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Encerrando um ciclo

Clotilde Tavares | 19 de janeiro de 2010

Se você é meu leitor constante, deve ter notado que ando sumida deste blog. Não sei o que se passa comigo ultimamente que ando num daqueles bloqueios que é o terror de toda pessoa que vive do que cria: na literatura, no teatro, na música. Uma dificuldade de escrever, uma inquietude, uma coisa estranha, um estresse que não me deixa ficar parada num canto e juntar duas idéias uma na outra e mais uma terceira e assim dar seguimento a um escrito qualquer.

Fazer o que? Penso que todo mundo tem essas fases, e como eu não tenho nenhum produtor no meu pé me apressando por texto – o que aconteceria se eu estivesse escrevendo a novela das oito, por exemplo – tenho mais é que não forçar muito a Natureza e esperar que você, meu pacientíssimo leitor, compreenda e releve.

Teve também essa história toda do Haiti, que me deixou triste e abalada, como há muito não me sentia frente a uma catástrofe como essa. Vejo os noticiários, fico arrasada, perco a graça e a alegria. Vejo as aberrações que são ditas por políticos e pessoas sem noção e fico irada. Nesse tumulto de emoções, minha capacidade de escrever escorre pelo ralo.

Clicando aqui, você vai ler, se tiver paciência, um belo texto de uma mulher haitiana, escrito antes do terremoto. Ela diz:

Minha avó acreditava que se uma vida é perdida, outra vida brota em algum outro lugar, sendo essa nova vida ainda mais forte que a outra. Ela acreditava que uma pessoa não morre, realmente, desde que alguém se lembre dela, alguém que reconheça que esta pessoa, apesar de tudo, estava aqui. Nós somos parte de um círculo sem fim, somo as filhas de Anacaona. Nós envergamos, mas não quebramos. Não somos atraentes, mas ainda assim resistimos. De vez em quando devemos gritar isso o mais distante que o vento puder levar nossas vozes. Nou lèd, nou la! Somos feias, mas estamos aqui.

A gente vê que esse terremoto já vem acontecendo há muito tempo. O tremor que botou os prédios no chão foi apenas a cereja do bolo. A sensação que eu tenho é como se o Haiti precisasse ser “reformatado” para seu povo poder conseguir se reerguer de uma forma mais humana, mesmo ao sangrento custo de tantas vidas perdidas. Como se o Universo tivesse resolvido “passar a régua” para começar tudo de novo.

E fica a minha pergunta: quandos lugares mais nesse planeta não estão precisando de uma boa passada de régua? É isso.

Amanhã tentarei voltar com a diversão e a irresponsabilidade de sempre.

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Os sonhos da Onça-Parda

Clotilde Tavares | 14 de janeiro de 2010

Ainda estou horrorizada com as notícias do terremoto que aconteceu no Haiti. Um país já tão pobre, um povo já tão sofrido, e agora mais essa. As centenas de milhares de vidas perdidas são uma tragédia para a Humanidade, que soma a isso o sofrimento dos que ficaram e que terão agora que lidar com as perdas e a difícil reconstrução.

Quando houve o tsunami na Tailândia, escrevi o texto abaixo; hoje, repito-o aqui, por considerar adequado para a situação e porque eu mesma, ainda triste, não estou conseguindo comentar sobre a catástrofe.


Os sonhos da Onça-Parda (publicada na Tribuna do Norte-Natal/RN em dezembro de 2004)

No “Romance da Pedra do Reino” o escritor Ariano Suassuna, em um grande achado poético e metafórico, compara a Terra a “uma Fera estranha, uma Onça-Parda em cujo dorso habita a Raça piolhenta dos homens.”

A imagem me veio à mente depois dessa catástrofe que se abateu sobre a Ásia, em forma dos gigantescos “tsunamis” causados pelo terremoto de nove graus Richter ocorrido nas profundidades do Oceano Índico.

