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Natal: a festa da Fé

Clotilde Tavares | 24 de dezembro de 2009

Observo, com alguma surpresa, que o Natal já foi uma festa pagã, depois tornou-se cristã, e pelo visto está prestes a se tornar pagã novamente pela corrida desenfreada às lojas, pela substituição das igrejas pelos shopping-centers como lugares de celebração, e por ter se tornado para muita gente uma festa sem significado, sem reverência, sem milagre.

Há ainda um aspecto interessante. O Natal é antes de tudo uma festa de família, que desde o tempo do paganismo sempre foi comemorada em família, no interior do lar, em volta de uma ceia. Mas hoje em dia geralmente estamos cansados, estressados e cheios de obrigações de última hora. São as duras injunções da vida moderna, dita “civilizada”, que nos arrasta a esse torvelinho de compras de última hora, embalagens para presentes, confraternizações, amigos secretos e muita agitação no trânsito, aumentando o número de acidentes.

Não posso deixar de me lembrar dos natais da minha infância, quando não existia essa entidade chamada shopping-center em torno da qual se estrutura praticamente toda a nossa atividade natalina. Naquele tempo as coisas eram mais simples, menos sofisticadas. Quando criança, nunca me levaram para “ver Papai Noel no shopping” ou em qualquer outro lugar. Em Campina Grande, no início da década de 1950, coisas como essas eram distantes dos nossos festejos, e como Papai vez por outra estava desempregado, havia natais em que não adiantava colocar o sapatinho na janela do quintal porque o bom velhinho não vinha mesmo.

Mamãe, com sua sabedoria, contou a mim e a Bráulio que Papai Noel era o pai da gente mesmo, mas só quando havia dinheiro; e que se em um ano as coisas estavam ruins, era sinal de que no outro ano elas estariam melhores. Dessa maneira simples, nos ensinou a Esperança. E não sei como, dava um jeito de arranjar uns trocados e nos levava para “a festa”, que era como chamávamos o parque de diversões armado em toda a extensão da avenida Floriano Peixoto, a principal rua da cidade, com roda-gigante, carrossel e os pavilhões onde todos bebiam e comiam à vontade. Lá, dava algumas voltas conosco no carrossel e depois voltávamos para casa, ainda tontos e com os olhos cheios das luzes em redemoinho… Não havia ceia, nem presentes, mas estávamos felizes.

Hoje não é mais assim. As estatísticas mostram que na época de Natal há maior incidência de crises de depressão e de suicídios, principalmente entre pessoas idosas. Há uma condição já reconhecida na clínica chamada “Christmas blues” ou “depressão de Natal”. A pessoa sente-se triste, desamparada, desanimada, sem perspectiva. Os encontros de família contribuem para tornar mais intensos ainda esses sentimentos, e fica-se muitas vezes lembrando do que passou, mas não com aquela saudade boa e nostálgica, de quem “foi feliz sem saber”: ao contrário, a lembrança vem cheia de dor e solidão, de sentimento de perda irreparável, de profunda tristeza, de angústia extrema.

É por isso que tem gente que simplesmente “detesta o Natal”. Esta “depressão de Natal” tem alguns fatores desencadeantes: sentimentos de culpa por coisas mal resolvidas do passado, estresse e cansaço (isso acontece quando o freguês entra na maratona de compras-ceia-comemorações) e dificuldades com a família.

Como se defender da praga? Cuidar da cabeça, de preferência com ajuda profissional; minimizar as expectativas, não esperando de uma simples festa de Natal mais do que ela pode dar; procurar não se cansar muito fisicamente, comer e beber com moderação, pois afinal não estamos cobertos de neve para precisarmos nos empanturrar de calorias; ter tolerância e compreensão com a família reunida, e respeitar as esquisitices de cada um, não se envolvendo em disputas; não tomar resoluções drásticas e superiores às nossas capacidades; e, finalmente, permitir-se ficar triste e ter saudade, pois a tristeza e a nostalgia pelo que se foi são sentimentos naturais e devem ser experimentados, respeitados, aceitos e vivenciados.

Natal/2006.

Finalmente, lembrar novamente do Milagre. Sugiro a você, que está triste, que escolha o Natal deste ano como a festa da Fé, a festa do Milagre e a celebração da Esperança. Não importa o que aconteceu: se houver Fé na possibilidade do Milagre isso já é garantia de que o Milagre aconteça.

