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O banho

Clotilde Tavares | 3 de fevereiro de 2015

banhoidademedia

Nesses tempos de falta de água, talvez a coisa certa seja retomar um costume da Idade Média, quando o banho era um acontecimento anual. Uma grande tina com água quente era colocada no aposento principal – muitas vezes o único aposento do domicílio – e o dono da casa tinha o privilégio de se banhar primeiro. Depois, e nesta ordem, vinham os filhos homens, e outros homens como sobrinhos e cunhados, então as mulheres, as crianças e, finalmente, os bebês. Nessa fase a água já estava tão suja que era fácil algo ou alguém se perder dentro da tina. Daí a frase, “Não jogue fora o bebê junto com a água do banho.”

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idade media, nao jogue fora o bebê com a agua do banho, seca no sudeste
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Os 10 mais vendidos

Clotilde Tavares | 1 de fevereiro de 2015

maisvendidos

Encontrei nos meus guardados um velho recorte que mostrava a lista dos mais vendidos da Revista Veja. A data é 7 de dezembro de 1983, já se vão 31 anos. Na lista de ficção, Luís Fernando Veríssimo, Bukowski, Inácio de Loyola Brandão, Fernando Sabino. Em não-ficção, Celso Furtado, Henfil, Marcelo Rubens Paiva, Marguerite Yourcenar. A comparação com as listas de hoje, recheadas de romances açucarados para adolescentes e livros de auto-ajuda, é brutal. Tema bom para a gente refletir sobre os (des)caminhos do mercado editorial.

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lista dos mais vendidos, lista dos mais vendidos da Veja, Literatura, livros, mercado editorial
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Nunca houve uma mulher como Gilda

Clotilde Tavares | 10 de janeiro de 2015

https://www.youtube.com/watch?v=4rWpND28Jos

O mito, a personagem, o ator. James Dean, ou Caleb Trask? Rodolfo Valentino ou o Sheik? Wagner Moura ou o Capitão Nascimento? Marilyn Monroe, ou a loura do apartamento ao lado? Entre todos, aquela que fazia a terra tremer: Gilda. Nunca houve uma mulher como Gilda. Numa época em que era proibido pelos moralistas tirar a roupa nos filmes, Gilda anda pelo palco, meio desajeitada e cria o “bate-cabelo” mais imitado de todos os tempos. Levanta os braços, mostra nuca e axilas, tira lentamente a luva – só uma – e pronto: está nua, no palco e na imaginação da plateia. Gilda, mulher/mito criada há quase setenta anos pelo diretor Charles Vidor e encarnado por Rita Hayworth, ainda alimenta fantasias. Nestes anos em que vemos divas milimetricamente trabalhadas oito horas por dia nos aparelhos das academias e que se exibem em closes uterinos, Gilda flutua em cetim negro, toda nua/vestida e assumindo: “Put the blame on Mame, boy!”

 

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Um tipo de leitura

Clotilde Tavares | 1 de janeiro de 2015

A leitura melhor de todas é aquela que suscita pensamentos. Leio dez livros desses escritores modernos, que estão por aí ganhando prêmio e nada vem à minha cabeça. Mas imagine, por exemplo, o Grande Sertão, de Guimarães Rosa. Nem bem leio uma página que me levanto dali, acesa, inquieta, a cabeça variando de tanto insight que me chega. Aí caminho pela casa, lavo coisas na pia, mudo objetos de lugar, porque o pensamento em mim exige algo para as mãos, uma tarefa mecânica. E penso em todos os livros que quero escrever, e textos, e peças, e memórias, sabendo que não vou poder, que não vou ter tempo, porque para escrever qualquer coisa eu preciso pensar muito, dez, vinte vezes mais. Enquanto a espuma carrega a gordura da louça e depois é carregada pela água, os pensamentos escorrem um atrás do outro e eu preciso de espaço, caminho pelo apartamento, vou à varanda e espalho minha vista sobre a cidade, e parece que ouço tudo que se passa em cada canto dela…

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escrever, escritor, Grande Sertão, Guimarães Rosa, vida de escritor
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O PAVÃO MISTERIOSO: quem é o autor do romance?

