diâmetro para delimitar o lugar onde se coloca a goma. Isso é coisa moderna e eu não gosto. Tapioca para mim tem que ter o formato de uma panqueca, um “tortilha”, um disco fino de massa de cerca de uns 15 centímetros de diâmetro com no máximo 3 ou 4 milímetros de altura.

Quando a panela está bem quente, você pega um punhado da goma, já peneiradinha, e espalha na assadeira, preenchendo todo o fundo desta com uma camada mais ou menos uniforme da goma. Com muito carinho e precisão, tome entre os dedos uma pitada de sal e espalhe sobre a goma. Usando as costas de uma colher, nivele – mas sem apertar muito – a superfície da tapioca e pronto: está na hora de virar. Nesse momento, respire fundo, tome a assadeira pelo cabo e balance delicadamente para soltar a tapioca; aí, com um gesto rápido, atire a tapioca para cima, observe com espanto ela se virar no ar e a deixe cair suavemente na panela para cozinhar o outro lado. Balance um pouco a frigideira, veja se ela já solta da superfície e pronto: a tapioca está pronta. Passe para um prato, pegue um pano de prato bem limpinho e seco e com ele esfregue a assadeira para tirar qualquer fragmento de goma, colocando-a de novo no fogo para fazer a próxima.

Enquanto a panela esquenta outra vez, adube a tapioca, passando manteiga e dobrando-a ao meio, ou enrolando-a. A tapioca também pode ser feita no coco; aí, enquanto ela está no fogo, coloque um pouquinho de coco ralado espalhado sobre a massa e depois cubra o coco com um pouquinho da massa antes de virar. Mas cuidado: essa versão no coco é complicada em relação à acrobacia aérea descrita antes. Nesse caso, é melhor virar com a espátula. Depois dela pronta – se for recheada com coco – também se usa jogar sobre ela algumas colheres de leite de coco diluído em água e açúcar. Eu prefiro a tapioca com manteiga ou – numa extrema concessão – requeijão ou queijo em fatia finíssima.

Quanto às tapiocas com dezenas de recheios variados e diferentes, acho que tudo isso é modismo de verão, inventado num dia e abandonado no outro para agradar turistas e visitantes. O bom mesmo é a tapioca simples, nordestina, sem enfeites, mas guardando um tesouro de sabor, textura e cor que você não encontra nessas novidades. Um poema de alvura e sabor, derretendo na boca: esta é a sincera tapioca nordestina.

Neste vídeo você pode ver como se faz ao vivo; foi o vídeo mais parecido que eu achei com a minha receita, muito embora o seu resultado seja uma tapioca recheada com leite condensado e não haja acrobacias aéreas. Há outros vídeos sobre o tema no You-Tube. Mãos à obra, e bon appetit!

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comida típica, goma de mandioca, receita de tapioca, tapioca
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Dia da Árvore

Clotilde Tavares | 21 de setembro de 2009

Sou apaixonada por árvores. Hoje, no Dia da Árvore, convido a todos os leitores a fazer comigo um exercício, uma reflexão. Convido todos a sair de dentro de casa, procurar uma árvore qualquer e olhar para ela.

Geralmente, quando fazemos isso, quando olhamos para uma árvore vemos, por exemplo, a possibilidade que tem de nos fornecer madeira, cola, lenha, ou frutos para a nossa alimentação. Podemos também avaliar a sua capacidade de nos dar sombra para o descanso ou até mesmo um galho jeitoso para armar a nossa rede. Essa forma de olhar para a árvore é uma forma utilitária, econômica, onde a árvore desperta a nossa atenção somente pelo proveito que podemos tirar dela. Olhamos não a árvore, mas a sua utilidade em relação a nós. A pergunta que fazemos é: para que serve esta árvore?

Vamos imaginar agora que, em lugar de perguntar à árvore para que ela serve, nos interessemos por outro aspecto, e queiramos saber que tipo de árvore é essa, qual é a espécie vegetal a que ela pertence, a sua idade, suas relações com o meio ambiente, de que forma ela cresce, toda aquela história de xilema e floema, vasos lenhosos e liberianos. Esse é o olhar científico, e a pergunta que fazemos é: como esta árvore funciona?

