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Encerrando um ciclo

Clotilde Tavares | 19 de janeiro de 2010

Se você é meu leitor constante, deve ter notado que ando sumida deste blog. Não sei o que se passa comigo ultimamente que ando num daqueles bloqueios que é o terror de toda pessoa que vive do que cria: na literatura, no teatro, na música. Uma dificuldade de escrever, uma inquietude, uma coisa estranha, um estresse que não me deixa ficar parada num canto e juntar duas idéias uma na outra e mais uma terceira e assim dar seguimento a um escrito qualquer.

Fazer o que? Penso que todo mundo tem essas fases, e como eu não tenho nenhum produtor no meu pé me apressando por texto – o que aconteceria se eu estivesse escrevendo a novela das oito, por exemplo – tenho mais é que não forçar muito a Natureza e esperar que você, meu pacientíssimo leitor, compreenda e releve.

Teve também essa história toda do Haiti, que me deixou triste e abalada, como há muito não me sentia frente a uma catástrofe como essa. Vejo os noticiários, fico arrasada, perco a graça e a alegria. Vejo as aberrações que são ditas por políticos e pessoas sem noção e fico irada. Nesse tumulto de emoções, minha capacidade de escrever escorre pelo ralo.

Clicando aqui, você vai ler, se tiver paciência, um belo texto de uma mulher haitiana, escrito antes do terremoto. Ela diz:

Minha avó acreditava que se uma vida é perdida, outra vida brota em algum outro lugar, sendo essa nova vida ainda mais forte que a outra. Ela acreditava que uma pessoa não morre, realmente, desde que alguém se lembre dela, alguém que reconheça que esta pessoa, apesar de tudo, estava aqui. Nós somos parte de um círculo sem fim, somo as filhas de Anacaona. Nós envergamos, mas não quebramos. Não somos atraentes, mas ainda assim resistimos. De vez em quando devemos gritar isso o mais distante que o vento puder levar nossas vozes. Nou lèd, nou la! Somos feias, mas estamos aqui.

A gente vê que esse terremoto já vem acontecendo há muito tempo. O tremor que botou os prédios no chão foi apenas a cereja do bolo. A sensação que eu tenho é como se o Haiti precisasse ser “reformatado” para seu povo poder conseguir se reerguer de uma forma mais humana, mesmo ao sangrento custo de tantas vidas perdidas. Como se o Universo tivesse resolvido “passar a régua” para começar tudo de novo.

E fica a minha pergunta: quandos lugares mais nesse planeta não estão precisando de uma boa passada de régua? É isso.

Amanhã tentarei voltar com a diversão e a irresponsabilidade de sempre.

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O Haiti no meu coração

Clotilde Tavares | 15 de janeiro de 2010

Não consigo tirar da minha cabeça o que está acontecendo no Haiti. Ontem à noite, depois que vi os noticiários na TV, meu coração ficou pesado, meus olhos túmidos e a garganta grossa: como ter apetite para encarar o jantarzinho caseiro que estava pronto quando as imagens da TV me mostravam o indescritível: crianças famintas e feridas vagando pelas ruas, mortos abandonados à putrefação na margem das avenidas, pessoas disputando um copo de água na tapa, e o sofrimento, a miséria, a sensação de perda, de desenraizamento, de completa e total incapacidade de superar o caos ao redor.

O problema atual do Haiti é puramente de logística: como organizar o socorro, a alimentação, a segurança, a volta do fornecimento de serviços básicos, se toda a estrutura que havia foi arrasada? E ainda é preciso aturar insanos como um pastor evangélico norte-americano, Pat Robertson, que diz que o que aconteceu ali foi porque o país fez um pacto com o Diabo!

Ou então o cônsul do Haiti no Brasil, George Samuel Antoine que, sem saber que estava sendo gravado, afirmou ao que a tragédia causada pelo terremoto que atingiu o Haiti está sendo boa, pois traz visibilidade ao consulado.

Braulio Tavares, na sua coluna de hoje no Jornal da Paraíba, fala sobre o lento terremoto de exploração e desmandos que afeta o Haiti há 200 anos; e muito outros profissionais- cientistas, filósfos, analistas políticos e econômicos, jornalistas – muitos outros discutem e buscam explicações.