Clotilde Tavares | 30 de julho de 2014

Por conta dessa minha paixão pelo folheto de cordel “O Pavão Misterioso”, sempre tem gente me perguntando isso ou aquilo sobre essa obra. E é uma peça literária tão rica e variada que qualquer dia desse reúno tudo que já escrevi ou pensei a respeito do “Pavão…” e escrevo um livro somente sobre ele.

Um dos aspectos sobre o qual mais me perguntam é a questão da autoria. Uns dizem que o autor do folheto é João Melquíades Ferreira, enquanto outros sustentam que a autoria pertence a José Camelo de Melo Rezende.

No excelente livro “Memória das Vozes: cantoria, romanceiro & cordel” (Salvador, Fundação Cultural do Estado da Bahia, 2006), na página 68 e seguintes, Idelette Muzart-Fonseca dos Santos nos conta a história dessa controvérsia.

Ela relata que nos anos 1920, José Camelo era cantador de viola pelo interior da Paraíba mas, não sendo bom improvisador, preferia compor romances em versos e cantá-los. Foi assim que compôs a história do Pavão, que cantava por onde ia, em dupla com seu parceiro Romano Elias. Em 1927 Camelo se envolveu com um crime, e teve que passar um tempo no Rio Grande do Norte. Enquanto ele estava sumido, saiu uma edição do folheto tendo como autor o poeta João Melquíades Ferreira.

Quando José Camelo voltou à Paraíba, publicou o romance por sua conta, incluindo no início uma nota acusatória a João Melquíades que aqui transcrevo.

Quem quiser ficar ciente

da história do pavão

leia agora este romance

com calma e muita atenção

que verá que essa história

é minha e de outro não.

 

Há muitos anos versei

essa história e muitos dias

fiz uso dela sozinho

em diversas cantorias

depois dei a cópia dela

ao cantor Romano Elias.

 

O cantor Romano Elias

mostrou-a a um camarada

– a João Melquíade Ferreira

e este fez-me a cilada

de publicá-la porém

está toda adulterada.

 

E como muitas pessoas

enganadas tem comprado

a diversos vendelhões

o romance plagiado

resolvi leva-lo ao prelo

para causar mais agrado.

 

Portanto eu vou começar

a história verdadeira

na estrofe imediata

e no fim ninguém não queira

dizer que ela é produção

de João Melquíade Ferreira.

E aí José Camelo segue com as estrofes do romance, que tem pouquíssimas diferenças daquelas publicadas por Melquíades. Infelizmente, apesar dos cantadores e poetas da época confirmarem a história de José Camelo, a retificação não surtiu muito efeito e, em várias obras que foram escritas depois sobre a literatura de cordel, o folheto é referido como sendo da autoria ora de Melquíades ora de José Camelo, como na “Antologia da Literatura de Cordel”, de Sebastião Nunes Batista, onde ele credita o folheto a ambos os poetas. Descendentes de Melquíades, com razão, ficam abespinhados quando, em algum artigo ou texto, se atribui a autoria a José Camelo.

Para mim, baseada em tudo que li e ouvi, aceito que “O Pavão Misterioso” é da autoria de José Camelo de Melo Rezende. Estou convencida tendo como base a argumentação de Idelette Muzart, que considero uma pesquisadora séria e competente. Além disso, desde jovem, sempre soube – não me perguntem como – que o Pavão era da autoria de José Camelo, vindo tomar conhecimento da controvérsia Camelo/Melquíades já adulta, quando comecei a ler, estudar e pesquisar o tema.

“O Pavão Misterioso” é uma história de eterno encantamento para os meus ouvidos. A literatura de cordel, apesar de escrita, é feita para ser lida em voz alta, e as estrofes dessa obra imortal continuam ecoando na minha mente, na voz de Mamãe, que lia para a gente ouvir sentada no batente da porta, nas noites da minha infância em Campina Grande.


Achei aqui a imagem que orna este post. Não consegui descobrir quem é o “Ari” da assinatura. Penso que é Arievaldo Viana, mas não tenho certeza. Se alguém souber, quem sabe o próprio “Ari”, é só entrar em contato que dou o crédito. Aliás, achei essa imagem tão bonita que imprimi e colei na capa de um dos meus cadernos. 