Nessas duas formas de olhar, vemos a árvore como uma coisa, um objeto, apenas mais uma árvore entre tantas. Ao longo da nossa vida, vamos fazendo assim com todas as coisas que nos cercam, e até mesmo com as pessoas. Olhamos, e não vemos. Analisamos, e não sentimos. Dessa maneira, o mundo vai ficando chato, sem graça, sem encanto.

Mas quando olhamos para essa árvore e procuramos ver o seu Mistério vivo, sem nos interrogarmos para que ela serve ou de que forma ela funciona, quando procuramos perceber nessa árvore um universo de imagens e de formas que contém uma mensagem íntima e secreta, devolvemos a ela o seu encanto, e a pergunta que fazemos é: o que esta árvore me revelará?

Passamos assim a aprender a escutar o Universo e perceber a imensa poesia e o deslumbrante fascínio que existe por trás de todas as coisas. E recuperamos, com esse olhar encantado, a possibilidade de voltar ao Paraíso.

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A Magia do Cotidiano, árvore, dia da árvore, reencantamento do mundo
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Cioran e o domingo

Clotilde Tavares | 13 de setembro de 2009
Cioran

Cioran

Hoje, com preguiça de ter ideias, abri meu arquivo de frases. É um arquivo que tenho no computador e que me socorre sempre nessas horas em que estou com preguiça de escrever. São frases instigantes, curiosas, inteligentes, que vou juntando até que um dia elas possam servir para alguma coisa.

E para este domingo de preguiça, nada como uma boa sacudidela na felicidade, desafinando o coro dos contentes e atacando de pessimismo com o filósofo Émile Cioran (1911-1995). Cioran nasceu na Romênia, foi para a França com 26 anos e lá permaneceu até à morte, na convicção de que a condição de apátrida seria a melhor possível para um intelectual. Deixou vários escritos filosóficos sobre alienação, absurdo, decadência, tirania e temas semelhantes. Então, para você, neste domingo, alguns dos meus trechos preferidos de Cioran.

“Não existe diferença alguma entre os sonhos de um açougueiro e os de um poeta”.

“É o louco que existe em nós quem nos obriga à aventura. Se nos abandona, estamos perdidos: tudo depende dele, inclusive nossa vida vegetativa; é ele quem nos convida a respirar, quem nos obriga a tal, e é também ele quem empurra o sangue por nossas veias. Se ele se retirassse, ficaríamos sós!bNão se pode ser normal e vivo ao mesmo tempo.”

“Longe de mim o desejo de pervereter tuas esperanças: a vida se encarregará disso.”

“Se eu acreditasse em Deus, minha indiferença não conheceria limites: passearia completamente nu pelas avenidas.”

“Todo solitário é suspeito; um puro não se isola. Para desejar a intimidade de uma cela é preciso ter a consciência pesada, é necessário ter medo dessa consciência.”

“A função dos olhos não é ver, e sim, chorar. E para ver, realmente, é preciso fechá-los: é a condição do êxtase, da única visão reveladora, no momento em que a percepção se esgota no horror do já visto, do irreparravelmente sabido desde sempre.”

“Querer significa manter-se a qualquer preço em estado de exasperação e febre.”

“Tenta ser livre, morrerás de fome. A sociedade só tolera os servis e os déspotas. É uma prisão sem guardas, mas da qual não escapa ninguém sem perecer.”

“O pensamento é uma mentira, como o amor ou a fé. Pois as verdades são fraudes e as paixões odores; e, no fim das contas, a escolha está entre aquele que mente e aquele que fede.”

Finalmente a que mais gosto, e que se aplica muito bem ao dia de hoje:

“A única função do amor é a de ajudar-nos a suportar essas tardes dominicais, cruéis e incomensuráveis, que nos ferem para o resto da semana e para toda a eternidade.”

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Ouviram do Ipiranga

Clotilde Tavares | 7 de setembro de 2009

O povo heróico, cujo brado retumbante foi ouvido um dia às margens plácidas do Ipiranga, anda cansado. Heróico, mas cansado, oprimido e estarrecido em meio aos escândalos que superaram o nonsense bigbrotheriano na TV, em meio ao custo de vida sempre crescente, aos impostos mais altos, e à violência das grandes cidades. O brado nem retumba mais: o que retumbam são os disparos nas madrugadas, nas cidades sitiadas pela violência. As margens também não são mais tão plácidas, porque os rios estão sendo assoreados pelo desmatamento ou mergulhados na lixívia da poluição.