Eu não. Eu simplesmente fico triste, choro, perco o apetite. Daqui, do meu canto, nada posso fazer. Já sou muito velha para pegar um avião e ir até lá ajudar. Não me sinto disposta fisicamente para tanto. E tenho medo, minha gente. Sou medrosa. Tenho medo de morrer longe de casa. Sou humana, sou frouxa, sou covarde. Sinto tudo isso quando vejo o medo, a tristeza e o sofrimento que pulsa no coração de parte da Humanidade, Humanidade essa que também é a minha Humanidade.

Nós somos um, e um de nós – um não, muitos – sofrem e sentem fome e medo.

Eu sinto também.

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Os sonhos da Onça-Parda

Clotilde Tavares | 14 de janeiro de 2010

Ainda estou horrorizada com as notícias do terremoto que aconteceu no Haiti. Um país já tão pobre, um povo já tão sofrido, e agora mais essa. As centenas de milhares de vidas perdidas são uma tragédia para a Humanidade, que soma a isso o sofrimento dos que ficaram e que terão agora que lidar com as perdas e a difícil reconstrução.

Quando houve o tsunami na Tailândia, escrevi o texto abaixo; hoje, repito-o aqui, por considerar adequado para a situação e porque eu mesma, ainda triste, não estou conseguindo comentar sobre a catástrofe.


Os sonhos da Onça-Parda (publicada na Tribuna do Norte-Natal/RN em dezembro de 2004)

No “Romance da Pedra do Reino” o escritor Ariano Suassuna, em um grande achado poético e metafórico, compara a Terra a “uma Fera estranha, uma Onça-Parda em cujo dorso habita a Raça piolhenta dos homens.”

A imagem me veio à mente depois dessa catástrofe que se abateu sobre a Ásia, em forma dos gigantescos “tsunamis” causados pelo terremoto de nove graus Richter ocorrido nas profundidades do Oceano Índico.

Tudo isso já foi visto e revisto pela televisão e os repórteres e comentaristas esgotaram o repertório de lugares comuns que se usa numa ocasião dessas. Mas uma coisa me chamou a atenção. Ao contrário dos desastres ecológicos causados pelo Homem, com sua ação predatória sobre o ambiente movido pelo lucro, pela cobiça e pela exploração, esse desastre foi uma fatalidade. Um acontecimento fortuito, devido ao Acaso e a fatores perfeitamente naturais.

A Onça-Parda, a Terra, até então sossegada e como que adormecida, contrai a musculatura do lombo, arrepia-se, treme, e por mais que a Raça piolhenta se agarre aos seus pelos é cuspida fora sem a menor contemplação, sem culpa, sem pena, sem pudor. É isso que somos: insetos microscópicos, aninhados no dorso desse gigantesco animal que, até dormindo, pode acabar conosco.

A Onça é democrática na sua coceira mortífera, atingindo desde o pescador na sua precária canoa até o iate principesco do milionário. Quando a onda vem, varre palhoças e hotéis de luxo com fúria igual. Para a Onça, somos todos ácaros desprezíveis, piolhos do nada, nenhum mais importante do que o outro. E depois de coçar-se, a Onça acomoda-se novamente para dormitar ao sol, não se sabendo quando vai remexer-se outra vez.

A Natureza deslumbrante daquela região banhada pelo Oceano Índico foi construída graças a essas convulsões violentas do planeta, rocha por rocha, laguna por laguna. A Beleza e o seu usufruto terminaram cobrando o seu preço em vidas e bens materiais.

A nós, insetos humanos, só resta contabilizar as perdas, ajudarmo-nos uns aos outros, reerguer dos escombros o que foi destruído e torcer para que a Onça-Parda tenha bons sonhos e não volte a estremecer tão cedo.

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As igrejas do interior – VI

Clotilde Tavares | 13 de janeiro de 2010

Há tempos que eu não postava aqui as fotos das igrejas das pequenas cidades do interior, uma das minhas paixões. Você pode mandar a foto da igreja da sua cidade; mas precisa mandar também o crédito da foto, ou seja, o nome do fotógrafo. E veja os posts anteriores clicando na coluna de tags da direita, sob o nome igrejas. Com esta postagem, já são 60 igrejas.

Galante-PB. Foto Egberto Araújo.

Galante-PB. Foto Egberto Araújo.

Capela da Vila de Montemor, Rio Tinto-PB. Foto Guy Joseph.

Taipu-RN. Foto de Sandro Fortunato

Mulungu-PB. Foto Fábio Mozart.

Mogeiro de Baixo-PB. Foto de Fábio Mozart.