Tudo isso já foi visto e revisto pela televisão e os repórteres e comentaristas esgotaram o repertório de lugares comuns que se usa numa ocasião dessas. Mas uma coisa me chamou a atenção. Ao contrário dos desastres ecológicos causados pelo Homem, com sua ação predatória sobre o ambiente movido pelo lucro, pela cobiça e pela exploração, esse desastre foi uma fatalidade. Um acontecimento fortuito, devido ao Acaso e a fatores perfeitamente naturais.

A Onça-Parda, a Terra, até então sossegada e como que adormecida, contrai a musculatura do lombo, arrepia-se, treme, e por mais que a Raça piolhenta se agarre aos seus pelos é cuspida fora sem a menor contemplação, sem culpa, sem pena, sem pudor. É isso que somos: insetos microscópicos, aninhados no dorso desse gigantesco animal que, até dormindo, pode acabar conosco.

A Onça é democrática na sua coceira mortífera, atingindo desde o pescador na sua precária canoa até o iate principesco do milionário. Quando a onda vem, varre palhoças e hotéis de luxo com fúria igual. Para a Onça, somos todos ácaros desprezíveis, piolhos do nada, nenhum mais importante do que o outro. E depois de coçar-se, a Onça acomoda-se novamente para dormitar ao sol, não se sabendo quando vai remexer-se outra vez.

A Natureza deslumbrante daquela região banhada pelo Oceano Índico foi construída graças a essas convulsões violentas do planeta, rocha por rocha, laguna por laguna. A Beleza e o seu usufruto terminaram cobrando o seu preço em vidas e bens materiais.

A nós, insetos humanos, só resta contabilizar as perdas, ajudarmo-nos uns aos outros, reerguer dos escombros o que foi destruído e torcer para que a Onça-Parda tenha bons sonhos e não volte a estremecer tão cedo.

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Tailândia, terremoto no haiti, tsunami
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As 10 coisas que mais gostei na viagem de navio

Clotilde Tavares | 9 de janeiro de 2010

Se você está chegando a esse blog hoje pela primeira vez, clique aqui para ver que viagem foi essa.

1 – A comida

Fiquei feliz de desfrutar de uma gastronomia elaborada como a que era servida no restaurante à la carte, com refeições de seis pratos. Não aumentei nem meio quilo porque esse tipo de comida, com suas pequenas porções, realmente engorda menos do que se você se servir no self-service onde sempre, sempre, os olhos são maiores do que a fome.

2 – Ver a esteira de espuma que o navio deixa na água

Eu ficava horas na amurada, ou na popa, vendo o caminho que a grande embarcação deixava nas águas e a rapidez com que ele se desfazia. Um momento ímpar para refletir sobre a rapidez com que as coisas passam…

3 – Tomar café da manhã na cabine

Odeio ver a humanidade antes de ingerir pelo menos meio litro de café e tomar um banho. O café na cabine, servido gratuitamente, na hora marcada por mim na véspera, com croissants deliciosos e outras gostosuras, foi realmente um luxo.

O clube.

4 – A pontualidade

Se anunciarem um show às 21h15, começa às 21h15; se disserem que a piscina está aberta às 8h55, abrem às 8h55. Vivendo e me irritando sempre num mundo impontual como o nosso, eu desfrutei de uma semana maravilhosa, podendo me programar, sem perder meu tempo esperando que as coisas começassem.

5 – A possibilidade de fazer amizade

Você vai caminhando pelo deck, senta numa daquelas poltronas com um livro. Ao seu lado, na poltrona próxima, senta alguém: homem, mulher, adolescente, não importa. Aí você sorri e diz: “Oi, eu sou Clotilde, e moro em Natal, e você, de onde é?” É o suficiente para conhecer gente e fazer boas amizades. Num cruzeiro, as pessoas estão mais abertas a isso e eu adoro conhecer gente nova.