Quanto ao sol da liberdade, seus raios fúlgidos persistem em brilhar no céu da Pátria mas não para todos, uma vez que há muitos vivendo na escuridão dos casebres, favelas, cabeças-de-porco e outros tipos de habitações sub-humanas. Há ainda a escuridão do analfabetismo, da ignorância e da brutalidade em que muitos vivem mergulhados. Os braços outrora fortes que conquistaram o penhor dessa igualdade estão cansados de lutar sem ver nenhum resultado, e o nosso peito, que desafiava a morte no seio da liberdade, está fraco, combalido, quase mudo.

Mas ainda te amamos, Pátria. E queremos que te salves, salve, salve!

Ah, Brasil! Do teu formoso céu, risonho e límpido, onde resplandece a imagem do Cruzeiro, desce à terra um sonho intenso, um raio vívido de amor e de esperança. És tão grande, tão enorme, de uma natureza tão rica e tão grandiosa, colosso impávido, tão belo, tão forte! Será que o teu futuro vai espelhar esta grandeza? Minha terra adorada, minha Pátria, gentil mãe dos filhos deste solo, meu Brasil… Será, Brasil, que estás te preparando para esse futuro, que deverá um dia espelhar tua grandeza? Será que já não permaneces há muito tempo deitado em berço esplêndido, ouvindo o marulhar das ondas e perdido na contemplação do céu profundo, fulgurando como verdadeiro florão da América iluminado ao sol do Novo Mundo?

Tuas terras não são mais tão garridas, invadidas pela grilagem e pela especulação, enquanto as flores dos teus campos foram calcadas pelos pés daqueles que não têm terra para nela morar e trabalhar. E onde está a vida dos nossos bosques, contrabandeada em gaiolas para o estrangeiro, que vive e registra nossos produtos como sendo deles, que se alimenta e enriquece às custas da apropriação da nossa biodiversidade? Nossa vida, que em teu seio deveria ser repleta de amores, está cada vez mais farta em suores e cansaço na dura labuta que nos fornece apenas o pão de cada dia, o duro catre para o repouso e uma existência sem perspectivas.

Mas continuamos te amando, Pátria idolatrada. Mesmo que seja cada vez mais difícil ver como símbolo de amor eterno tua bandeira, que ostentavas com orgulho cheia de estrelas, e o verde e ouro que prometia paz no futuro e glória no passado. Essa bandeira que serve de pano de fundo para as solenidades oficiais, onde figurões engravatados e desonestos simulam governar para o povo e em nome deles, mas fazem a clava forte da justiça se erguer apenas em defesa dos ricos e poderosos. Teus filhos estão quase sem energia e disposição para irem à luta, temerosos da morte e do esquecimento, e acham que a batalha não vale a pena pois estão certos de que estarão dando a vida por uma ficção, uma miragem, uma figura de linguagem.

Ah, terra adorada! Entre outras mil, és tu, Brasil? Ó Pátria amada, serás mesmo mãe gentil dos filhos deste solo? Pátria amada? Brasil?


Este texto foi escrito e publicado no dia 7 de setembro de 2005, na Tribuna do Norte/Natal-RN. Como continua atual, publico novamente.


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7 de setembro, Brasil, hino nacional brasileiro, Independencia do Brasil, Independencia ou morte, patriotismo
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Os contos de Cantuária – uma romaria medieval

Clotilde Tavares | 18 de agosto de 2009

Provavelmente o meu caro leitor sabe o que é uma romaria, e talvez até já tenha participado de uma. Quando falo em romaria quero dizer a viagem de um grupo de pessoas a um lugar santo, a um igreja, a uma cidade sagrada. A minha mãe era romeira do meu padrinho Padre Cícero Romão Batista e todos os anos, no mês de janeiro, partia para o Juazeiro, em ônibus lotado especialmente para esse fim. São famosas as romarias ao Bom Jesus da Lapa e a São Francisco do Canindé, para citar apenas duas das mais concorridas do Nordeste.