Goianinha-RN. Foto Cinara Andrade.

Santa Luzia-PB. Foto Egberto Araújo.

Jardim do Seridó-RN. Foto Joaquim Junior.

Iguatu-CE. Foto Manoel Bomfim.

Nísia Floresta-RN. Foto Sandro Fortunato.

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A vida é sonho

Clotilde Tavares | 11 de janeiro de 2010

Na obra A Vida é Sonho, de Calderón de la Barca (1600-1681) o príncipe Segismundo vive desde a infância numa prisão escura, acorrentado, tendo sido ali colocado por seus pais em virtude de uma profecia que vaticinava que ele, chegando à idade adulta, traria grandes desgraças ao reino.

Muitos anos depois, o rei arrepende-se e começa a pensar se havia procedido corretamente aprisionando o filho daquele modo. Manda então narcotizá-lo, retirá-lo da prisão e, ao acordar daquele sono estranho Segismundo se vê no palácio real, bem vestido e cheio de jóias. Dizem-lhe que ele é príncipe, e que tudo aquilo que lhe havia acontecido antes teria sido apenas um sonho.

Uma vez investido no seu novo papel, Segismundo, de acordo com a profecia, começa a cometer os desatinos que haviam sido anunciados quando do seu nascimento. Sem conseguir suportar seus desmandos e loucuras, o rei faz a operação inversa: narcotiza-o, despe-o das roupas caras e das jóias e encerra-o novamente no escuro calabouço, preso a grossas correntes.

Ao acordar, Segismundo se lamenta, preso entre o sonho e a realidade, numa das mais belas páginas poéticas já escritas.

1

É certo; então reprimamos

esta fera condição,

esta fúria, esta ambição,

pois pode ser que sonhemos;

e o faremos, pois estamos

em mundo tão singular

que o viver é só sonhar

e a vida ao fim nos imponha

que o homem que vive, sonha

o que é, até despertar.

2

– Sonha o rei que é rei, e segue

com esse engano mandando,

resolvendo e governando.

E os aplausos que recebe,

Vazios, no vento escreve;

e em cinzas a sua sorte

a morte talha de um corte.

E há quem queira reinar

vendo que há de despertar

no negro sonho da morte?

3

– Sonha o rico sua riqueza

que trabalhos lhe oferece;

sonha o pobre que padece

sua miséria e pobreza;

sonha o que o triunfo preza,

sonha o que luta e pretende,

sonha o que agrava e ofende

e no mundo, em conclusão,

todos sonham o que são,

no entanto ninguém entende.

4

– Eu sonho que estou aqui

de correntes carregado

e sonhei que em outro estado

mais lisonjeiro me vi.

Que é a vida? Um frenesi.

Que é a vida? Uma ilusão,

uma sombra, uma ficção;

o maior bem é tristonho,

porque toda a vida é sonho

e os sonhos, sonhos são.

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As 10 coisas que mais gostei na viagem de navio

Clotilde Tavares | 9 de janeiro de 2010

Se você está chegando a esse blog hoje pela primeira vez, clique aqui para ver que viagem foi essa.

1 – A comida

Fiquei feliz de desfrutar de uma gastronomia elaborada como a que era servida no restaurante à la carte, com refeições de seis pratos. Não aumentei nem meio quilo porque esse tipo de comida, com suas pequenas porções, realmente engorda menos do que se você se servir no self-service onde sempre, sempre, os olhos são maiores do que a fome.

2 – Ver a esteira de espuma que o navio deixa na água

Eu ficava horas na amurada, ou na popa, vendo o caminho que a grande embarcação deixava nas águas e a rapidez com que ele se desfazia. Um momento ímpar para refletir sobre a rapidez com que as coisas passam…

3 – Tomar café da manhã na cabine

Odeio ver a humanidade antes de ingerir pelo menos meio litro de café e tomar um banho. O café na cabine, servido gratuitamente, na hora marcada por mim na véspera, com croissants deliciosos e outras gostosuras, foi realmente um luxo.

O clube.

4 – A pontualidade

Se anunciarem um show às 21h15, começa às 21h15; se disserem que a piscina está aberta às 8h55, abrem às 8h55. Vivendo e me irritando sempre num mundo impontual como o nosso, eu desfrutei de uma semana maravilhosa, podendo me programar, sem perder meu tempo esperando que as coisas começassem.