Feliz Natal.

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Comportamento, Cultura, Qualidade de vida
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Christmas Blues, depressão de Natal, Natal
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O milagre do Natal

Clotilde Tavares | 23 de dezembro de 2009

O nascimento de Cristo, por Piero della Francesca.

Uma das coisas que mais me agradam quando penso sobre o Natal é a idéia do milagre da virgem que deu à luz uma criança. Sou doida por milagres, e penso que eles são preciosos como reforço da Fé, condição indispensável para que o ser humano possa continuar com sua trajetória. Considero esse milagre do nascimento de Cristo um tema não só profundamente poético mas também riquíssimo de simbologia e interpretações.

Sobre esse caráter milagroso da Natividade, quem fala é Jacopo de Varazze, em “A legenda áurea”. Ele diz que o nascimento do Cristo foi milagroso “quanto ao modo de geração, pois o parto superou as leis da natureza por ter sido uma virgem a conceber; superou a razão, pois o gerado foi Deus; superou a condição da natureza humana, pois foi um parto sem dores; superou o normal, pois a virgem não concebeu de sêmen humano, mas de um sopro místico, o Espírito Santo, que tomou o que havia de mais puro e de mais casto no sangue da virgem para formar aquele corpo.”

A adoração dos Magos, por Giotto.

Citando Anselmo, Jacopo de Varazze diz que Deus mostrou um quarto modo admirável de criar um homem. Com efeito, “Deus pode criar o ser humano de quatro maneiras: sem homem nem mulher, como criou Adão; de um homem sem mulher, como criou Eva; do homem e da mulher, como de costume; e de uma mulher sem homem, como nesse caso maravilhoso do nascimento de Cristo.

Reforçando esse caráter milagroso, o Divino Nascimento foi anunciado por todos os tipos de criaturas, viventes e não viventes, desde a estrela, que brilhou no céu e apontou o caminho aos Reis Magos, o boi e o jumento que dobraram os joelhos frente à manjedoura e até “as vinhas da Engadia que produzem bálsamo, e que nessa noite floriram, deram fruto e destilaram seu licor”.

Que coisa linda, não é, meu caro leitor? É possível ficar indiferente a uma coisa dessas, sendo ou não sendo católico, cristão, ou ateu? Eu não consigo.

Amanhã, continuo aqui falando sobre o Natal. Volte.

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Cultura
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jacopo de Varazze, Legenda Áurea, milagre do Natal, Natal
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As origens do Natal

Clotilde Tavares | 22 de dezembro de 2009

Nesta época do ano, proliferam nos jornais, nas revistas e na Internet artigos, crônicas e escritos diversos sobre o Natal. Entre nós, cristãos e ocidentais, comemora-se nesta época o nascimento de Jesus Cristo, o filho de Deus.

Na verdade, meu caro leitor, o Natal é uma antiga celebração pré-cristã, ligada ao mito da esperança e do renascimento. Os povos antigos, nos países do Norte da Europa, faziam essa celebração coincidindo o solstício de Inverno, data em que a noite é mais longa e o dia parece que não vai mais amanhecer. Mas o Sol surge, renovando nas pessoas a esperança de que, com o fim do Inverno, venha a Primavera e a Natureza volte a desabrochar em flores e frutos. Na verdade, após o Solstício, os dias vão se tornando cada vez mais longos até que chega o equinócio vernal, em 21 de março, onde dias e noites têm a mesma duração.

Para marcar com exatidão as datas dos Solstícios e Equinócios, os povos antigos, depois de décadas de observação, faziam marcos de pedra. Acompanhando a projeção das sombras, conseguiam determinar os eventos astronômicos relativos ao Sol. O mais famoso desses marcos é Stonehenge, na Inglaterra, erguido cerca de 3.100 a.C.