Lojas "DutyFree"

6 – Praticar meu inglês terrível com o inglês mais terrível ainda de stewards e garçons

Foi divertido conversar em inglês com gente da Malásia, Indonésia, Coréia e Madagascar. Conversar é o modo de dizer, porque na maior parte das vezes um não entendia direito o outro. Mas como eu via que o inglês deles era tão ruim quanto o meu, a auto-censura diminuía e eu conseguia conversar razoavelmente bem com aquelas criaturas.

7 – Ir ao clube sozinha

Sentar, ficar horas ouvindo a banda tocando música romântica dos anos 1960, tomando refrigerante light… Você não precisa de companhia para freqüentar nada, uma coisa que nem sempre é bem aceita em terra firme. Pelo menos aqui em Natal eu não me atrevo a entrar num bar da moda e concorrido sozinha, para ocupar uma mesa, ver o show, comer, passar o tempo. Já tentei fazer isso, mas quando era mais nova os garçons me constrangiam me tomando por prostituta; agora, na terceira-idade, possivelmente vão pensar que eu sou doida.

Cardápio

8 – Provar a mim mesma que posso passar sete dias completos sem Internet

Sem e-mails, sem twitter, sem MSN, sem blog. E sem ler as milhares de coisas que leio todo dia na rede: jornais, revistas, blogs. Passei muito bem sem tudo isso. No segundo-dia de viagem, eunem me lembrava que existia Internet.

9 – Comprar a preço maravilhoso

Uma das boas coisas do navio são as lojas Duty Free, onde você compra em dólar, sem pagar imposto. O perfume que uso, que custa R$ 270,00, foi comprado a 68 dólares.

10 – O balanço suave da embarcação

Já disse aqui e repito: parecia que  eu era menina de novo, embalada na rede da infância por mãos maternas. Mas eram as ondas do Atlântico, ou os suspiros de Iemanjá, a Rainha do Mar, embalando meu sono por sete deliciosas noites. Tenho saudades.

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cruzeiro, MSC Melody, navio, turismo, Viagem
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Meu casaco de general

Clotilde Tavares | 8 de janeiro de 2010

Neo-hippie, em 1970.

“… Com minhas calças vermelhas, meu casaco de general, cheio de anéis…” Quem não é muito jovem sabe o que é isso: um trecho da letra de um belíssimo blues de Jards Macalé, popularizado na voz de Gal Costa e repetido à exaustão, de todas as formas possíveis, por todos os freaks que habitaram os anos 70 e 80.

Eu fui uma dessas pessoas. Com algum domínio do violão, afinação e atitude para interpretar, fazia shows gratuitos para delírio da galera principalmente na saudosa Bodega da Praça, em Ponta Negra, na cidade de Natal, onde eu moro desde os anos 1970, com dois intervalos: Recife (1978-1979) e João Pessoa (2005-2009).

O “casaco-de-general” sempre me pareceu uma roupa ritual, algo que se veste para ir à guerra, para ir à luta. Aquela peça de roupa que você tem ali pendurada nas ocasiões em que a empresa é perigosa, você não sabe quando volta, a noite é fria e, por causa da solidão, as possibilidades são imensas.

Beatles, 1967.

Eu tive dois desses casacos-de-general. O primeiro, um paletó de veludo cotelê verde-escuro, com bolsos laterais onde eu enfiava as mãos e um bolsinho interno onde ia o dinheiro e a chave. Nas noites de Campina Grande, no final da década de 1960, ele me aquecia e me protegia, qual cota de malha, das batalhas que começavam a aparecer no horizonte dos meus vinte verdes anos. Hoje repousa velhinho, velhinho, no fundo do baú das roupas que tenho pena de jogar fora. Obviamente não me cabe mais.

Marcos Sá, Rio, 1972.

O outro foi feito a partir de uma camisa da aeronáutica que ganhei de presente no início dos anos 1970, quando fui morar em Natal. Feita de grosso zuarte azul escuro, eu a cortei na altura da cintura, ajustei e transformei numa jaqueta. Preguei umas tachas de metal, bordei umas flores e pronto: virou uniforme. Para onde eu ia, a emblemática peça ia comigo, mostrando quem eu era: freak, neo-hippie, fora-de-moda, outsider. Um dia, no fragor de uma das muitas batalhas noturnas, deixei-a a contragosto no no terreno do inimigo e nunca mais voltei para buscá-la.