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autoria no cordel, cordel, folheto de cordel, José Camelo de Melo Rezende, O Pavão Misterioso, poesia popular, Romance do Pavão Misterioso, romanceiro, romanceiro nordestino
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Dez moedas de ouro

Clotilde Tavares | 28 de julho de 2014

moedas

Essa é uma história acontecida há muito tempo, nas eras medievais. Dizem que um jovem apaixonou-se perdidamente pela bela mulher de um comerciante com o qual ele negociava. A mulher era tão linda que parecia uma santa, e o rapaz ficou encantado com aquele rosto alvo e puro, com aqueles olhos azuis e com a boca delicada, rósea como um botão recém-colhido. O corpo era esguio, flexível e quando ela andava parecia deslizar, flutuando sobre o solo.

Romântico, o jovem compôs logo alguns metros de pura poesia lírica e mandou entregá-las à jovem por um menino de recados, porque acreditava-a virtuosa mas não inacessível, e tinha fé que ela, mesmo casada, se rendesse ao seu amor. Mesmo que houvesse uma certa resistência durante algum tempo, ele confiava na sorte e estava pronto para uma longa e dedicada corte.

Qual não foi sua surpresa quando o menino voltou e lhe avisou que a mulher, assim sem mais nem menos, e sem sequer ler o poema que lhe tinha sido enviado tinha dito que sim, que aceitava, e que se deitaria com ele naquela mesma tarde por dez moedas de ouro!

Vendo o seu ideal cair por terra, e ainda surpreso pelo rumo que as coisas tinham tomado, o rapaz logo se recuperou e começou a pensar em um jeito de castigar a dama pelo caráter interesseiro e mercenário. Pensou, pensou, pensou, e teve uma ideia.

Foi à loja do marido – que era comerciante e conhecido dele, como o meu caro leitor deve estar lembrado – e pediu-lhe dez moedas de ouro emprestadas. De posse do dinheiro, e depois de se certificar que o marido estaria o dia inteiro fora, dirigiu-se até a casa da mulher onde se apresentou, entregou-lhe o dinheiro e observou quando ela guardava as moedas na gaveta de uma mesinha que havia na sala. Em seguida, dedicou-se por toda a tarde às artes amorosas, na cama, no tapete, na varanda, no jardim, e onde mais lhe deu vontade, gozando o ardor da dama, até que se deu por bem pago pelas dez moedas de ouro. Voltou para casa à tardinha, onde banhou-se, jantou e aguardou que a lua se erguesse sobre os telhados da cidade.

Aí, foi novamente à casa da mulher, sendo recebido dessa vez pelo marido, que já havia chegado da loja. Sentou-se, aceitou um copo de vinho e informou ao comerciante que não ia demorar:

– Só passei aqui hoje à noite – disse o jovem – para lhe avisar que não precisei do dinheiro, e como não quis ficar andando por aí com quantia tão elevada, achei melhor passar aqui e deixar com sua esposa. Ela guardou as moedas na gaveta daquela mesinha.

O marido se virou para a esposa que, sem jeito e sem poder negar, mesmo porque o dinheiro ainda estava onde ela havia guardado à tarde, disse-lhe que realmente assim havia sido, e que tinha se esquecido de avisar-lhe.

O moço então se retirou, não sem antes atirar um olhar de desprezo para a mulher gananciosa e baixa que o tinha enganado com sua aparência de santa de altar. Se ela tivesse traído por amor, provavelmente a desculparíamos. Mas como traiu por dinheiro, tanto eu como você, caro leitor, estamos agora mesmo dizendo a mesma palavra: bem feito!

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ambição, esperteza, fábula, história, traição
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Leio, logo existo.

Clotilde Tavares | 28 de maio de 2014

Passei a tarde de ontem espalhada no sofá, na companhia de “Como e por que ler”, do crítico Harold Bloom.