Uma romaria que passou à história embora jamais tenha acontecido de verdade é o tema de uma das maiores obras da literatura universal, obra essa que me apaixona há muito tempo e que hoje quero compartilhar com você: trata-se de “Os Contos de Cantuária” (“The Canterbury Tales”) escrito em 1368, ou seja, há mais de seiscentos anos por Geoffrey Chaucer, escritor inglês, funcionário da corte na época de Ricardo II.

“Os Contos de Cantuária” tem como fio condutor uma romaria que vinte e nove peregrinos resolvem fazer juntos ao túmulo do Santo Thomas Beckett. Combinam então contar histórias para encurtar a viagem e se distraírem no trajeto. Essa estrutura narrativa era comum na literatura medieval e ainda continua sendo uma boa forma de contar histórias nos dias de hoje.

O melhor do livro é que ele mostra um variado panorama da vida medieval, uma vez que diferentes pessoas estavam representadas nessa animada companhia: um cavaleiro, um moleiro, um monge, um padre, uma freira, um mercador, um estudante, um proprietário de terras, um médico, um magistrado… Cada um, ao contar sua história, traz elementos da sua profissão, da sua visão de mundo, enriquecendo o relato e dando exemplos da cultura medieval e das atividades humanas em narrativas palpitantes, cheias de vida e, muitas vezes, picarescas, como no Conto do Moleiro, repleto de leves e graciosas obscenidades.

Um dos meus preferidos é o Conto da Mulher de Bath, onde a narradora defende que os prazeres do sexo não devem ser prerrogativa exclusiva do sexo masculino, tendo as mulheres o direito de se divertirem da mesma forma que os homens. A defesa que ela faz dessa tese antes de narrrar o conto propriamente dito é ousada, inteligente e engraçadíssima, tornando a mulher de Bath uma das grandes personagens da literatura universal.

Um dos traços mais importantes dessa obra é que, numa época em que os livros eram escritos em latim, considerada a língua oficial, a língua culta, Chaucer escreveu em inglês. Não o inglês que conhecemos hoje, porque naquela época a língua inglesa, a rigor, ainda não existia. Chaucer utilizou parte inglês anglo-saxão, parte francês normando, recheado de palavras latinas, enfim, a língua que se falava na corte. Nessa época de consolidação política da nação inglesa o idioma também nascia e se consolidava, tomando feição própria a partir de elementos saxões, normandos, latinos e o mais que fosse. Pode-se dizer, sem medo de errar, que Chaucer “inaugurou” a língua inglesa na literatura.

Chaucer

Chaucer

Vale a pena embarcar nessa viagem com os peregrinos e ouvir suas histórias. O livro é difícil de encontrar, mas na Biblioteca da UFRN eu encontrei uma edição em português, editada por T. A. Queiroz, com data de 1988, que traz apresentação e notas de Paulo Viziolli, que também assina a tradução. Há ainda um filme de Pasolini – simplesmente maravilhoso – embora não contenha a totalidade das histórias contadas por Chaucer e, obviamente por ser uma adaptação, priva o leitor dos aspectos literários do texto.

De uma coisa estou certa: lendo o livro, além do prazer natural que tirará de leitura tão agradável e rica, o meu caro leitor receberá as bênçãos generosas do santo Thomas Beckett, em nome do qual se empreendeu esta monumental romaria literária.

Mais links: Quadrilha Medieval, De Rerum Natura,

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canterbury tales, contos da cantuária, Geoffrey Chaucer, literatura inglesa, literatura medieval, mulher de Bath, thomas beckett
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Dona Maria de Padilla

Clotilde Tavares | 14 de agosto de 2009

O Umas & Outras é rock and roll. Como muita gente já está careca de saber, o rock é uma das minhas paixões. Meus filhos são roqueiros, e o casal Ana Morena/ Anderson Foca, filha e genro, vivem disso há bem uns dez anos, estando em Natal à frente do empreendimento roquístico Dosol, que inclui um Centro Cultural – só de rock – um Festival Nacional que rola todo ano, estúdio de gravação, produtora de video e – melhor que tudo – um moinho de idéias novas sempre em movimento. O Foca é um dos nomes mais respeitados no país na cena rock independente, e hoje o Umas & Outras, junto com dezenas de outros sites, está lançando o novo EP do Rejects, a banda do genro. É só clicar na figura para baixar. Mas aumenta o som que é rock and roll.