Hoje você olha para mim e vê uma senhora muito arrumada, da terceira idade, bem vestida e maquiada. O que você não imagina é que, por dentro, vestindo a minha alma, ainda se encontra meu casaco-de-general, com o qual eu vou seguindo, por todas as ruas, e vou tomar aquele velho navio…

(Marcos Sá é meu amigo, que me emprestou essa foto para ilustrar o post, tipicamente dentro da estética dos anos ’70: o casaco-de-general sobre o macacão Lee, o cabelo black-power  e os óculos Ray-Ban modelo aviador.)

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anos 19709, anos 70, casaco de general, estética anos 70, estilo anos 70, Jards Macalé
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As urupembas de alumínio

Clotilde Tavares | 29 de dezembro de 2009

Foto de Canindé Soares - www.canindesoares.com

Uma das imagens que mais me impressiona quando viajo pelo interior é a visão das antenas parabólicas sobre os telhados das casas. Em alguns lugares, a imensa antena em forma de panela escora o casebre que parece se sustentar de pé apenas por obra da antena. Por pobres que sejam, a maioria tem parabólica. Numa pousada em que me hospedei um dia desses, a TV fica na sala, uma TV enorme, com uma imagem espetacular; sentado no sofá, um garotinho de calção e descalço, um indiozinho cariri, com o controle remoto na mão, dominando todas as estações, passeando pelos canais.

Aí está, penso eu, a síntese da nossa realidade. Imagens aparentemente contraditórias, inconciliáveis, mas que terminam resumindo as mudanças pelas quais o nosso país está atravessando, principalmente longe dos centros adianatados: o casebre e a parabólica, o indiozinho cariri e o controle remoto.

O dono da casa comentou comigo: “Antes dessa televisão, eu pensava que só tinha duas línguas no mundo: essa que a gente fala e o inglês. Agora eu sei que tem muitas línguas diferentes, língua que não acaba mais. Deve ser por isso que tem tanta guerra. Ninguém se entende…”

Em outra casa, vi uma mulher de 82 anos, professora aposentada, que mora com a irmã de 89 anos, já doente, de quem cuida. Sobre a velha e escalavrada mesa de madeira, que parece ter mais de um século, um espetacular aparelho desses grandes e modernos, em frente ao qual as duas se distraem. “E vêem que tipo de programa?” pergunto eu.  “De um tudo, minha filha”, diz a mais nova. ” Mas o que a gente gosta mesmo é de rezar”. Rezar junto com a TV, evidentemente, acompanhando os inúmeros programas religiosos que existem.

O professor e poeta Geraldo Bernardo, que vive em Sousa, sertão da Paraíba, escreveu um divertido texto no qual fala sobre a parabólica, que ele chama de “arupemba de alumínio”, onde o matuto descreve o que viu na TV: “A primeira imagem que apareceu era uma galega toda entroncada, fazendo muganga com a bunda, uns negão com os dentes no quarador, a meninada inventou de rebolar, chamando aquilo de pagode.” E continua, divertido e espantado: “E o cabra continuou mudando de imagem, era cada coisa diferente, tinha desenho de bicho fazendo papel de gente, cada lapa de mulher, Zé de Lídia chega babava…”

O matuto, então, questiona: “Agora pergunto pra que? Uma bacia de alumínio em cima da casa, encandeando os olhos dos outros? Não serve para soprar arroz, café ali não se torra, se pelo menos juntasse ága! Mas eu mesmo espondo qual a sua serventia, ou será que ninguém percebeu, que com esse progresso da ciência muito menino nasceu? Hoje em dia, mulher velha, parideira, sabe menos das coisas de que essas meninas, de tanto verem nas novelas amancebo, baitolagem e coisa e tal, em tudo que é canal. Enquanto isso, as parabólicas vão aumentando, as saias diminuindo e o sertão se enchendo de menino…”