Nas culturas antigas, da época neolítica, as últimas provisões de inverno eram cuidadosamente reservadas para serem consumidas no dia 21 de dezembro, data do solstício. Neste dia, os grupos familiares se reuniam e compartilhavam alimentos de grande valor energético como frutas secas e sementes buscando uma energia extra para suportar os últimos dias de frieza. É daí que vem o uso que fazemos desses alimentos até hoje nessa época do ano, mesmo que entre nós não seja inverno e que o calor de dezembro não recomende a ingestão de pratos tão calóricos. Comemos nozes, castanhas, passas e frutas secas porque tribos primitivas, que viveram há cinco mil anos, assim o faziam.

Não é curioso, meu caro leitor? Muitas das coisas que fazemos hoje em dia são aquilo que os estudiosos do folclore e da tradição chamam de “sobrevivências”, práticas e comportamentos que estão profundamente arraigados no DNA da Humanidade. Quando você enfeita a árvore de Natal, faz isso porque os povos antigos enfeitavam os carvalhos, que eles consideravam sagrados e que estavam despidos de folhas no rigoroso inverno europeu. Enfeitavam estas árvores para atrair de volta o espírito da natureza, que se pensava que havia fugido.

Com o surgimento do Cristianismo e a sua expansão pelo mundo, principalmente a partir do ano 313 d.C, quando o imperador Constantino converteu-se e adotou a religião cristã em todo o Império Romano, resolveu-se então estabelecer uma data para comemorar o nascimento de Jesus Cristo, tendo sido escolhida o dia 25 de dezembro por situar-se praticamente na mesma data em que a população já festejava seus antiqüíssimos cultos ligados ao solstício de Inverno.

Outras festas cristãs – como a Páscoa, o São João, o Dia de Todos os Santos – também foram estabelecidas da mesma forma, sobrepondo-se às festas pagãs já existentes, imprimindo a elas novas características ligadas à religião que nascia mas permitindo que costumes e práticas, relativas à forma de comemoração, permanecessem da mesma forma. Daí a alimentação especial, a árvore, a troca de presentes e outros aspectos de origem pagã que perduram até hoje. Muitos autores informam que o primeiro Natal cristão foi comemorado em Roma no ano de 336 d.C.

Amanhã continuo essa conversa sobre o Natal, falando do que mais gosto: a comemoração do milagre.

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Comportamento, Cultura
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história do Natal, Natal, origens do Natal, solsticio de inverno
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Formosa és

Clotilde Tavares | 15 de dezembro de 2009

Quando a gente vai chegando na meia-idade, e começa a se aproximar daquilo que supomos ser a viagem derradeira – digo supomos porque quem sabe se depois dessa ainda não haverá outras viagens, outras passagens? – começa a haver uma necessidade de passar as coisas a limpo, de pegar o rascunho da vida e dar-lhe forma e essência, conteúdo e continente, aparar os excessos, enxertar sentido naquilo que ficou vago, preencher as lacunas. Isso, penso eu, é uma tarefa feita mais para nós mesmos do que para os outros.

Então nesta semana, concluí e lancei – lançar no sentido de publicar, entregar ao público – mais um livro, disponível para download gratuito pela Internet.

Desta vez é o “Formosa és: memórias do internato”, texto que venho escrevendo desde junho deste ano, para que não se perca na memória essa fase da minha vida. Fiquei interna por dois anos, entrando com oito anos e saindo ao completar dez, no Colégio Nossa Senhora do Bom Conselho, na cidade de Bom Conselho, no Agreste pernambucano.

Os acontecimentos narrados no livro se passaram há 55 anos, tendo sido já depurados pelo filtro do tempo e da maturidade. Foi ruim? Foi bom? Digo somente que foi uma experiência, que deixou marcas. Mas é bom quando a gente pode se debruçar sobre o passado e ajustar contas com ele, fechando arquivos que estavam abertos e “desfragmentando” esse imenso HD a que chamamos memória.

Não tenho planos de fazer o livro em papel. Nem ele, nem os que pretendo ir lançando pelo mesmo método, à medida em que os for preparando. Afinal, o desejo do escritor é ser lido; se você mandar imprimir as cerca de 150 páginas do volume, terá gasto praticamente os mesmos 30 reais que pagaria  pelo livro impresso – ou menos. De quebra, eu me livro da noite de autógrafos, na qual estou sempre tão aterrorizada que mal sei o que estou dizendo a cada uma daquelas pessoas tão gentis que compram o livro e querem minha assinatura.