O bom deste livro, pelo menos para mim, é que ele me remeteu a leituras que nunca mais eu tinha feito, como Jorge Luís Borges. Reli com extremo prazer “Tlön, Uqbar, Orbis Tertius”, recomendado por Bloom, e de quebra li outras coisas das quais gosto muito, como “Funes, o Memorioso” e “Aproximação a Almotásim”. Também dei por falta na estante dos meus exemplares de “O Aleph” e “História Universal da Infâmia”. Emprestados não foram, pois tomo nota de todos. Devem estar perdidos em outras estantes, quem sabe entre os livros de teatro ou de folclore.

Falando sobre o hábito da leitura, Bloom diz que crianças criadas em frente da TV e que passam a adolescência na frente do computador realmente não formam esse hábito, e chegam à Universidade completamente refratárias a esse estranho objeto chamado livro.

Eu que o diga. Quando ensinava na UFRN, todo ano passava pelo mesmo tormento de explicar aos meus alunos que um curso universitário implica em leitura, sim; e que não podemos ler apenas um livro por semestre. Muitos achavam “absurda” a “exigência” que eu fazia para que eles lessem de três a quatro livros sobre os temas estudados.

Quem não tem hábito de ler, não sabe o que está perdendo. A leitura nos livra da solidão, nos faz viajar sem gastar dinheiro e ajuda a gente a se entender melhor, e a compreender os outros.

Numa entrevista de Bloom, lembro que ele dizia que “uma democracia depende de pessoas capazes de pensar por si próprias. E ninguém faz isso sem ler.”

Passo sem computador e sem Internet. Mas sem livros, não me atrevo sequer a pensar.

(A foto é da minha estante.)

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Borges, Como e por que ler, hábito de leitura, Harold Bloom, literatura. Jorge Luís Borges
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Fome

Clotilde Tavares | 27 de maio de 2014

 

Dormia sossegada debaixo de uma pedra. O sol me aquecia e eu estava tão profundamente mergulhada no sono que não percebi quando o escravo se aproximou e jogou sobre mim um cesto, onde fiquei presa. Cobriram-me com um pano e me levaram para longe. Fui ficando irritada, impaciente e com fome. Adormeci outra vez.

Quando acordei estava escuro ao meu redor, e pela trama do tecido que cobria o cesto não passava mais nenhuma luz. Devia ser noite. O cheiro de essências e de perfumes era forte. Pessoas cruzavam o aposento, que era grande, pois eu ouvia o eco de suas vozes nas paredes. Havia agitação e ansiedade no ar. Eu estava morta de fome, e comecei a me agitar, e a silvar. Minha língua estava seca.

De repente, tudo ficou calmo. Alguém pegou o cesto, tirou o pano de cima, e eu vi, pelas frestas da palha, a luz das tochas tremeluzindo nas colunas e iluminando as pinturas das altas paredes. Ah! Como eu gostava do lápis-lazúli, tão diferente do ocre monótono que sempre me cercava.

Uma mão fina de unhas negras e longas penetrou no cesto e me tomou com delicadeza, quase com carinho. A mulher bateu de leve as pestanas e me aninhou entre os seios. Senti o calor, o latejar da artéria e, inebriada com o almíscar daquela pele, cravei ali as presas e misturei minha saliva com o sangue doce da rainha.

 

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Joaninha

Clotilde Tavares | 23 de maio de 2014

joaninha

Joaninha sofre todo dia com o marido. Baixinho, magrinho, só tem nervo, tendão e osso. Come feito um bicho, doido por carne gorda, mas tanta gordura ninguém sabe o que o corpo faz dela, deve ser para alimentar a ruindade. O dia todo dentro de casa, na cizânia, na intriga, tecendo, reclamando, ciumando, desconfiando, aborrecendo Joaninha, mexendo nas coisas, abrindo as gavetas, destampando as panelas, botando defeito em tudo, uma praga. De noite, na hora da cama, quer sempre, quer toda noite e demora fazendo. Joaninha, nada. Os filhos dizem: “Mãe, ninguém sabe como você aguenta o pai.” E é porque eles nem sabem da cama.