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antena parabólica, Geraldo Bernardo, modernidade, sertão
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Natal: a festa da Fé

Clotilde Tavares | 24 de dezembro de 2009

Observo, com alguma surpresa, que o Natal já foi uma festa pagã, depois tornou-se cristã, e pelo visto está prestes a se tornar pagã novamente pela corrida desenfreada às lojas, pela substituição das igrejas pelos shopping-centers como lugares de celebração, e por ter se tornado para muita gente uma festa sem significado, sem reverência, sem milagre.

Há ainda um aspecto interessante. O Natal é antes de tudo uma festa de família, que desde o tempo do paganismo sempre foi comemorada em família, no interior do lar, em volta de uma ceia. Mas hoje em dia geralmente estamos cansados, estressados e cheios de obrigações de última hora. São as duras injunções da vida moderna, dita “civilizada”, que nos arrasta a esse torvelinho de compras de última hora, embalagens para presentes, confraternizações, amigos secretos e muita agitação no trânsito, aumentando o número de acidentes.

Não posso deixar de me lembrar dos natais da minha infância, quando não existia essa entidade chamada shopping-center em torno da qual se estrutura praticamente toda a nossa atividade natalina. Naquele tempo as coisas eram mais simples, menos sofisticadas. Quando criança, nunca me levaram para “ver Papai Noel no shopping” ou em qualquer outro lugar. Em Campina Grande, no início da década de 1950, coisas como essas eram distantes dos nossos festejos, e como Papai vez por outra estava desempregado, havia natais em que não adiantava colocar o sapatinho na janela do quintal porque o bom velhinho não vinha mesmo.

Mamãe, com sua sabedoria, contou a mim e a Bráulio que Papai Noel era o pai da gente mesmo, mas só quando havia dinheiro; e que se em um ano as coisas estavam ruins, era sinal de que no outro ano elas estariam melhores. Dessa maneira simples, nos ensinou a Esperança. E não sei como, dava um jeito de arranjar uns trocados e nos levava para “a festa”, que era como chamávamos o parque de diversões armado em toda a extensão da avenida Floriano Peixoto, a principal rua da cidade, com roda-gigante, carrossel e os pavilhões onde todos bebiam e comiam à vontade. Lá, dava algumas voltas conosco no carrossel e depois voltávamos para casa, ainda tontos e com os olhos cheios das luzes em redemoinho… Não havia ceia, nem presentes, mas estávamos felizes.

Hoje não é mais assim. As estatísticas mostram que na época de Natal há maior incidência de crises de depressão e de suicídios, principalmente entre pessoas idosas. Há uma condição já reconhecida na clínica chamada “Christmas blues” ou “depressão de Natal”. A pessoa sente-se triste, desamparada, desanimada, sem perspectiva. Os encontros de família contribuem para tornar mais intensos ainda esses sentimentos, e fica-se muitas vezes lembrando do que passou, mas não com aquela saudade boa e nostálgica, de quem “foi feliz sem saber”: ao contrário, a lembrança vem cheia de dor e solidão, de sentimento de perda irreparável, de profunda tristeza, de angústia extrema.

É por isso que tem gente que simplesmente “detesta o Natal”. Esta “depressão de Natal” tem alguns fatores desencadeantes: sentimentos de culpa por coisas mal resolvidas do passado, estresse e cansaço (isso acontece quando o freguês entra na maratona de compras-ceia-comemorações) e dificuldades com a família.

Como se defender da praga? Cuidar da cabeça, de preferência com ajuda profissional; minimizar as expectativas, não esperando de uma simples festa de Natal mais do que ela pode dar; procurar não se cansar muito fisicamente, comer e beber com moderação, pois afinal não estamos cobertos de neve para precisarmos nos empanturrar de calorias; ter tolerância e compreensão com a família reunida, e respeitar as esquisitices de cada um, não se envolvendo em disputas; não tomar resoluções drásticas e superiores às nossas capacidades; e, finalmente, permitir-se ficar triste e ter saudade, pois a tristeza e a nostalgia pelo que se foi são sentimentos naturais e devem ser experimentados, respeitados, aceitos e vivenciados.