Então, aí vai o endereço: http://www.clotildetavares.com.br/formosaes.pdf

E para quem está curioso, o “Formosa és” do título é de um belíssimo hino a Nossa Senhora, tema musical daqueles dois anos que passei interna: “Formosa és, Rainha Imaculada,/ Fragrante lis, aurora divinal./ Se os olhos meus um dia te olvidarem, / Ó Mãe, então, recorda-te de mim.// Quero morrer cantando os teus louvores, / Qual rouxinol que expira ao pôr-do-sol. / Quando partida a minha pobre lira,/ Te cantará meu triste coração.”

Sou uma pessoa religiosa que não tem religião, e esse hino sempre consegue me transportar para as altas esferas, onde cantam os anjos e ainda ecoa a minha voz de menina.

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Bom Conselho-PE, Colégio Bom Conselho, Formosa és, internato, memorias do internato
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A protetora dos olhos

Clotilde Tavares | 14 de dezembro de 2009

Hoje, meu caro leitor, 14 de dezembro, é meu aniversário. A data me dá muita alegria, uma vez que estou viva, com saúde, em boa forma física, escrevendo e produzindo idéias no meu ritmo costumeiro, ou seja, a todo vapor. Mas como vivo falando de mim e todo mundo já sabe quem eu sou, hoje quero falar mesmo de outra pessoa, vizinha de data, e de quem por pouco não recebi o nome se tivesse nascido no dia 13. Refiro-me a Santa Luzia, a santinha de Siracusa, cruelmente martirizada pelo imperador Diocleciano.

A história está toda lá, na “Legenda Aúrea”, esta maravilhosa obra medieval editada em português pela Companhia das Letras. O livro conta a história de mais de 170 santos e foi escrita no século XIII pelo monge Jacopo de Varazze, chegando a ter mais edições do que a Bíblia e servindo de fonte de inspiração para milhares de sermões ao longo de séculos. Outra fonte de informações sobre Santa Luzia, no aspecto da tradição popular, é Câmara Cascudo, no seu Dicionário do Folclore Brasileiro.

Luzia, ou Lúcia, nasceu em Siracusa, Sicília. sendo de origem nobre, tornou-se cristã e resolveu consagrar sua vida a Deus, fazendo voto de  castidade e distribuindo seus bens aos pobres. O noivo, ofendido e irritado pela dilapidação da fortuna que um dia seria sua, levou-a à Justiça. O cônsul Pascácio foi o seu algoz, tentando fazer com que ela renegasse sua fé e oferecesse sacrifícios aos deuses pagãos, ameaçando-a com suplícios inenarráveis, queimando-a com fogo e óleo fervente e por fim degolando-a a fio de espada.

A tradição retarata a  jovem com vestes vermelhas, um manto verde, a palma do martírio e uma salva onde estão seus dois olhos, que ela própria teria arrancado para enviá-los a um homem que os elogiara, sacrificando sua vaidade pessoal e buscando com isso afastar os homens que pretendiam o troféu da sua virgindade. É a defensora dos olhos e invocada na doença desses órgãos. Tira qualquer tipo de argueiro e aos seus devotos promete uma boa visão até mesmo em idade avançada.

Curioso é que uma santa tão boazinha dê nome à terrível palmatória de castigo escolar e doméstico, denominada “Santa Luzia dos Cinco Olhos”, em alusão aos cinco furos da palma. Essa denominação é de origem portuguesa como explica Conceição Barros, na sua tese de mestrado em História da Educação, realizada na Faculdade de Letras da Universidade do Porto: ‘Este objecto de madeira era constituído por um cabo que terminava numa forma circular com cinco pequenos furos dispostos em cruz. A cruz fará alusão à cruz de Cristo e os cinco buraquinhos parecem representar os cincos sentidos corporais’.

No dia dedicado à Santa Luzia, 13 de dezembro, não se caça nem se pesca. Ainda segundo Cascudo, em história que lhe foi contada pelo pescador Chico Preto, um outro pescador irreverente , sem respeitar a tradição, resolveu pescar nesse dia: ao recolher a rede, achou-a cheia de peixes cegos que foram lançados de volta ao mar pelos pescadores aterrorizados. Ao chegar à agua, os peixes recobraram a visão, nadando para longe.