Nos meus tempos de louca e airada juventude, de aventuras e delírios, uma pessoa amiga, receosa de que algo de ruim me acontecesse, disse que tudo aquilo não era coisa minha: era obra de uma entidade que vivia perto de mim e que me levava a ser tão trelosa e aventureira. No meu irrecorrível ceticismo, não quis dar atenção ao caso; mas os meus dez por cento supersticiosos começaram a me incomodar e vez por outra eu me pegava olhando por cima do ombro para ver se surpreendia a tal entidade que supostamente estava me jogando nos caminhos da perdição.

Por via das dúvidas, fui então a um lugar onde há gente habilitada para lidar com esse tipo de coisa, sendo recebida por uma mulher muito mais velha do que eu, sábia e maternal, que me esclareceu e aconselhou. Descobri então que a entidade era uma certa Maria Padilha, figura popular nos cultos afro-brasileiros, às vezes identificada com a Pomba-Gira, mulher bonita, doida por homem, com algo de prostituta e feiticeira. Algumas obrigações então me foram impostas para satisfazer os apetites da aparição, principalmente sua sede pelo bom vinho tinto, que lhe presenteei largamente através de muitas garrafas quebradas nas encruzilhadas.

Devo dizer que não entendo nada dessas coisas; apenas faço o que é preciso quando chega a hora de fazer e quem quiser saber mais sobre esse povo encantado pode perguntar ao professor Luiz Assunção, pesquisador desse lado oculto, oculto ele mesmo numa sala da UFRN onde pesquisa e estuda, como os verdadeiros estudiosos, com discrição e em silêncio.

Então o meu caro leitor não imagina a minha surpresa quando, lendo sobre história da Espanha no período medievo dou de cara logo com quem? Com Dona Maria Padilha, ela mesma, em pessoa, carne, osso e história. O livro conta a história de Pedro, conhecido como “o Cruel”, filho de Afonso XI de Castela. O rei tinha uma esposa legítima – a mãe de Pedro – e uma amante fértil, que lhe deu vários filhos bastardos, preferidos pelo pai. Aos quinze anos, depois de uma infância obscura e amargurada, Pedro subiu ao trono em 1350 e baniu todos os irmãos, condenando à morte a amante do pai. Quando sua noiva, Branca de Bourbon, chegou da França, desposou-a, passou duas noites com ela e depois desprezou-a, indo em busca da amante, Dona Maria de Padilla, “cuja beleza era tão embriagadora que os cavaleiros da corte bebiam extasiados a água na qual ela tomava banho”. Quevedo a descreve : “Era hermosa la Padilla/ Manos blancas e ojos negros/ Causa de muchas desdichas/ Y desculpa de más yerros.” Pedro foi mais tarde assassinado por um seu meio-irmão, que se tornou Henrique II de Castela.

A partir daí, fui rastrear o que teria Dona Maria de Padilla, amante de Pedro, o Cruel, a ver com a entidade cultuada nas religiões afro-brasileiras. Encontrei então o excelente livro “Maria Padilha e toda a sua quadrilha: de amante de um rei de Castela a pomba gira de umbanda” (São Paulo, Duas Cidades, 1993) da autoria de Marlyse Meyer, essa pesquisadora incansável que conheci em Natal, onde ela esteve várias vezes para palestras e seminários. Marlyse Meyer estabelece, em uma narrativa encantadora, sem perder o rigor da pesquisa, todos os links entre a criatura de verdade e o ser imaterial que andou, ao meu lado, ou melhor, atrás de mim, por uns tempos.