Natal/2006.

Finalmente, lembrar novamente do Milagre. Sugiro a você, que está triste, que escolha o Natal deste ano como a festa da Fé, a festa do Milagre e a celebração da Esperança. Não importa o que aconteceu: se houver Fé na possibilidade do Milagre isso já é garantia de que o Milagre aconteça.

Feliz Natal.

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Christmas Blues, depressão de Natal, Natal
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As origens do Natal

Clotilde Tavares | 22 de dezembro de 2009

Nesta época do ano, proliferam nos jornais, nas revistas e na Internet artigos, crônicas e escritos diversos sobre o Natal. Entre nós, cristãos e ocidentais, comemora-se nesta época o nascimento de Jesus Cristo, o filho de Deus.

Na verdade, meu caro leitor, o Natal é uma antiga celebração pré-cristã, ligada ao mito da esperança e do renascimento. Os povos antigos, nos países do Norte da Europa, faziam essa celebração coincidindo o solstício de Inverno, data em que a noite é mais longa e o dia parece que não vai mais amanhecer. Mas o Sol surge, renovando nas pessoas a esperança de que, com o fim do Inverno, venha a Primavera e a Natureza volte a desabrochar em flores e frutos. Na verdade, após o Solstício, os dias vão se tornando cada vez mais longos até que chega o equinócio vernal, em 21 de março, onde dias e noites têm a mesma duração.

Para marcar com exatidão as datas dos Solstícios e Equinócios, os povos antigos, depois de décadas de observação, faziam marcos de pedra. Acompanhando a projeção das sombras, conseguiam determinar os eventos astronômicos relativos ao Sol. O mais famoso desses marcos é Stonehenge, na Inglaterra, erguido cerca de 3.100 a.C.

Nas culturas antigas, da época neolítica, as últimas provisões de inverno eram cuidadosamente reservadas para serem consumidas no dia 21 de dezembro, data do solstício. Neste dia, os grupos familiares se reuniam e compartilhavam alimentos de grande valor energético como frutas secas e sementes buscando uma energia extra para suportar os últimos dias de frieza. É daí que vem o uso que fazemos desses alimentos até hoje nessa época do ano, mesmo que entre nós não seja inverno e que o calor de dezembro não recomende a ingestão de pratos tão calóricos. Comemos nozes, castanhas, passas e frutas secas porque tribos primitivas, que viveram há cinco mil anos, assim o faziam.

Não é curioso, meu caro leitor? Muitas das coisas que fazemos hoje em dia são aquilo que os estudiosos do folclore e da tradição chamam de “sobrevivências”, práticas e comportamentos que estão profundamente arraigados no DNA da Humanidade. Quando você enfeita a árvore de Natal, faz isso porque os povos antigos enfeitavam os carvalhos, que eles consideravam sagrados e que estavam despidos de folhas no rigoroso inverno europeu. Enfeitavam estas árvores para atrair de volta o espírito da natureza, que se pensava que havia fugido.

Com o surgimento do Cristianismo e a sua expansão pelo mundo, principalmente a partir do ano 313 d.C, quando o imperador Constantino converteu-se e adotou a religião cristã em todo o Império Romano, resolveu-se então estabelecer uma data para comemorar o nascimento de Jesus Cristo, tendo sido escolhida o dia 25 de dezembro por situar-se praticamente na mesma data em que a população já festejava seus antiqüíssimos cultos ligados ao solstício de Inverno.