Um dia ele vai dormir e acorda morto. Vem o padre, olha, benze, deve ter sido derrame, está morto mesmo, foi derrame, diz o padre. Naquelas lonjuras, sem médico sem nada, é o padre quem atesta. E fazem o enterro. Aí, Joaninha vive sossegada e feliz. Até casa de novo, com um bem mais novo do que ela – e gordo.

Trinta anos depois, Joaninha morre. Os filhos vão abrir o túmulo para enterrar a mãe e encontram os ossos do pai, já limpinhos.  No crânio sem olhos, há uma saliência no alto da cabeça. O filho mais novo, curioso, passa o dedo, enfia a unha entre aquela coisa e o crânio, e puxa, devagar, o prego caibral de doze centímetros, batido por mão segura e determinada, há 30 anos.

______________

(A imagem que ilustra este texto é um quadro do pintor peruano Albert Lynch (1851–1912).

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A batalha da Cultura

Clotilde Tavares | 16 de setembro de 2013
Solar da Madalena, um pedaço da história de Macaíba.

Solar da Madalena, um pedaço da história de Macaíba.

Na semana passada fui fazer palestra na Academia Macaibense de Letras, sobre um livro do escritor Octacílio Alecrim, o livro “Província Submersa” sobre o qual já falei aqui.

Para quem não conhece, Macaíba é uma cidade bem próxima a Natal, onde a gente chega de carro em trinta minutos. No final do século XIX e início do século XX foi o berço da nobreza açucareira do Rio Grande do Norte, junto com a cidade de Ceará Mirim, ambas no entorno da Capital. Depois, com a mudança do foco da economia, essas cidades perderam a sua hegemonia – sim, porque enquanto a cana-de-açúcar dominava a economia ambas as cidades eram mais importantes do que Natal.

Essa Academia pode a muitos parecer coisa de gente metida a besta. “Onde já se viu? Macaíba com Academia de Letras?”, é a frase que já ouvi algumas vezes. Na verdade, uma instituição como essa  – em qualquer lugar, em qualquer cidade – serve para preservar a memória, reunir gente interessada em letras e história, elevar a auto-estima da cidade, estimular os jovens à leitura, e um monte de outras coisas que eu poderia relacionar aqui e que, por extensa que fosse a lista, você provavelmente acrescentaria ainda mais alguns itens.

Então eu louvo essa iniciativa, e louvo mais ainda a paciência e o desprendimento dessas pessoas cujo esforço é pouco ou nada reconhecido.

O pior de tudo é que há instâncias – pessoas e instituições – que, além de não ajudarem, trabalham contra, como se pode ver nos dois exemplos abaixo, que refletem a falência da gestão pública na área da educação e da cultura.

1 – A palestra estava marcada para as 15 horas. Chegamos cerca de 14h15 e encontramos o local – Pax Clube – fechado. Depois de esperarmos em pé, em frente, durante uns vinte minutos, fomos (o presidente da Academia, juiz Cícero Martins de Macedo Filho, o acadêmico e historiador Anderson Tavares de Lyra e esta que vos tecla) à Secretaria Municipal que administra o prédio. Lá nos informaram que “o rapaz” que tinha a chave já tinha ido abrir o local. Voltamos, e nada. O camarada só chegou às 15h15. A essa altura já éramos vinte pessoas mais ou menos esperando de pé, ao ar livre, e escutei depois “o rapaz” dizer a um conhecido que, ao sair para abrir o local havia parado em casa para almoçar e depois havia esquecido!

2 – Uma das professoras presentes à palestra não foi liberada de boa vontade pela diretora da escola para comparecer. Segundo a diretora, somente professores de Português teriam direito a serem liberados para um evento na Academia de Letras, e a professora em questão era de História.

Então minha gente, haja força e energia para lutar a Batalha da Cultura, como dizia o grande Vingt-Un Rosado. Eu formo nessas fileiras, e quem sabe um dia a gente ganha a guerra?

———–

Mais sobre a Academia Macaibense de Letras aqui e aqui.

Blog de Anderson Tavares de Lyra.

Mais sobre essa entidade que atende por nome de “o rapaz”, e que tem como companheiras “a moça” e “o sistema”.

E finalmente, eu estou procurando um jeito de disponibilizar a íntegra da palestra aqui neste post. 

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