Quer dizer: andou, não. Ainda anda. E o interessante disso tudo é que, com os anos, eu amadureci, mas a criatura não. Como gente encantada que se preza, permanece perene e imutável no tempo-que-não-é-tempo e continua comigo, muito mais calma agora porque cabe a ela todo o álcool que eu não consumo há quase vinte anos. Hoje já consigo vislumbrá-la quando olho por cima do ombro, especialmente nas noites em que a lua cheia e a brisa convidam à aventura, ou quando uma bela figura de homem se levanta e atravessa o bar, a sala, o restaurante, a rua. No acordo que estabelecemos uma com a outra, finalmente conseguimos viver em paz e é para ela essa crônica de hoje, para Dona Maria Padilha, minha amiga, minha acompanhante, de brancas mãos e negros olhos, com todo o respeito e agradecimento por tudo aquilo que, mesmo perigosamente, me fez viver.

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O Elogio da Loucura

Clotilde Tavares | 8 de agosto de 2009

Depois de tanta bobagem que este blog trouxe ontem, hoje eu quero voltar um pouco à normalidade para falar de um livro que todo mundo ouviu falar, mas que pouca gente leu. E eu garanto que é um livro imperdível.

Erasmo, retratado por Holbein, o jovem.

Erasmo, retratado por Holbein, o jovem.

Lembra de quando estudamos História, e do nome de Erasmo de Rotterdam? Do seu livro e principal obra, “O Elogio da Loucura”? Como você talvez, eu nunca tive interesse no citado Erasmo. Talvez aquele retrato dele que é divulgado nos livos, que o mostra vestido de negro, com os olhos baixos e um nariz desproporcionado, ou o fato de ser um monge, não tenha chegado a atrair o meu interesse por sua obra.

Mas finalmente, alguns anos atrás, eu descobri o humor cortante e ácido deste livro, escrito em 1509 e publicado dois anos depois em Paris, que enfureceu os teólogos da época e alcançou status de best-seller: foram 40 edições e cerca de doze traduções somente durante o período de vida de Erasmo (1469-1536).

“O Elogio da Loucura” satiriza tudo: o conhecimento, as instituições, o clero, as profissões, os governantes. Nele, a Loucura, que fala na primeira pessoa, faz o seu próprio elogio e se diz na origem de todas as coisas, colocando-se também como geradora da própria Humanidade, já que é necessário que o homem fique tomado por ela se quiser tornar-se pai, pois somente a Loucura justifica a desenfreada perseguição do macho atrás da fêmea, da qual ele idealiza a carne e os sentimentos.

Rotterdam, o maior porto marítimo da Europa

Rotterdam, o maior porto marítimo da Europa.

E é ainda a Loucura que faz com que o homem se escravize pelo casamento à monogamia para satisfazer um capricho tão passageiro e somente uma mulher dominada pela Loucura consentiria em se submeter ao dever conjugal, às dores do parto e às dificuldades com a educação dos filhos. Assim, é da Loucura, temperada com o riso, o prazer e a embriaguês amorosa, que nascem os seres humanos, desde os monarcas, filósofos e sacerdotes até o mais comum dos camponeses.

Gipsy, meu alter ego, muito doida!

Gipsy, meu alter ego, muito doida!

E continua Erasmo de Rotterdam, com sua figura enganadoramente taciturna, a fazer o elogio da deusa Loucura e suas companheiras: a Adulação, a Volúpia, o Amor-Próprio, o Esquecimento, a Irreflexão, a Delícia, o Prazer-da-Mesa e o Sono-Profundo. Critica a Sabedoria, afirmando que se a razão governasse o mundo não existiria a coragem. Submete todos à verruma da sua pena: filósofos, médicos, teólogos, monges, frades, inquisidores, cardeais e papas, sem esquecer os reis, juntamente com a corte.

Se você ficou curioso, o livro é fácil de encontrar. Há um volume na coleção “Os Pensadores” e cópias disponíveis na Internet.

Finalmente lhe deixo com o conselho de Erasmo: “Só a loucura tem a virtude de prolongar a juventude, embora fugaz, e de retardar a malfadada velhice”.

Enlouqueçamos, pois.

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Escrever: fissura, ofício e prazer

Clotilde Tavares | 5 de agosto de 2009

Um dos leitores deste blog me escreve relatando que ouviu uma crítica à minha forma de escrever, e ficou incomodado. Ele ouviu uma pessoa dizer que lamentava que eu escrevesse de modo tão simples, tão corriqueiro. Segundo essa tal pessoa, meus escritos eram medíocres pois não mostravam erudição, não pareciam produzidos por uma pessoa da Universidade (à qual pertenci durante quase mais de trinta anos).