Outras festas cristãs – como a Páscoa, o São João, o Dia de Todos os Santos – também foram estabelecidas da mesma forma, sobrepondo-se às festas pagãs já existentes, imprimindo a elas novas características ligadas à religião que nascia mas permitindo que costumes e práticas, relativas à forma de comemoração, permanecessem da mesma forma. Daí a alimentação especial, a árvore, a troca de presentes e outros aspectos de origem pagã que perduram até hoje. Muitos autores informam que o primeiro Natal cristão foi comemorado em Roma no ano de 336 d.C.

Amanhã continuo essa conversa sobre o Natal, falando do que mais gosto: a comemoração do milagre.

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história do Natal, Natal, origens do Natal, solsticio de inverno
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Chinelos

Clotilde Tavares | 19 de dezembro de 2009

Estou me preparando para uma viagem, e depois de olhar para o meu velho e usado chinelinho, comprado na feirinha da Liberdade em São Paulo para combinar com um robe japonês há bem uns dois anos, vi que se havia usado pouco o robe usei muito o chinelo, que está em petição de miséria. Resolvi então comprar outro e, navegando na Internet em busca do modelo ideal encontrei uns chinelos tão engraçados que não resisti ao desejo de compartilhar com vocês.

Descartável, feito com EVA. Aqui.

Que tal um chinelinho como brinde de casamento? Aqui.

Pensei em fazer esse com carinhas de políticos recortadas das revistas. O passo a passo está aqui.

É estranho, mas criativo pra caramba. E “verde”, porque reaproveita garrafa pet. Aqui.

Você calça este chinelo com detetor de metais, vai dar um passeio na praia e encontra moedas, anéis e sei lá mais o que de metal se pode perder numa praia… Aqui.

Pão-de-chinelo ou chinelo-de-pão? Você escolhe. Aqui.

A-do-rei esses! Aqui.

Esses são os que estou usando desde o dia 6 de dezembro… Na butique do clube, aqui.

Finalmente, muita atenção quando for calçar seu chinelo de bichinho.

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A festa perpétua

Clotilde Tavares | 17 de dezembro de 2009

Hoje em dia, para onde a gente se vira tem festa. Só de carnaval fora de época há dezenas pelo Brasil afora, coordenados de tal jeito que a data de um não coincide com a do outro, para que toda a estrutura que põe esse moinho para funcionar, e que é a mesma – cantores, produtores, bandas, montadores de arquibancada, comerciantes – possam ir se mudando de um lugar para o outro. Além dos festejos de um Momo extemporâneo, tudo hoje é motivo para festa, e essa festa parece que só tem graça se contar com a participação de milhares de pessoas, contabilizadas no outro dia pelos jornais e tomadas como parâmetro para o sucesso do evento, ou melhor, mega-evento.

Toda festa hoje, qualquer que seja ela, aspira a ser “mega”. A cada semana repetem-se as comemorações onde é obrigatório o apelo às multidões, embaladas pela música amplificada a limites insuportáveis. É o aniversário do bar, o dia da padroeira, a confraternização da empresa tal, a caminhada contra a hipertensão, o passeio da terceira idade, a procissão da paz.

Mas qual é a função da festa? Nas sociedades arcaicas, a festa constituía um momento único de subversão da ordem, um espaço salutar onde se podia fazer tudo aquilo que normalmente não era permitido, atuando como válvula de escape das tensões sociais. As festas eram ritualizadas, obedecendo a procedimentos, a regras, a ações e a comportamentos repletos de significado e encerravam tanto o aspecto de serenidade cerimonial como tinham espaços próprios para a liberação da violência e do imaginário. Algumas comemorações atuais ainda conservam esses traços, como a Semana Santa, por exemplo, onde há todo o culto ao mito da Morte e Ressurreição, cheio de unção e reverência, ao lado da morte do Judas, da queima do Mal, onde a violência e o deboche correm soltos.

Nestes tempos atuais do mega-evento e da indústria da festa esse sentido ritual da celebração se perdeu e vivemos numa festa contínua, perpétua, “cheia de som e fúria”, talvez para não termos tempo de encarar os nossos problemas, que vão desde a violência e a intolerância coletivas até a solidão e a infelicidade individuais.