5 – A possibilidade de fazer amizade

Você vai caminhando pelo deck, senta numa daquelas poltronas com um livro. Ao seu lado, na poltrona próxima, senta alguém: homem, mulher, adolescente, não importa. Aí você sorri e diz: “Oi, eu sou Clotilde, e moro em Natal, e você, de onde é?” É o suficiente para conhecer gente e fazer boas amizades. Num cruzeiro, as pessoas estão mais abertas a isso e eu adoro conhecer gente nova.

Lojas "DutyFree"

6 – Praticar meu inglês terrível com o inglês mais terrível ainda de stewards e garçons

Foi divertido conversar em inglês com gente da Malásia, Indonésia, Coréia e Madagascar. Conversar é o modo de dizer, porque na maior parte das vezes um não entendia direito o outro. Mas como eu via que o inglês deles era tão ruim quanto o meu, a auto-censura diminuía e eu conseguia conversar razoavelmente bem com aquelas criaturas.

7 – Ir ao clube sozinha

Sentar, ficar horas ouvindo a banda tocando música romântica dos anos 1960, tomando refrigerante light… Você não precisa de companhia para freqüentar nada, uma coisa que nem sempre é bem aceita em terra firme. Pelo menos aqui em Natal eu não me atrevo a entrar num bar da moda e concorrido sozinha, para ocupar uma mesa, ver o show, comer, passar o tempo. Já tentei fazer isso, mas quando era mais nova os garçons me constrangiam me tomando por prostituta; agora, na terceira-idade, possivelmente vão pensar que eu sou doida.

Cardápio

8 – Provar a mim mesma que posso passar sete dias completos sem Internet

Sem e-mails, sem twitter, sem MSN, sem blog. E sem ler as milhares de coisas que leio todo dia na rede: jornais, revistas, blogs. Passei muito bem sem tudo isso. No segundo-dia de viagem, eunem me lembrava que existia Internet.

9 – Comprar a preço maravilhoso

Uma das boas coisas do navio são as lojas Duty Free, onde você compra em dólar, sem pagar imposto. O perfume que uso, que custa R$ 270,00, foi comprado a 68 dólares.

10 – O balanço suave da embarcação

Já disse aqui e repito: parecia que  eu era menina de novo, embalada na rede da infância por mãos maternas. Mas eram as ondas do Atlântico, ou os suspiros de Iemanjá, a Rainha do Mar, embalando meu sono por sete deliciosas noites. Tenho saudades.

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Meu casaco de general

Clotilde Tavares | 8 de janeiro de 2010

Neo-hippie, em 1970.

“… Com minhas calças vermelhas, meu casaco de general, cheio de anéis…” Quem não é muito jovem sabe o que é isso: um trecho da letra de um belíssimo blues de Jards Macalé, popularizado na voz de Gal Costa e repetido à exaustão, de todas as formas possíveis, por todos os freaks que habitaram os anos 70 e 80.

Eu fui uma dessas pessoas. Com algum domínio do violão, afinação e atitude para interpretar, fazia shows gratuitos para delírio da galera principalmente na saudosa Bodega da Praça, em Ponta Negra, na cidade de Natal, onde eu moro desde os anos 1970, com dois intervalos: Recife (1978-1979) e João Pessoa (2005-2009).

O “casaco-de-general” sempre me pareceu uma roupa ritual, algo que se veste para ir à guerra, para ir à luta. Aquela peça de roupa que você tem ali pendurada nas ocasiões em que a empresa é perigosa, você não sabe quando volta, a noite é fria e, por causa da solidão, as possibilidades são imensas.

Beatles, 1967.

Eu tive dois desses casacos-de-general. O primeiro, um paletó de veludo cotelê verde-escuro, com bolsos laterais onde eu enfiava as mãos e um bolsinho interno onde ia o dinheiro e a chave. Nas noites de Campina Grande, no final da década de 1960, ele me aquecia e me protegia, qual cota de malha, das batalhas que começavam a aparecer no horizonte dos meus vinte verdes anos. Hoje repousa velhinho, velhinho, no fundo do baú das roupas que tenho pena de jogar fora. Obviamente não me cabe mais.

Marcos Sá, Rio, 1972.

O outro foi feito a partir de uma camisa da aeronáutica que ganhei de presente no início dos anos 1970, quando fui morar em Natal. Feita de grosso zuarte azul escuro, eu a cortei na altura da cintura, ajustei e transformei numa jaqueta. Preguei umas tachas de metal, bordei umas flores e pronto: virou uniforme. Para onde eu ia, a emblemática peça ia comigo, mostrando quem eu era: freak, neo-hippie, fora-de-moda, outsider. Um dia, no fragor de uma das muitas batalhas noturnas, deixei-a a contragosto no no terreno do inimigo e nunca mais voltei para buscá-la.