Quero tranqüilizar o meu amigo, pois considero essa opinião um elogio. É exatamente esse o meu objetivo: escrever para que as pessoas entendam a história que estou contando, a opinião que estou defendendo, o ponto de vista que estou querendo demonstrar.  E quanto mais gente entender, melhor.

É sempre bom escrever lembrando que a escrita é um processo de comunicação e que esse objetivo, de comunicar algo, que deve vir em primeiro lugar. No entanto, muita gente se deixa seduzir pela vaidade e se esquece disso, colocando em primeiro lugar objetivos pessoais como “fazer bonito”, ser admirado, ser elogiado. Aí, geralmente, o que se vê é uma escrita empolada, pedante, cheia de preciosismos e geralmente incompreensível,.

Para cada tipo de leitor, ou de texto, há uma escrita diferente. A linguagem do blog é um tantinho mais leve e coloquial do que a linguagem das crônicas que escrevo semanalmente para os jornais e quando escrevo para teatro, tenho que ter o leitor – ou melhor, o espectador – sempre presente porque a peça não é literatura; é teatro e tem que prender a atenção do espectador para que ele fique ali sentadinho e assista até o final. Enquanto você pode largar o livro e sair um pouco, tomar um copo de água e depois retomar a leitura, no teatro isso é impossível. Então é preciso pensar sempre no espectador, e na forma de prendê-lo na poltrona sem que ele se entedie.

As crônicas têm endereço certo: o meu “caro leitor”, a quem me dirijo textualmente em algumas delas. A crônica – no meu entender – tem que ser curta, amena, em linguagem simples e deve ter um fecho interessante. Às vezes em vez de crônicas escrevo artigos opinativos, mas procuro seguir o mesmo princípio e sempre usando o humor. O meu “caro leitor” são as pessoas comuns que lêem, ou melhor, passam os olhos no jornal.

Isso não quer dizer que eu não possa ou não saiba escrever do jeito “acadêmico”. Se eu quiser, posso produzir um texto assim. Já escrevi teses, monografias e artigos científicos na época em que me dedicava exclusivamente à produção de conhecimento científico na área específica em que trabalhei por anos. Lembro-me de que uma vez me diverti bastante em um curso que fiz. O professor era daqueles que adorava quem escrevia “difícil” e eu mandava ver, somente para tirar a nota máxima. Alguns trabalhos meus não faziam o menor sentido – eu escrevia assim de propósito – mas o camarada se envolvia com as minhas palavras bonitas e os períodos subordinados em cascata e sempre colocava dez.

Só tem uma hora em que eu não penso no leitor: É quando vem a vontade de escrever como forma de expressar uma inquietude, uma fissura. O texto resultante pode até ficar bom para publicar (geralmente fica), mas isso é apenas um detalhe. O objetivo não é publicar, é me livrar de algo que não pode mais ficar “dentro”.

Nessas situações, gosto de citar Hemingway: “Escrever é fácil. É só sentar na máquina e abrir uma veia.”

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O doce prazer da leitura

Clotilde Tavares | 2 de agosto de 2009

Viciada em livro que sou, quando começo com esse assunto não consigo mais parar. Para mim, uma das melhores formas de passar o tempo é ler, e através da leitura e usando um lugar mais do que comum, “viajar nas asas da imaginação”.

Bienal do Livro da PB, em 2006.

Bienal do Livro da PB, em 2006.

Passando a vista no “Como e por que ler”, do crítico Harold Bloom, fiquei pensando como é bom um “livro sobre livros”, como é o caso deste. O bom deste tipo livro, pelo menos para mim, é que ele me remete a leituras que nunca mais eu tinha feito, como Jorge Luís Borges. Reli com extremo prazer “Tlön, Uqbar, Orbis Tertius”, recomendado por Bloom, e de quebra li outras coisas das quais gosto muito, como “Funes, o Memorioso” e “Aproximação a Almotásim”. Aí, acontece que dei por falta na estante dos meus exemplares de “O Aleph” e “História Universal da Infâmia”. Emprestados não foram, pois tomo nota de todos. Devem estar perdidos em outras estantes, quem sabe entre os livros de teatro ou de folclore.