Durante muito tempo, na minha infãncia, a imagem da santinha era a última coisa que eu via antes de adormecer, em um quadro colocado de frente para a minha cama. Não recebi o nome, mas recebi a tradição e quem sabe por intercessão de Santa Luzia , a quem dediquei minhas rezas inocentes de criança é que eu tenho hoje esses olhos tão ativos, tão curiosos, tão videntes das coisas desse mundo e de quantos outros mundos existam por aí.

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palmatória, Santa Luzia
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A solidão e sua porta

Clotilde Tavares | 13 de dezembro de 2009

A SOLIDÃO E SUA PORTA

Poema de Carlos Penna Filho

Quando mais nada resistir que valha
a pena de viver e a dor de amar
e quando nada mais interessar
(nem o torpor do sono que se espalha),

quando, pelo desuso da navalha
a barba livremente caminhar
e até Deus em silêncio se afastar
deixando-te sozinho na batalha

a arquitetar na sombra a despedida
do mundo que te foi contraditório,
lembra-te que afinal te resta a vida

com tudo que é insolvente e provisório
e de que ainda tens uma saída:
entrar no acaso e amar o transitório.

Achei a imagem aqui.

O poema, achei no livro “Os melhores Poemas” – Global Editora – 1983

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A solidão e sua porta, Carlos Penna Filho
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Dez em matemática

Clotilde Tavares | 27 de novembro de 2009

Sempre gostei de Matemática e também sempre me saí bem nessa matéria, talvez porque nunca tenham me dito que era difícil. Aliás, meus pais me criaram dizendo que nada era difícil e que eu podia fazer o que quisesse contanto que me interessasse e tivesse dedicação. Por isso, quando entendi que muita gente achava a Matemática uma coisa dificílima e vim a notar que a maioria dos meus colegas de classe a detestavam, não adiantava mais: eu já gostava dela.

Parece disseminada a idéia de que quem gosta de matemática não tem temperamento artístico ou literário. E a maioria dos artistas e intelectuais afirmam, em tom brincalhão, que nunca foram bons alunos de Matemática. Quem gosta dela é considerado quase um prodígio e nenhum “dez” é mais importante e goza de maior status do que aquele “dez” que se tira na prova de Matemática.

Malba Tahan

A Matemática sempre me deixou maravilhada. Aos onze anos, no então chamado curso ginasial, que equivale hoje à quinta série, comecei a estudar álgebra que, junto com a Geometria euclidiana me deixava horas em êxtase, achando genial a idéia de que se pudesse substituir quantidades por letras, ou que duas retas eram paralelas se estivessem em um mesmo plano e não possuíssem qualquer ponto em comum. Depois, muito tempo depois, vim a saber que isso se aplicava apenas a esse mundinho corriqueiro do nossso dia-a-dia, e que matemáticos bem posteriores a Euclides, como Lobatchevsky, Riemann e outros, criaram seus próprios sistemas, diferentes do de Euclides, no qual as paralelas podem até se encontrar. Assim, foi possível entender fenômenos do infinitamente grande ou do infinitamente pequeno, fenômenos próprios das galáxias e dos átomos. Mas nada se compara para mim àquele alumbramento das compreensões inciais da ciência dos números.

Ajudou muito ter lido ainda menina “O homem que calculava”, de Malba Tahan, e “A Magia dos Números”, de Paul Karlson. O primeiro desses livros, conhecido da maioria daqueles que são da minha geração, é da autoria de um brasileiro, o professor Júlio de Mello e Souza (1895 – 1974), que criou esse pseudônimo de Malba Tahan porque acreditava, com razão, que os editores não investiriam em um escritor brasileiro iniciante. Além do pseudônimo ele criou também o personagem, do qual se dizia apenas “tradutor”, tendo dele “traduzido” inúmeros livros, com temática referente à cultura árabe. “O homem que calculava” é o seu livro de maior sucesso e foi traduzido para várias línguas, tendo vendido mais de dois milhões de exemplares somente no Brasil, onde já alcançou mais de quarenta edições. Quanto ao segundo livro, “A Magia dos Números”, saiu pela Editora Globo, de Porto Alegre, numa tradução de Henrique Carlos Pfeifer. Este livro conta a história da Matemática e dos homens que a fizeram. É maravilhoso.