Como participar de uma festa que deveria ser uma ruptura, um desvio da norma mas que se torna quase uma obrigação, uma imposição social? Tente ficar em casa e não participar dos mega-eventos propostos a cada semana: você suscitará a desconfiança e a preocupação do seu grupo, que imediatamente vai julgá-lo deprimido ou com algum problema.

Vivemos nesse cotidiano onde vale tudo, onde tudo é permitido, onde não há limites; quando a festa chega, e chega a intervalos cada vez menores, nada mais temos para liberar, e sobra muito pouco para transgredir. Nessa festa contínua, na qual somos impelidos pela mídia a participar, ficamos tão ansiosos pela diversão que precisamos do ruído atordoante dos trios elétricos para abafar o grito desesperado do nosso coração, solitário e faminto de amor. Nessa festa perpétua, o riso está à beira da morte, a alegria senta-se na cadeira elétrica dos decibéis e a espontaneidade falece no limite dos abadás.

(Esse texto foi escrito há alguns anos, quando amigos preocupados sugeriram que eu estivesse deprimida por não estar afim de participar de um fuzuê desses).

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Formosa és

Clotilde Tavares | 15 de dezembro de 2009

Quando a gente vai chegando na meia-idade, e começa a se aproximar daquilo que supomos ser a viagem derradeira – digo supomos porque quem sabe se depois dessa ainda não haverá outras viagens, outras passagens? – começa a haver uma necessidade de passar as coisas a limpo, de pegar o rascunho da vida e dar-lhe forma e essência, conteúdo e continente, aparar os excessos, enxertar sentido naquilo que ficou vago, preencher as lacunas. Isso, penso eu, é uma tarefa feita mais para nós mesmos do que para os outros.

Então nesta semana, concluí e lancei – lançar no sentido de publicar, entregar ao público – mais um livro, disponível para download gratuito pela Internet.

Desta vez é o “Formosa és: memórias do internato”, texto que venho escrevendo desde junho deste ano, para que não se perca na memória essa fase da minha vida. Fiquei interna por dois anos, entrando com oito anos e saindo ao completar dez, no Colégio Nossa Senhora do Bom Conselho, na cidade de Bom Conselho, no Agreste pernambucano.

Os acontecimentos narrados no livro se passaram há 55 anos, tendo sido já depurados pelo filtro do tempo e da maturidade. Foi ruim? Foi bom? Digo somente que foi uma experiência, que deixou marcas. Mas é bom quando a gente pode se debruçar sobre o passado e ajustar contas com ele, fechando arquivos que estavam abertos e “desfragmentando” esse imenso HD a que chamamos memória.

Não tenho planos de fazer o livro em papel. Nem ele, nem os que pretendo ir lançando pelo mesmo método, à medida em que os for preparando. Afinal, o desejo do escritor é ser lido; se você mandar imprimir as cerca de 150 páginas do volume, terá gasto praticamente os mesmos 30 reais que pagaria  pelo livro impresso – ou menos. De quebra, eu me livro da noite de autógrafos, na qual estou sempre tão aterrorizada que mal sei o que estou dizendo a cada uma daquelas pessoas tão gentis que compram o livro e querem minha assinatura.

Então, aí vai o endereço: http://www.clotildetavares.com.br/formosaes.pdf

E para quem está curioso, o “Formosa és” do título é de um belíssimo hino a Nossa Senhora, tema musical daqueles dois anos que passei interna: “Formosa és, Rainha Imaculada,/ Fragrante lis, aurora divinal./ Se os olhos meus um dia te olvidarem, / Ó Mãe, então, recorda-te de mim.// Quero morrer cantando os teus louvores, / Qual rouxinol que expira ao pôr-do-sol. / Quando partida a minha pobre lira,/ Te cantará meu triste coração.”

Sou uma pessoa religiosa que não tem religião, e esse hino sempre consegue me transportar para as altas esferas, onde cantam os anjos e ainda ecoa a minha voz de menina.

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