Falando sobre o hábito da leitura, Bloom diz que crianças criadas em frente da TV e que passam a adolescência na frente do computador realmente não formam esse hábito, e chegam à Universidade completamente refratárias a esse estranho objeto chamado livro.

Crianças atenta á contação de histórias na Bienal da PB em 2006.

Crianças atentas à contação de histórias na Bienal da PB em 2006.

Eu que o diga, que quando ensinava na UFRN sempre passava a cada nova turma pelo mesmo tormento de explicar aos meus alunos que um curso universitário implica em leitura, sim; e que não podemos ler apenas um livro por semestre. Muitos achavam “absurda” a “exigência” de que eles lessem de três a quatro livros sobre os temas estudados.

Quem não lê não sabe o que está perdendo. A leitura nos livra da solidão, nos faz viajar sem gastar dinheiro e ajuda a gente a se entender melhor, e a compreender os outros.

Na entrevista que li do Harold Bloom, ele diz que “uma democracia depende de pessoas capazes de pensar por si próprias. E ninguém faz isso sem ler.”

Passo sem computador e sem Internet. Mas sem livros, não me atrevo sequer a pensar.

As fotos são minhas. A Bienal Nacional do Livro da Paraíba realizou-se em maio/junho de 2006, no Espaço Cultural. Atuei como curadora do evento.

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Biblioteca em casa

Clotilde Tavares | 1 de agosto de 2009

O pessoal mais velho – mais velho mesmo – diz que o maior inimigo das bibliotecas pessoais são as viúvas. O cara junta ao longo da vida, com engenho e arte, uma biblioteca de qualidade e, quando morre, a mulher, passado o sétimo dia, vende os livros aos sebos por qualquer quantia. Isso porque geralmente o homem junta os livros mas cabe a ela mantê-los organizados e limpos, sem poeira, além da extrema aporrinhação de disputar o espaço doméstico com a livralhada que, para algumas mulheres, obstrui qualquer projeto de decoração.

E é o pessoal “mais velho” quem diz isso porque hoje é até politicamente incorreto pensar que só os homens juntam bibliotecas, uma vez que as mulheres são seres pensantes, inteligentes, e que também gostam de ler. Na prática, porém, eu continuo vendo que a maioria das grandes bibliotecas particulares são reunidas por homens e que as mulheres/esposas/viúvas continuam se comportando como aquelas do parágrafo aí em cima.

Lembro da minha mãe que apesar de gostar de ler sempre reclamava da quantidade de livros que havia em casa, os livros do meu pai que depois foram acrescidos aos nossos. Meu pai era charadista, e tinha coleção de dicionários, pra você ter uma idéia. Ainda em vida, ele foi se desfazendo devagarinho de todos os livros, presenteando os amigos, os filhos, e quando faleceu não tinha mais quase nada.

No meu caso, além dos 1.800 que tenho no apartamento, tenho mais uns mil na casa da minha filha – a minha antiga casa, onde ela mora agora. Neste apartamento para onde vou ainda este mês, há uma sala enorme e mais um quarto, um banheiro e a cozinha americana. Ou seja: o núcleo da casa é a sala, onde vou colocar meus livros e viver no meio deles, como eu gosto, olhando suas queridas lombadas.

Atualmente, no apartamento de três quartos em que moro sozinha, meus livros estao confinados em um dos quartos, que denominei “escritório”, e onde pouco permaneço pois sou claustrófoba e prefiro ficar na sala, que é um pouco mais ampla e que se abre sobre a varanda de onde vejo o mundo. Os livros não cabem na sala, ou melhor, caberiam, mas aí eu ia ter que colocar o sofá e as poltronas em outro lugar…

Já estou chamando de “estúdio” a minha nova morada, de apenas cinco cômodos nos seus 80 m2, dos quais a sala ocupa a metade. Vai ser uma grande mudança em relação ao apartamento em que vivo atualmente, de 115m2 distribuído em 12 cômodos dos quais não uso a metade. Neste novo espaço, os livros serão a estrela principal do show.

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