Sem água e sem luz
Clotilde Tavares | 16 de outubro de 2009Hoje o dia começou estranho por aqui, pois houve uma pane elétrica no bairro; a energia faltou às quatro da manhã e só veio chegar agora às onze. No prédio, antigo e precário, a bomba que eleva a água para a caixa não funcionou – pois faltava energia – e mais ou menos às nove da manhã acabou a água.
Eu acordei morta de calor – o ar condicionado sem funcionar – e, sem poder blogar, twittar, ler e-mails, tomar banho, cozinhar (sem água – fica difícil) e com preguiça de descer os quatro andares (sem elevador) para ir a um lugar qualquer onde o mundo funcionasse, fiquei simplesmente na varanda, curtindo a brisa da manhã e lendo. Não que eu não faça isso todo dia – faço, mas depois de cumprir as outras obrigações, todas elas ligadas a um fornecimento normal de água e energia elétrica.
Então é curioso como o mundo estaciona quando não existem esses dois serviços mais do que básicos. Quando a gente vê na televisão aquelas notícias de catástrofes e desastres naturais, onde as pessoas ficam sem água e sem luz a gente não tem idéia do que é isso. É difícil ficar sem as duas coisas ao mesmo tempo e eu fico cá comigo pensando o transtorno que deve ser isso não para mim, que não tenho obrigações de trabalho com horário fixo, vivo por minha conta e tenho saúde, mas o que deve ser ficar sem água e sem luz para a imensa massa de pessoas que precisam levantar na hora, fazer café, tomar banho, descer de elevador e tudo o mais? E quem tem crianças, ou gente doente em casa? Pois é, meu caro leitor. Por isso não reclamo, nem reclame de mim por só estar blogando a essa hora, uma vez que logo cedo, todo dia, estou aqui com esse pão-de-cada-dia em forma de texto para lhe oferecer.
Você, que acordou, tomou banho, ligou secador de cabelo ou barbeador elétrico, fez café na sua cafeteira, ligou microondas, viu seus e-mails, desceu de elevador e abriu o portão eletrônico com o controle, não reclame de mim: hoje você, sem sombra de dúvida, teve muito, muito mais do que eu.