Hoje você olha para mim e vê uma senhora muito arrumada, da terceira idade, bem vestida e maquiada. O que você não imagina é que, por dentro, vestindo a minha alma, ainda se encontra meu casaco-de-general, com o qual eu vou seguindo, por todas as ruas, e vou tomar aquele velho navio…

(Marcos Sá é meu amigo, que me emprestou essa foto para ilustrar o post, tipicamente dentro da estética dos anos ’70: o casaco-de-general sobre o macacão Lee, o cabelo black-power  e os óculos Ray-Ban modelo aviador.)

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"Triste do país que precisa de heróis"

Clotilde Tavares | 7 de janeiro de 2010

Vejo na TV que um menino encontrou uma bolsa, cheia de objetos de valor: relógio, MP3, jóias – e em vez de ficar com tudo devolveu ao dono. O garoto foi recompensado, virou matéria de TV, foi homenageado pelo prefeito da cidadezinha – que ficou muito bem na fita ao lado do garoto – e serviu de mote para as famosas exortações hipócritas nas quais a TV se esmera tanto: “Vejam que coisa linda! Um menino honesto! Filho de agricultores! Pobre de Jó! E devolveu a bolsa! Que coisa mais linda, e exemplar!” Tenho certeza de que domingo ele vai estar no Faustão, como exemplo de “história de vida”.

Minha gente! Ser honesto é obrigação. Ninguém deveria receber prêmio especial nem virar matéria em jornal nacional por achar e devolver um objeto que não lhe pertence. Ninguém deveria ser considerado herói por ser honesto. Talvez por enfrentar as chamas de um incêndio para salvar alguém desconhecido – porque se for filho ou parente é o que se espera, não? Ou por se atirar à água da enchente para resgatar pessoa que vai na enxurrada.

Eu não suporto a boa ação escancarada, para todo mundo ver. Não estou dizendo que o menino fez isso, mas aqueles que capitalizaram o gesto dele assim o fizeram. Para mim, a boa ação real é aquela que fazemos em silêncio, em segredo, onde muitas vezes nem o próprio beneficiado sabe. Mas essa boa ação oculta e secreta não satisfaz a vaidade daqueles que só vêem sentido em ser “bom” se puderem ostentar isso para os outros. E considero o escoteiro fardado atravessando a rua com a velhinha é a imagem perfeita e acabada da hiprocrisia, do “está-vendo-como-sou-bom-correto-honesto?”

É muito triste viver num país como esse, onde se rouba tanto e de tal forma escancarada que um gesto de honestidade é alçado ao nível de “grande gesto nacional”. “Triste de um país que precisa de heróis”, já dizia Brecht em uma das últimas falas da peça “Galileu Galilei”. E eu completo: triste de um país onde um gesto que deveria ser um comportamento natural de honestidade é alçado a gesto de heroísmo.

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O quarto Rei Mago

Clotilde Tavares | 6 de janeiro de 2010

Hoje é dia dos Santos Reis e a minha cidade Natal comemora em festa esses simpáticos personagens que embora não sejam santos da Igreja Católica recebem do povo desta terra a devoção e o respeito. Pensando nisso é que resolvi contar aqui a você uma história, já contada pelo escritor americano Henry Van Dyke (1852-1933) que, numa bela alegoria, fala sobre a existência de um quarto Rei Mago e o seu encontro com a divindade.

Chamava-se Artaban este sábio do Oriente que, juntamente com seus colegas Melchior, Gaspar e Baltazar resolveram ir a Belém reverenciar o menino que, diziam as profecias, seria mais tarde Rei dos judeus. Vendeu ele todos os seus bens e converteu-os em três pedras de incalculável valor com as quais pretendia presentear o menino: uma safira, um rubi e uma pérola. E partiu para encontar os três outros magos em um lugar previamente combinado. Mas Artaban não conseguiu chegar ao encontro pois demorou-se no caminho socorrendo um pobre homem, doente e morto de fome e sede, que pediu a sua ajuda.