Além do acesso irrestrito a esses e outros livros, afortunadamente nunca ninguém me disse que eu não podia, que era difícil, que a cabeça das mulheres não é boa para Matemática ou que os garotos olham com desconfiança as meninas que se distinguem nessa matéria. Tudo isso só vim ouvir depois, dito por outos pais que não os meus e compreendi que esses pais estavam somente passando para os filhos os preconceitos que eles próprios alimentavam em relação a esta disciplina.

Finalmente, considero que a Matemática serve não só para deslumbrar as meninas tímidas, esquisitas e sonhadoras – como eu era – mas basicamente para desenvolver capacidadea de pensar, raciocinar, resolver problemas, analisar, relacionar, comparar, classificar, ordenar, sintetizar, abstrair, generalizar e criar. A partir disso, do desenvolvimento de estruturas lógicas de pensamento, fica mais fácil adquirir novos conhecimentos em qualquer área e, também nos possibilita uma maior compreensão do mundo que nos cerca, favorecendo o exercício da nossa cidadania.

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Gosto não se discute

Clotilde Tavares | 26 de novembro de 2009

J.R.R.Tolkien

O escritor J.R.R. Tolkien faz o seguinte comentário no prefácio do primeiro volume do seu livro “O Senhor dos Anéis”: “Algumas pessoas que leram o livro acharam-no enfadonho, absurdo ou desprezível; e eu não tenho razões para reclamar, uma vez que tenho opiniões similares a respeito do trabalho dessas pessoas, ou dos tipos de obras que elas evidentemente preferem.”

É isso aí, caro leitor. Tem gosto para tudo e não existe nada no mundo que não possa ser apreciado por alguém. Além de ter direito de gostar, o cidadão tem o direito inalienável de expressar sua opinião, sendo esse direito um dos pilares da democracia.

Quando eu expresso meu gosto pessoal para você através deste blog, tenho que deixar bem claro que é o meu gosto pessoal. Se eu quiser comentar uma obra de arte qualquer de um ponto de vista que seja mais do que uma simples opinião, primeiro tenho que conhecer a linguagem daquela arte, para que possa analisar seus elementos e verificar se a obra – música, poema, livro, quadro ou peça de teatro – realizou seus objetivos, dentro da forma que o artista escolheu para se expressar. Aí, estarei exercendo uma função crítica que, apesar do que dizem alguns, é importantíssima para que artistas e público se aprimorem, os primeiros elaborando melhor suas criações e o segundo aprendendo a compreender melhor a obra de arte podendo assim desfrutá-la com mais prazer.

É muito bom ler as críticas de arte: cinema, música, literatura, teatro, pois além dos críticos nos mostrarem um lado ou uma faceta da obra que não tínhamos percebido, orientam nosso gosto e nos afastam daquilo que não tem valor artístico ou importância cultural, segundo os cânones vigentes. É claro que o crítico tem seu gosto pessoal e isso se traduz naquilo que ele escreve. Mas sua opinião sempre deve ser baseada no conhecimento da linguagem da arte em questão e na evolução histórica dessa arte. Nunca no simples “eu acho”.

Mas como gosto não se discute, e tem gosto para tudo, lembro aqui da história daquela mulher que era feia, muito feia. Mas não era qualquer feia: essa era feia mesmo, daquelas que são feias de doer. Pele áspera como a de uma laranja murcha, cabelos secos e sem cor, olhos sempre lacrimejantes, orelhas grandes e de abano, dentes amarelos e irregulares, boca torta, nariz  adunco. De corpo então nem se fala. O peito era chato, os braços compridos, as pernas finas e curtas, quadris estreitos e para completar mancava um pouco pois tinha uma perna maior do que a outra.

Pois bem: esse estrupício, mesmo com toda essa carga de feiúra, achou um homem que se apaixonou perdidamente por ela. E quando as pessoas perguntaram ao herói o que ele tinha visto naquela criatura horrorosa, o apaixonado galã, provando que tem gosto para tudo,  respondeu: “Gosto de tudo mas o que mais me agradou foi o jeitinho dela andar…”

367 pessoas já baixaram até agora o meu livro Coração Parahybano. E você? Dê-me o prazer da sua leitura! é de graça! É só clicar aqui.