Depois de curado, o homem lhe revelou que o Messias já havia nasido em Belém. Sem dinheiro, perdido da caravana na qual havia partido, Artaban teve que vender sua preciosa safira para conseguir atravessar o deserto. Ao chegar em Belém, encontrou muita miséria, fome, escravidão e doença. Vendeu então o rubi para comprar alimento e agasalho para os que tinham fome e frio, e salvou muitas crianças de serem degoladas pelos soldados de Herodes. Todas essas tarefas o distanciavam ainda mais do seu destino mas Artaban simplesmente não conseguia ficar indiferente aos que dele precisavam. E, sempre desviado do seu objetivo pelos apelos dos pobres e dos sofredores, foi vivendo ao longo dos anos, sempre procurando chegar até Cristo, sem, no entanto, conseguir.

Passados mais de trinta anos, ouviu dizer que estavam levando o filho de Deus ao Gólgota para crucificá-lo. Artaban ainda guardava seu mais caro tesouro: a pérola, e resolveu usá-la para livrar o Messias da morte. Mas na subida do Calvário encontrou uma mulher desesperada que lhe pediu para salvar-lhe o filho da escravidão e Artaban usou a pérola para comprar a liberdade do rapaz. Quando chegou ao cume, era a hora mesmo em que Jesus estava morrendo. O céu tornou-se escuro, raios e trovões cortavam o espaço, a terra tremia e grandes pedras começaram a rolar por cima das pessoas. Uma delas atingiu Artaban, ferindo-o gravemente.

E ele falou: “Oh, meu senhor, tanto que te procurei e agora que te encontro estou cego pela dor e pelo sangue que me cobre a vista! Será que nunca vou conseguir finalmente ver a tua face?” E Cristo respondeu: “Mas tu já viste muitas vezes a minha face. Quando eu estava doente, e me curaste; quanto eu tive fome, e tu me alimentaste; quando a morte me ameaçava, e me defendeste; quando eu estava preso, e me libertaste. Tudo aquilo que fizeste aos outros, fizeste a mim, e quando aquelas pessoas voltaram para ti os seus olhos em agradecimento, era eu que te olhava; quando elas beijaram as tuas mãos, era eu que te beijava.”

Ouvindo então essas doces palavras, Artaban, o velho sábio, o quarto Rei Mago, finalmente sossegou o seu coração, e, compreendendo que havia chegado ao fim da sua busca, fech0u os olhos e morreu em paz.

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O mundo é colorido outra vez!

Clotilde Tavares | 5 de janeiro de 2010

Estou de volta. Finalmente hoje acordei sem aquela depressão natural que toda virose braba imprime no físico e que termina por se refletir no mental. Desde o dia 26 de dezembro que estou gripada, uma gripezinha, que começou leve, mas que no dia 30, dia em que desembarquei em Cabedelo de um cruzeiro que fiz pela costa nordestina, já chegava a me incomodar e foi o que me impediu de passar o reveillon com amigos em Tambaú, ao som do Buena Vista Social Clube.

Com tosse, espirrando, e o corpo que parecia ter sido passado num moedor de carne, me enfiei dentro de um táxi e vim direto pra Natal, ficar doente na minha cama e com minha filha me trazendo sopinha quente, chocolate, coca-zero e outros mimos.

Com esse tratamento, acrescido de antitérmicos, analgésicos e muito líquido, fui aos pouquinhos me recuperando e ontem o mundo começou a sair do estado preto-e-branco em que se encontrava, a adquirir algumas cores; os sons começaram a chegar mais suaves aos meus ouvidos e as idéias pareceram encontrar o trilho costumeiro e a forma correta de se expressarem.

Hoje, quase plenamente recuperada, estou de volta à blogosfera, troncha de saudade dos meus leitores e ainda sem saber direito com0 vou contar a vocês as novidades e os acontecimentos da minha primeira viagem de navio. Viagem é o modo de dizer, porque não fui para lugar algum: fiquei acima e abaixo pela costa nordestina, desfrutando da experiência de estar sobre as águas e já lhe adianto que não há coisa mais agradável do que dormir embalada pelas ondas. Parecia que eu era menina de novo, e que alguém me balançava a rede para que eu adormecesse…

Estou pensando em fazer um blog especial somente com essa experiência da viagem, porque esses cruzeiros estão cada vez mais acessíveis em termos de preço e muita gente como eu está querendo viajar e precisa de informações, que as companhias não dão direito e que eu mesma, bem-informada que sou, internauta experiente, tive dificuldades de obter.

Aguardo sugestões.

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