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Cultura popular, seiva da Vida

Clotilde Tavares | 23 de novembro de 2009

Um dia desses recebi um e-mail de um leitor que me perguntou como era que eu, uma professora universitária, formada em Medicina, com pós-graduação e outros badulaques acadêmicos, tinha tanta afinidade com o folclore, com a cultura popular, com as coisas do povo. “De onde vem essa ligação, Clotilde?” perguntou-me o leitor. “Como você penetrou nesse mundo?” Em vez de responder, quero contar algumas coisas da minha infância.

Campina Grande, meados do século XX.

Passei minha infância em Campina Grande, na Paraíba, na década de 1950. Pela manhã, quando e meus irmãos saíamos da quentura da cama, depois de escovar os dentes e banhar o rosto com água “quebrada a frieza”, vínhamos para a mesa tomar o café com pão, manteiga, cuscuz, ovo frito e leite. Depois do café era a hora do banho-de-sol na calçada de casa, onde Papai, indo para o trabalho diário no jornal, se despedia de nós. Pedíamos a bênção e ele sempre respondia: “Deus te abençoe.” Mamãe conversava com a vizinha assuntos secretos que se encerravam quando um de nós se aproximava. “Comadre, olhe os meninos…” E se calavam.

Depois do banho-de-sol entrávamos em casa e o rádio era ligado no programa “Retalhos do Sertão”, da Rádio Borborema, onde os repentistas José Gonçalves e Cícero Bernardes cantavam sextilhas, glosavam motes e, no final do programa, invariavelmente, disparavam num galope-à-beira-mar ou num martelo-a-desafio de tirar o fôlego. A manhã se adiantava, o programa de rádio terminava e íamos brincar no quintal, onde passávamos o tempo a construir com areia, fragmentos de madeira, latas e caixas vazias uma fazenda completa com a casa grande, a casa de farinha, e os cercados e currais onde eram abrigados os bois e cavalinhos de barro que Mamãe comprava na feira.

Na hora do almoço comíamos feijão, arroz, carne assada, farofa de cuscuz. Verduras e saladas não faziam parte do hábito alimentar. Depois da refeição, havia “um docinho”, que podia ser doce-de-leite ou um naco de goiabada em lata espetado num garfo. Tirada a mesa do almoço e arrumada a cozinha, começava a brincadeira de desenhar.

Mamãe mandava comprar na mercearia da esquina uma folha grande de papel cor-de-rosa que era usada para fazer embrulhos e pacotes, e cortava essa folha em pedaços menores. Desenhávamos muito e eu tenho ainda viva na memória a lembrança da textura daquele papel rústico e macio, que eu cobria de renques e mais renques de árvores, todas diferentes c umas das outras, com ramos retorcidos e estilizados.

Angelim-PE

Ao lado da mesa, Mamãe sempre às voltas com a máquina de costura contava casos e histórias da sua infância, passada nas terras do meu avô, primeiro no sítio Boqueirão, no Cariri paraibano e depois na Broca, em Angelim, agreste de Pernambuco. Eram muitas as histórias e uma das que mais gostávamos era a do eclipse total do Sol, que havia pegado a todos de surpresa: a uma hora da tarde, sem que ninguém soubesse antes o que iria acontecer, o dia havia de repente se convertido em noite, fazendo os passarinhos endoidarem à procura dos ninhos e as raposas procurarem as tocas, deixando todos estupefatos, no meio do roçado, mergulhados na escuridão, distantes de casa quase uma légua.

Nisso se passava a tarde e, no fim do dia, banhados e trocados de roupa, tomávamos a nossa sopa de feijão ou o prato de xerém com leite, seguidos de tapioca e café-com-leite. Na boquinha da noite já estávamos de novo na calçada, brincando de roda, de toca, e das brincadeiras “de menina”: anel, berlinda… Papai apontava na esquina e corríamos para encontrá-lo e com ele entrar em casa onde o víamos jantar e depois sentar-se na espreguiçadeira da sala para ler e ouvir rádio.

Começava então a hora mágica das histórias de trancoso que não podiam ser contadas de dia sob pena de ambos, contador e ouvinte, criarem rabo. A noite era hora também da leitura dos folhetos, e ainda posso ouvir a voz de Mamãe recitando “O Pavão Misterioso”, ou “Juvenal e o Dragão”. Depois era hora de lavar os pés, tomar um copo de leite com açúcar e ir dormir, depois de rezar o “Santo Anjo do Senhor/ Meu zeloso guardador/ Se a ti me confiou/ A piedade divina/ Sempre me rege/ Guarda/ Governa/ E ilumina/ Amém.”

O sono vinha rápido cerrando nossos olhos e abrindo a cortina da mente para os sonhos, povoados de paisagens do sertão e de seus personagens, feras encantadas, fazendeiros cruéis e princesas prisioneiras, almas do outro mundo e bichos que falavam.

Então, não é questão de gostar ou não da cultura popular. Ela é o elemento fundador da pessoa que sou hoje, faz parte de mim, do que faço. Ela determina meu papel no mundo, e dela me vem, através dessas profundas raízes, a própria seiva da Vida.

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Campina Grande, cultura popular, folclore, literatura de cordel, pavao misterioso, santo anjo do senhor
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Santa Cecília, a música e meu neto

Clotilde Tavares | 22 de novembro de 2009
Santa Cecília

Santa Cecilia

Hoje 22 de setembro novembro, é dia de Santa Cecília e também Dia do Músico. Eu não sou lá muito chegada às coisas da religião formal, mas sou louca por milagres e pela vida dos santos. A história da santinha, que teria vivido nos primeiros séculos da era Cristã, em Roma, não difere muito das outras santas da mesma época. Prometida em casamento a um jovem da nobreza romana, Valeriano, conseguiu convencê-lo de que não podia entregar-lhe sua virgindade pois a havia consagrado a Deus. O noivo não somente aceitou o acordo, como converteu-se também, juntamente com seu irmão Tiburcio. O governador, sabendo da conversão dos dois rapazes mandou decapitá-los e irritado por ter Cecília entregue todo o tesouro da família aos pobres, mandou asfixiá-la no vapor fervente. Ao ver que ela saía ilesa, ordenou sua decapitação.

O sono de Santa Cecília, por Waterhouse.

Três golpes foram desferidos contra a jovem, que a feriram mortalmente mas não conseguiram separar sua cabeça do corpo. Ela tombou, e nessa posição ainda viveu três dias, aconselhando os que a procuravam, reafirmando sua fé em Deus e exaltando a conversão dos circunstantes.

A associação da santa com a  música vem do fato relatado pelos cronistas de que, durante os festejos do casamento ela, ouvindo a música executada, transportou-se aos elevados domínios epirituais reforçando mais ainda a sua fé em Deus. Dizendo melhor, seu caminho espiritual para Deus aconteceu através da música.

Lírio: o branco da pureza, o verdor da consciência, o odor da reputação...

Na Legenda Aurea, livro escrito no século XIII por Jacopo de Varazze e que conta a vida dos santos, eu vi que o nome Cecília vem de coeli lilia, ou lírio do Céu, e assim foi chamada pois tinha do lírio o a brancura da pureza, o verdor da consciência e o perfumado odor da boa reputação.

Para mim, Cecília é um dos mais belos nomes de mulher, e sempre me aborreci quando alguém o pronuncia “cicilha”, sem escandir as sílabas nem as vogais, “cê-cí-li-a”, como deve ser pronunciado. Cecília é o nome das filhas de dois grandes amigos: o jornalista Ciro Pedrosa, e o meu querido amigo André de Mello Lima, já falecido.

Sendo Dia do Músico, o dia também tem uma nota diferente, pois ambos os meus filhos, Rômulo e Ana Morena, são músicos, e eu mesma já fui durante alguma tempo, quando tentava me entender com um violoncelo no ínícios da década de 1970. A Medicina me levou para outros caminhos, mas o som aveludado do cello ainda me desperta fortes emoções.

Marcelo, neto e Rômulo, filho.

Este dia também é especial para mim pois é o aniversário de 10 anos do meu Neto, Marcelo Rodrigues Tavares, um menino lindo, inteligente e doce, em cujos olhos eu me vejo refletida sempre como muita alegria e gratidão ao Universo por ter me dado este privilégio.

Então é domingo, é dia de Santa Cecília, é dia do Músico e é dia de Marcelo. Um dia perfeito.

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